Capítulo 31

1.7K 231 170
                                    

Lauren Jauregui | Point Of View

Eu me deitei na mesa fria da máquina de ressonância magnética, com uma mistura de ansiedade e esperança agitando dentro de mim. Desde que perdi a visão, minha vida se transformou em um turbilhão de escuridão e adaptação. A rotina de exames médicos tornou-se um ritual, um caminho tortuoso que eu tinha que percorrer para alcançar a possibilidade de enxergar novamente.

As palavras do doutor Donavan ainda ecoavam na minha mente…

— A cirurgia pode devolver sua visão, mas precisamos garantir que você é uma candidata adequada. - Cada exame era um passo nessa direção incerta, e a ressonância magnética era um dos mais importantes.

Precisavam analisar minuciosamente meu cérebro e meus nervos ópticos para determinar se a cirurgia era viável.

O som monótono da máquina começou, reverberando ao meu redor como um tambor de guerra. Eu me forcei a respirar lentamente, profundamente, tentando não deixar a sensação de claustrofobia me dominar. Lembrava-me das técnicas que aprendi para lidar com o medo, a ansiedade que poderia se transformar em um pânico sufocante dentro daquele tubo estreito.

Meus dedos apertaram o lençol fino sobre a mesa. Concentrei-me no toque do tecido, na textura fria e lisa que parecia uma âncora na realidade. Pensei em minha mãe, que sempre me dizia para contar até dez quando estivesse com medo. Fiz isso agora, respirando fundo a cada número.

Um. Dois. Três. Quatro.

A máquina zumbia e estalava ao meu redor. Lembrei-me da última vez que vi o rosto da minha mãe, do sorriso caloroso que ela sempre me dava. Fechei os olhos, não que fizesse diferença, mas me ajudava a visualizar aquele sorriso, a segurar firme nas memórias que ainda tinha do mundo visual.

Cinco. Seis. Sete.

Imagens mentais de lugares familiares começaram a surgir. A casa onde cresci, o parque onde costumava brincar, a escola com seus corredores ecoando risadas. Mantive essas imagens como um escudo, protegendo-me da escuridão opressiva e do som constante e invasivo da máquina.

Oito. Nove. Dez.

Eu sabia que, embora não pudesse ver, meu cérebro ainda retinha essas memórias. Era como um filme antigo, um rolo de filme que podia rodar e relembrar. Cada detalhe era uma pequena vitória contra a sensação de confinamento, contra o medo crescente de que essa ressonância pudesse ser em vão, de que eu pudesse não ser a candidata ideal para a cirurgia.

O tempo parecia se arrastar, cada minuto uma eternidade. A máquina fazia mais ruídos, varrendo cada centímetro do meu crânio, cada parte do meu nervo óptico. Precisava acreditar que tudo isso tinha um propósito, que cada som ensurdecedor da máquina me aproximava um pouco mais da luz.

— Lauren, estamos quase terminando. Continue imóvel, estamos na última parte. - Finalmente, o som começou a diminuir, e a voz do técnico me alcançou através dos alto-falantes.

Respirei fundo uma última vez, agarrando-me à esperança. Estava quase lá, quase ao final deste exame. E, com sorte, mais perto do sonho de ver novamente.

A máquina finalmente silenciou, e senti a mesa começar a se mover para fora do tubo. O som da ressonância ainda reverberava em meus ouvidos, como se o mundo ao meu redor estivesse envolto em um manto de ruído distante. Inspirei profundamente, aliviada por ter terminado mais um exame.

— Lauren, vamos sair agora. - Disse uma voz suave. Era a enfermeira que me acompanhava desde a manhã, uma presença calma e tranquilizadora no meio de um dia cheio de incertezas.

Ela me ajudou a me sentar, e seus braços firmes me guiaram com cuidado para fora da sala de exames. Cada passo era um esforço, a exaustão pesando sobre meus ombros. O hospital tinha um cheiro peculiar, uma mistura de antisséptico e café velho, mas ali, no corredor, um perfume familiar e amado cortou o ar.

Love BlindOnde histórias criam vida. Descubra agora