cap.001; a queda dos irmãos

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   Hospitais.
Jake odiava eles, os corredores eram muito brancos, o cheiro era muito nostálgico, a temperatura era sempre tão gelada ao ponto de congelar os ossos e esquentar a pele
Porém ele ia todos os dias até aquele lugar, com chuva ou com calor extremo.
Um ramo de flores falsas em suas mãos enquanto ele andava pelo extenso corredor branco, enfermeiras e médicos caminhavam pelo local, alguns o encarando de soslaio.
  Jake Sully era como um relógio ambulante; ele chegava todos os dias ao mesmo horário e ia embora ao mesmo horário.
Uns dias ele trazia livros, outros flores, outros algo para comer. Mas ele ficava no quarto por hora suficiente para seu companheiro não se sentir solitário.

-- É triste. _ uma das enfermeiras sussurrou para outra, os olhos levemente encolhidos de pena. - Ele vem todos os dias a seis meses... visita o amigo baleado e vai embora na mesma hora.

As enfermeiras ali observaram o soldado sumir pelo corredor e deixar nada além do branco.

   Dorian estava em coma a seis meses desde que a bala tinha se alojado em sua cabeça. Ele não se movia, não falava, não reagia. Porém Jake ia todos os dias até lá, observava as máquinas funcionando e deixando ele vivo, a única coisa que o deixava vivo era aquelas máquinas estúpidas que faziam barulhos irritantes.
Dorian uma vez fora alguém cheio de vida, algo que a guerra tirou dele.
Ele gostava de chá, mesmo dizendo que aqueles que bebiam parecia muito artificial, pois era, ele amava jogos de basquete, mas odiava o narrador, por isso deixava o volume sempre no mudo, sua cor favorita era verde e ele queria um dia conhecer Pandora, o enorme ecossistema vivo a anos luz de onde estavam agora.
Dorian adorava poemas, física quântica, música clássica e rock, ele era eclético, odiava armas, mas as portava como um demônio, ele tinha 1,80 de altura o que fazia Jake se sentir quase um gnomo ao seu lado. Enquanto Jake era o sentimento, Dorian era a razão. Sempre agindo por lógica, nunca por coração.
  Eles eram irmãos, embora Dorian nunca tivesse visto Jake dessa forma. E Jake sabia que Dorian amava homens, assim como amava mulheres, ele nunca deixou escondido essa afeição por ambos os sexos.
E ambos, por sua vez, viviam em harmonia.

  Entrando no quarto AA12 no fim do corredor, Jake sentiu o cheiro da limpeza extrema, se aproximando da cabeceira da cama ele retirou as flores plásticas sujas as jogando no lixo e pondo as novas no local.
Olhando pelo quarto ele viu tudo no mesmo local, a cama no centro, a porta de entrada, uma porta do banheiro no canto do quarto, essa que estava entreaberta, a cadeira confortável um pouco mais distante, algo que o fez andar até ela.

-- Queria que fossem de verdade, sabe? _ Jake balbuciou enquanto puxava a cadeira e se sentava perto da cama. - As flores, quero dizer. Sabe... Tom me mandou uma mensagem semana passada. Ele vai para Pandora daqui a alguns anos. Legal, certo? Ele diz que é algo sobre... avatares, ou algo assim._ batucou os dedos no canto da cama. - Queria você aqui... acordado. Poderíamos falar sobre isso, você sabe mais sobre Pandora do que os babacas do alto escalão.

  Jake se arrumou na cadeira, o corpo se inclinando suavemente para trás, as pernas se esticando em frente.
Sully se permitiu tirar um cochilo, sem nem ver o que ocorria ao seu redor ele dormiu em um sonho sem sonhos.

  Dorian estava preso em sua mente, seu corpo ia mudando, sua barba crescendo - ao qual Jake aparava sempre que via - sua pele ficando mais pálida a cada segundo que passava, porém ele ainda estava lá, em algo absurdo.

    Uma das enfermeiras entrou no quarto um tempo depois, Jake já havia ido embora deixando para trás as flores falsas, e Dorian tinha os olhos abertos observando o teto.
  O verde tão escuro observando o branco tão pálido e sem graça.

-- Doutor! _ a enfermeira correu para fora do recinto. - Ele acordou! O soldado acordou.

  O médico correu até o quarto, a prancheta sendo deixada no balcão, seu corpo parado em frente a cama observou o soldado.

𝗠𝗘𝗟𝗔𝗡𝗖𝗛𝗢𝗟𝗜𝗔  ; tsu'tey ✓Onde histórias criam vida. Descubra agora