★|Capítulo 4

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Um aroma inconfundível. O cheiro lhe lembrava uma floresta densa em dia de chuva, mas trazia uma sensação quente ao seu corpo. Como se pudesse se abrigar no meio da floresta.

Era o que Liam sentia antes mesmo de abrir os olhos. De novo, aquele perfume lhe fez sorrir, lembrando-se de um passado não tão distante. Quando os dias não eram uma tortura e não tinha que se esconder ou temer ser reconhecido por alguém na rua. Dias em que ele era apenas Liam, e voltar para casa era a melhor parte do seu dia.

Subitamente, ele deu um pulo. Tirou a blusa de cima do rosto e coçou seus olhos, se dando conta que já havia amanhecido.

⎯⎯haa...

"De novo essa blusa com esse cheiro" se levantou e foi até o cesto de roupa suja e jogou aquela maldita camisa. De todos seus perfumes e roupas, Simon tinha que acertar justo na blusa e no perfume de Hayashi. Já se arrependia de todas as lágrimas derramadas, e após ligar seu celular e ver as horas, o arrependimento se intensificou.

Até perderia seu tempo resmungando, se tivesse esse tempo. Liam estava mais que atrasado.

A madrugada foi longa entre choros e remorsos. Levantando-se depressa ele tropeçou em algumas coisas espalhadas pela casa e correu até o banheiro para fazer sua higiene. Enquanto escovava seus dentes o mesmo saiu do banheiro com a escova ainda na boca; pegou alguns livros e punha em cima do sofá ao lado da mochila pra não esquecer. Pegou também algumas cartelas de comprimido ao lado do abajur e pôs na bolsa, sua cabeça doía tanto que ele tinha certeza de que ela iria rachar a qualquer instante.

Voltou ao banheiro para terminar sua escovação, ainda pensando no que faria ao longo do dia.

Ao se olhar no reflexo, encarou a si mesmo. As olheiras horríveis, a pele seca e os lábios que começava a soltar casquinhas.

"Quem é você, e o que fez comigo?"

Não, aquele não parecia o Liam, mas, quem seria ele, senão um puto, fodido e com alimentação precária e hábitos péssimos?

Seja lá quem ele foi, isso não importa, afinal, é esse o qual ele encara, que precisa continuar apesar de todos os pesares, este é seu "novo eu"

"Quando foi que eu me perdi?"

Apagado, era o que ele continuava encarando, o tom opaco de azul. Seus olhos cansados, olheiras visíveis e um tom opaco de azul em suas íris. Uma visão deplorável de si mesmo, sentia que sua vida estava sendo sugada.

Não se reconhecia.

Passou a fumar, beber mais que o normal e a tomar remédios para dormir. As noites eram intensas com a culpa lhe perseguindo e somente a fumaça preta, lhe aliviava quando não se entregava aos calmantes.

Seu pai certamente teria vergonha dele se estivesse vivo. Era sua certeza mais humilhante. Dói um pouco pensar em algo assim, contudo, pode não ter sido tão ruim perder seu progenitor.

O velho e fechado Sr. Alencar, era do tipo que insistia numa mesma tecla até que a outra parte cedesse. E era como se Liam pudesse ouvir sua voz baixa e repreensiva soando:

"Eu avisei que alguém como você, todo cheio de não me toque, não acabaria de um jeito bom."

Entretanto, isso era só a sua culpa fazendo uso das palavras dolorosas que seu pai um dia lhe dissera.

Agora, como se isso fosse uma ilusão, ele varre para os confins da sua mente e veste a serenidade de sempre enquanto pensa positivamente:
"Só mais um pouco, preciso aguentar só um pouco mais."

A Blancer não seria o fim de sua vida. Ele iria se certificar disso.

Um suspiro longo. Um sorriso e olhos apagados. Ele já estava pronto para encarar a vida.

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