Lauren Jauregui | Point Of View
Minhas pernas ardiam com o ritmo incessante, e o som da esteira rolante preenchia a sala ampla e arejada. Correr sempre foi uma forma de libertação para mim, um jeito de fugir dos meus próprios pensamentos, ainda que temporariamente. Mesmo cega, aprendi a me adaptar e criar um ambiente seguro para mim, e a academia que meu pai montou aqui na cobertura é o meu refúgio.
Era muito cedo, mal o sol começara a dar sinais de sua presença. Sentia a brisa matinal, fresca e renovadora, tocar meu rosto enquanto a transpiração escorria pela minha testa, colando alguns fios de cabelo na minha pele. A umidade do ar se misturava com o cheiro característico de borracha e metal, tão familiares para mim nesse espaço que se tornou um santuário.
Eu corria, respirando fundo, tentando colocar ordem nos pensamentos que me assolavam sem trégua. Camila... o peso desse nome em minha mente parecia crescer cada dia mais. Desde que revelamos nosso relacionamento, não só a alegria de estarmos juntas era palpável, mas também o medo, um medo frio e constante que me consumia por dentro.
As ameaças, sempre veladas, nunca diretas, mas igualmente aterrorizantes, rondavam como abutres. Eu sabia que minha posição e riqueza eram um farol para aqueles com intenções maliciosas, e o pensamento de Camila se tornar um alvo por minha causa me enchia de um terror que eu não conseguia expressar. Não seria eu a sua ruína. Corria na esteira, e cada passo era uma tentativa de afastar esse medo, de correr dele, mas sabia que não era possível fugir completamente.
Além disso, havia a tristeza de Camila, uma nuvem que se formou desde o dia em que ela enfrentou sua família. A rejeição que ela sofreu foi como um golpe que também me atingiu, porque embora eu não possa ver seu rosto, posso sentir cada vibração de sua dor através de sua voz, seus toques, seu silêncio.
Então eu corria. Corria porque, naquele movimento, naquele esforço físico, eu podia pelo menos tentar silenciar a cacofonia de medos, dúvidas e dores que me assolavam. Corria para, de algum modo, me sentir forte o suficiente para proteger Camila, para ser seu porto seguro como ela era o meu, mesmo quando tudo parecia tão incerto.
A cada passo, a cada respiração ofegante, eu enfrentava esses fantasmas, buscando na escuridão que era minha eterna companheira alguma luz, algum sinal de que, juntas, poderíamos enfrentar qualquer tempestade. Porque, no final das contas, eu corria por ela, por nós. E mesmo exausta, suada e cansada, eu sabia que não pararia - não enquanto pudesse lutar, não enquanto meu coração batesse tão forte quanto naquele exato momento.
Assim que o despertador toca, um tom suave e mecanizado preenche o espaço, cortando o ruído constante da esteira.
"Bom dia, Lauren. São sete horas e trinta minutos. O clima em Nova York hoje, vinte e quatro de outubro, é de parcialmente nublado com previsão de chuva leve pela tarde. A temperatura atual é de quinze graus Celsius."
Com um suspiro, desacelero a esteira até que ela para completamente. Tateio o suporte ao lado para desligá-la e alcanço a garrafa de água que havia deixado ali. A garrafa é fria ao toque, e o líquido refrescante desce queimando levemente pela minha garganta, saciando a sede intensa. Enxugo o suor de meu rosto com a toalha que também estava ao alcance, sentindo a textura macia contra minha pele.
Caminho cuidadosamente de volta ao meu quarto. Cada passo é medido, confiante; conheço cada centímetro deste espaço que é meu santuário. A familiaridade dos meus passos ecoa no piso de madeira, uma cadência que me guia seguramente pela vasta cobertura.
Chegando ao banheiro, me despojo das roupas suadas e dos tênis. A roupa cai em um monte desordenado no chão enquanto me movo para debaixo do chuveiro. A água fria primeiro me faz estremecer, mas logo ajusto a temperatura para um calor acolhedor. Deixo que a água envolva meu corpo, lavando o suor e a tensão dos músculos cansados. Quase duas horas de corrida exigem esse momento de cuidado e renovação.
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Love Blind
FanfictionLauren Jauregui após um trágico sequestro na adolescência, perde sua visão. Longe de se deixar abater por essa adversidade, Lauren se reinventa, utilizando a música como sua bússola para navegar na escuridão que agora define seu mundo. Sua paixão pe...