Capítulo 9

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Lauren Jauregui | Point Of View

Eu me encontro novamente naquele limbo de pensamentos, onde o silêncio da noite se encontra com o estrondo incessante das minhas dúvidas. A tempestade lá fora de alguma forma reflete a tempestade aqui dentro, ambas selvagens e imprevisíveis. Sem ver o relâmpago, sinto cada trovão vibrar através do meu ser, ecoando os medos e incertezas que lutam para dominar minha mente.

Nestas horas, a escuridão não é apenas uma ausência de luz. Ela é um lembrete constante do meu isolamento do mundo visual, um mundo que parece continuar a girar sem mim. Ser privada da visão me deixa à mercê de um turbilhão de emoções, tornando difícil discernir a realidade das sombras que dançam na tela da minha mente. Eu me questiono, como posso confiar nos meus sentimentos quando eles são tão facilmente influenciados pela escuridão que me rodeia? Como posso saber se o que sinto é real ou apenas reflexo da minha vulnerabilidade?

Nas noites como esta, minha mente vagueia para as pessoas em minha vida. Sem a capacidade de ver seus rostos, eu me preocupo se minha percepção delas é distorcida pela minha condição. Será que eu superestimo a bondade de alguém porque a escuridão me faz ansiar por luz, por segurança? Será que subestimo os outros porque a ausência de visão me torna excessivamente cautelosa, temerosa de ser enganada ou ferida?

Sinto-me perdida em um mar de dúvidas, incapaz de ancorar meus sentimentos em algo tangível. Eu me pergunto se minha cegueira me impede de ver a verdadeira natureza das pessoas, ou se, paradoxalmente, ela me oferece uma clareza que a visão não poderia proporcionar. Em minha escuridão, sou forçada a ouvir mais atentamente, a sentir mais profundamente, a confiar mais na essência das pessoas do que em suas aparências.

Mas nesta noite, essa perspectiva pouco faz para apaziguar a tempestade dentro de mim. Meu coração está pesado com a preocupação de que eu possa nunca entender completamente meus próprios sentimentos, que minha cegueira possa ser uma barreira intransponível entre eu e a verdadeira conexão emocional. Eu anseio por descanso, tanto para meu corpo quanto para minha mente atormentada, mas o sono me escapa, assim como as respostas para minhas incessantes perguntas.

Assim, eu me encontro presa nesta tempestade, entre o mundo que não posso ver e o mundo dentro de mim que parece tão obscuro quanto a noite lá fora. Eu busco pela calma, pela certeza, pela luz no fim deste túnel de dúvidas. Mas por enquanto, tudo que posso fazer é respirar através do medo e esperar pela alvorada, tanto a que trará luz ao céu quanto a que, espero, um dia iluminará as sombras da minha mente.

Lá fora, a chuva batia com força contra as janelas, cada gota uma nota em uma melodia desesperada que parecia orquestrar a inquietação em meu coração.

— Alexa… por favor me informe as horas? - Eu pergunto, minha voz ecoando no silêncio da noite quebrado apenas pela tempestade e pelo zumbido da tecnologia que me rodeia.

— São uma e quarenta e oito da manhã. - A resposta da inteligência artificial é imediata, mas nem um pouco reconfortante e um suspiro escapa dos meus lábios, um reflexo da frustração e exaustão que sentia.

A necessidade de aliviar a pressão dos pensamentos que giravam em minha mente como um carrossel sem fim era palpável. Deslizando meus pés em busca dos chinelos que eu sabia estarem esperando ao lado da cama, os encontro e os calço, um pequeno conforto em meio ao caos. Ao me levantar, sinto a movimentação ao meu lado. Leo, mais do que um cão guia, um companheiro constante em minha jornada através da escuridão. Sua presença é uma âncora, uma lembrança de que, mesmo na mais completa escuridão, eu não estou sozinha.

Com uma mão, eu o acaricio, sentindo a suavidade de seus pelos e a força de seu corpo. Ele se levanta, pronto, como sempre, para me guiar. Juntos, navegamos pelo espaço familiar da cobertura até chegarmos ao pequeno estúdio que montei para ser meu refúgio, meu espaço de criação e introspecção.

Love BlindOnde histórias criam vida. Descubra agora