cap.002; um ano de Dorian

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De pernas para uma esponja e veja andar, de a inteligência para um camelo e o veja prosperar.”

  Eu nunca vi uma esponja do mar, na verdade nunca nem vi um camelo ou muito menos um cão de rua… eles não existiam mais.
Então, ao meu ver, aquelas palavras em primeira instância me ofenderam, em segunda instância só me faziam mais leigo no assunto do que eu já era.
 
Porém Grace Augustine era, em meu pequeno meio de vista leigo, uma mente brilhante e gentil, embora firme e justa em suas tarefas pessoais e profissionais.
Aquela mulher era uma força da natureza, o caos, a chuva e o sol ao mesmo tempo. Ficar em sua presença era como correr uma maratona, e viver no limite, Grace Augustine era, sem sombra de dúvidas, a mulher cujo homens tinham medo e desejo.
Eu posso dizer isso, pois no momento que a vi senti a mistura de ambos.

  O projeto Avatar havia começado a anos atrás, quando Augustine era uma jovem cientista e ela tinha sonhos de finalmente conhecer Pandora e explorar aquele vasto ecossistema.
  Devo admitir que quando aquela mulher entrou no meu quarto de recuperação a um ano atrás foi como receber uma pancada de realidade, algo que me abriu os olhos para novos horizontes e conhecimentos, para um mundo tão grande e estruturado que eu nem sabia que estava ao meu redor e nem ao meu alcance.

   Em pé em frente ao grande tanque amniótico eu mal podia acreditar no que crescia em minha frente, deitado, como um feto dentro da barriga de sua mãe, estava um pequeno ser azul, um ser azul que consistia o DNA nativo de Pandora - DNA Na’vi - misturado com o meu DNA, um pequeno eu que crescia a cada pequeno segundo, bem em frente aos meus olhos que um dia a terra irão de comer.

-- É lindo, não é? _ olhando por cima do tanque eu pude ver o homem ao outro lado, e foi como mil pedaços de balas em meu cérebro novamente.

  Dizem que o destino é engraçado, na minha opinião ele era caótico e bagunçado. Era como se o destino estivesse pregando peças em mim, pois o que estava na minha frente era uma réplica exata de algo que a muito eu não via.
  Se destino ou universo, bem, eu não sabia, mas um deles estava brincando com minha cabeça.

-- É... bonito. _ balbuciei, piscando fortemente eu pensei que aquela miragem fosse sumir de minha vista.

  Mas o homem de profundos olhos azuis como o céu chuvoso sorriu para mim como se não fosse nada do outro lado, ele deu a volta no tanque tranquilamente, sem nem tirar os olhos do ser gerado ali.

-- Esse é o seu? _ apontou de modo descontraído para o ser dentro do tanque, concordei lentamente enquanto examinava seus passos.

  Passo a passo ele se aproximou, o sorriso e a adoração nunca saindo de seus lábios, como se aquele projeto, aquele ser dentro do tanque fosse a coisa mais preciosa que ele já tinha visto em vida, pois poderia ser.
  Esse estranho familiar parou em minha frente, sua mão foi estendida em minha direção, sua cabeça se inclinou com a mesma birra insistente que ele tinha quando servimos de brinquedos.

-- Sou Tom! _ se apresentou casualmente. - Tom Sully.

  Era claro!
Jake Sully, o pateta e irresponsável soldado do quarto batalhão tinha um irmão gêmeo. Não somente isso, ele tinha um irmão geneticamente igual, ou seja, cada parte que eu via na minha frente, cada palavra, cada pequena linha em sua cara era tão igual a de Jake que fazia eles serem pateticamente parecidos como clones geneticamente modificados.
  Obviamente Jake não me contou essa parte de ter um irmão, era um eventual: “meu irmão escreveu pra mim, estranho.” E nada mais era falado de sua família, não sua família real ao menos.

-- Dorian! _ apertei sua mão em forma de respeito, ele tinha mais frias e lisas, nada comparadas as quentes e esperas de Jake. - É um prazer.

Eu menti, não era um prazer, na verdade, era o desprazer mais enorme da história.

𝗠𝗘𝗟𝗔𝗡𝗖𝗛𝗢𝗟𝗜𝗔  ; tsu'tey ✓Onde histórias criam vida. Descubra agora