𝗠𝗘𝗟𝗔𝗡𝗖𝗛𝗢𝗟𝗜𝗔 ; tsu'tey ✓

cap.011; revelações

O ar pesado da floresta de Pandora envolvia a aldeia dos Omaticaya, carregado de tensão e incerteza. Jake Sully, em sua forma de avatar, caminhava cautelosamente pela aldeia, seu olhar voltado para At'ok, que estava sentado em uma clareira isolada, envolto em pensamentos. Jake sabia que havia muito em jogo. Ele já sentira a hostilidade dos guerreiros, especialmente de Tsu'tey, e a resistência do clã em relação à sua presença. Mas havia algo mais que o preocupava: a verdade sobre At'ok. O homem que outrora fora Dorian, um humano, alguém que Jake conhecia em sua vida passada.

Ao se aproximar de At'ok, Jake respirou fundo, preparando-se para o que sabia que seria uma conversa difícil.

— At'ok — disse ele, com cuidado, parando a poucos metros de distância. — Precisamos conversar.

At'ok levantou os olhos, observando Jake com uma mistura de curiosidade e confusão. Desde a chegada de Jake, havia um turbilhão de emoções dentro dele. Algo no homem à sua frente o fazia sentir uma conexão inexplicável, mas também o enchia de incertezas. Ele se sentia parte dos Omaticaya, conectado a Eywa e ao clã, mas a presença de Jake começava a provocar dúvidas sobre seu passado.

— Sobre o quê? — perguntou At'ok, a voz calma, mas com um tom de desconfiança.

Jake se aproximou mais, suas palavras cuidadosamente escolhidas.

— Você já se perguntou por que se sente assim? Por que sente que me conhece, mesmo sem saber de onde? — A voz de Jake era quase um sussurro, como se estivesse desvendando um segredo guardado há muito tempo. — Antes de se tornar At'ok, você era Dorian, um dos nossos. Um humano.

A declaração de Jake pairou no ar, carregada de peso. At'ok franziu a testa, sua mente girando com as palavras de Jake. Ele sabia que havia algo em seu passado que não entendia completamente, mas ouvir aquilo de Jake era como reviver uma ferida antiga. Ele sentia as memórias vagamente, mas nunca as encarara de frente. Parte dele não queria lembrar.

— Dorian — repetiu At'ok, testando o nome em seus lábios, como se fosse uma palavra estranha e distante.

Jake assentiu, dando mais um passo em direção a ele.

— Sim. Você era Dorian. Você era um dos soldados que veio Pandora, assim como eu era um soldado. Nós nos conhecemos, At'ok. Você fazia parte do nosso grupo, até que... tudo mudou. Você foi gravemente ferido, e o clã te salvou, te transformou em um deles. Eywa te deu uma nova vida. Mas você ainda é, de certa forma, aquele Dorian.

O conflito interno de At'ok era evidente. Ele sentia uma tempestade crescendo dentro de si. Aquele nome, Dorian, era como uma sombra que sempre estivera à sua volta, mas que ele nunca quis encarar. Ele pertencia ao clã, a Eywa, e não queria abrir mão disso. No entanto, as palavras de Jake ressoavam em seu coração, despertando memórias que ele não sabia se queria lembrar.

— Por que está me dizendo isso agora? — perguntou At'ok, sua voz tensa. — Eu sou At'ok. Eu pertenço ao clã.

— Eu sei que você pertence ao clã, e não estou tentando tirar isso de você — respondeu Jake, tentando manter a calma. — Mas há partes de você que você precisa entender. Eu só quero que você saiba quem você era, para que possa se conhecer completamente.

Antes que Jake pudesse continuar, Tsu'tey surgiu das sombras da floresta, os olhos brilhando de raiva. Ele havia ouvido a conversa, e sua expressão era de puro ódio.

— O que você pensa que está fazendo, Jake Sully? — rugiu Tsu'tey, avançando para frente. — Está tentando envenenar a mente de At'ok com mentiras dos povos do céu? Ele não precisa de suas palavras. Ele é um de nós!

Jake se virou rapidamente, levantando as mãos em um gesto de paz.

— Tsu'tey, calma — começou ele. — Eu não estou tentando envenenar ninguém. At'ok tem o direito de saber quem ele era. Ele merece conhecer sua própria história.

— História? — Tsu'tey cuspiu a palavra com desprezo. — Sua história é de morte e destruição! Ele não é mais um dos seus! Eywa deu a ele uma nova vida, uma nova alma, e você quer arrancar isso dele? Quer trazer de volta a dor e o sofrimento?

A tensão entre os dois era palpável. Jake sabia que Tsu'tey sempre fora contra sua presença, mas agora havia algo mais em jogo. Ele podia ver nos olhos de Tsu'tey que não era apenas desconfiança, mas também ciúme e possessividade. Tsu'tey via At'ok como um irmão, alguém que ele ajudara a salvar, e a ideia de que Jake poderia interferir nessa relação o enfurecia.

— Ele não vai perder nada, Tsu'tey — disse Jake, sua voz firme, mas controlada. — Ele precisa saber quem ele era para entender completamente quem ele é agora.

Mas Tsu'tey não queria ouvir. Ele avançou sobre Jake, agarrando-o pelo ombro com força e empurrando-o para trás.

— Você não entende nada! — gritou Tsu'tey. — Você já tirou o suficiente de nós. Não vai tirar At'ok também!

Jake se desvencilhou do aperto de Tsu'tey e, em um movimento rápido, empurrou o guerreiro de volta. O ato acendeu o estopim que ambos seguravam. Tsu'tey rugiu de fúria e atacou Jake, derrubando-o no chão com um golpe preciso. Os dois rolaram pela terra, trocando socos e empurrões, a raiva de ambos explodindo em uma luta física.

At'ok ficou parado por um momento, incapaz de reagir. Ele sabia que os dois estavam brigando por sua causa, mas a confusão em sua mente o paralisava. Ele queria afastá-los, dizer a ambos que não precisava lembrar de nada, que era feliz sendo At'ok. Mas algo dentro dele também ansiava por respostas, por entender o que estava enterrado em seu passado.

Os outros Na'vi na aldeia começaram a se reunir em torno da cena, seus murmúrios crescendo enquanto assistiam a luta. O caos se instalou quando os guerreiros começaram a se aproximar, prontos para intervir. Mo'at, a tsahik, veio apressadamente, sua expressão séria, enquanto Neytiri gritava para que ambos parassem.

— Parem! — Neytiri correu até Jake e Tsu'tey, sua voz forte e carregada de autoridade. — Vocês estão desrespeitando o que Eywa nos deu! At'ok é um de nós!

Tsu'tey, com a respiração pesada, soltou Jake e se afastou, seus punhos ainda cerrados. Ele estava ofegante, seu rosto cheio de raiva e desgosto. Jake também se levantou, com o rosto sujo de terra e suor, mas sua expressão era de determinação.

— Não estou tentando tirar nada de ninguém — disse Jake, com a voz mais controlada, mas ainda firme. — Eu só quero que ele tenha a chance de saber a verdade.

Mo'at se aproximou de At'ok, colocando uma mão suave em seu ombro. Seu olhar era calmo e compreensivo, como se estivesse tentando alcançar o coração dele.

— At'ok, você já tem tudo o que precisa aqui, entre nós — disse Mo'at, sua voz baixa, mas cheia de significado. — Eywa lhe deu um presente. Não há necessidade de voltar ao passado.

Os outros Na'vi ao redor começaram a murmurar em concordância. Para eles, At'ok era parte da aldeia, um presente de Eywa, e a ideia de que Jake pudesse tentar tirar isso dele os revoltava.

— Jake Sully quer roubar o presente de Eywa! — gritou um dos guerreiros, sua voz ecoando entre a multidão.

— Ele não pertence a nós! — exclamou outro, levantando a lança em protesto.

A raiva no clã crescia rapidamente, e Jake começou a perceber o quanto sua tentativa de ajudar At'ok estava se voltando contra ele. Ele não queria causar divisão, mas estava claro que a situação estava se deteriorando rapidamente.

Neytiri olhou para Jake com um misto de decepção e tristeza.

— Você deveria ter esperado, Jake. O clã não está pronto para isso. — Sua voz era suave, mas havia uma dor palpável nela.

At'ok, sentindo o peso de todos os olhares sobre ele, finalmente se pronunciou.

— Eu... — ele começou, hesitando enquanto olhava para Jake e depois para Tsu'tey. — Eu sou At'ok. Esse é o nome que Eywa me deu. Não quero esquecer o que sou agora.

Jake assentiu, compreendendo a escolha de At'ok, mesmo que fosse difícil aceitar. Ele queria que At'ok conhecesse seu passado, mas também sabia que não podia forçá-lo a isso.

Tsu'tey, vendo At'ok reafirmar sua identidade como parte do clã, relaxou os ombros, sentindo-se vitorioso, mas ainda com o olhar vigilante sobre Jake.

— Ele escolheu, Jake Sully — disse Tsu'tey. -- Agora vá para o seu povo.