Capítulo 20

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Camila Cabello | Point Of View

Sentada perto da janela do meu apartamento em Nova York, observo a vida agitada da cidade lá fora. É sábado à tarde, e o sol banha as ruas, convidando as pessoas a saírem e aproveitarem o dia. Vejo-as caminhando apressadas, algumas rindo, outras perdidas em seus pensamentos. É como se a energia pulsante da cidade se manifestasse em cada movimento.

Suspiro, sentindo-me desconectada daquela animação toda. Hoje, Ally havia convidado todas nós para conhecer a sua namorada em um festival no Brooklyn. Seria uma oportunidade perfeita para nos divertirmos juntas e apoiarmos a Ally, mas eu simplesmente não estou no clima.

Os acontecimentos do jantar na casa dos meus pais ainda ecoam na minha mente, deixando um peso no meu coração. As palavras não ditas, os olhares decepcionados... tudo isso me afeta mais do que eu gostaria de admitir. Parece que a sombra daquela noite paira sobre mim, roubando a minha alegria e disposição.

Eu queria ser uma daquelas pessoas lá embaixo, aproveitando a cidade, mas algo dentro de mim me prende aqui, à janela, observando a vida passar. Talvez seja o medo de enfrentar a realidade lá fora, ou a tristeza que me consome aos poucos.

Por agora, prefiro ficar aqui, sozinha com meus pensamentos, enquanto o mundo lá fora continua a girar. Talvez um dia eu encontre a coragem para me juntar a ele novamente, mas por enquanto, a solidão da minha janela é tudo o que consigo suportar.

À medida que a luz da tarde começa a desvanecer-se, mergulho ainda mais fundo nos meus pensamentos. Lembro-me de como cada palavra e cada olhar dos meus pais durante aquele jantar me golpearam como ondas inesperadas e frias. Eu já imaginava que a revelação da minha orientação sexual e do meu relacionamento com Lauren poderia não ser bem recebida, mas, no íntimo, mantinha aquele fio de esperança de que eles tentariam entender, de que seriam capazes de ver além dos preconceitos.

Afinal, descobrir-me e aceitar quem eu realmente sou foi uma jornada solitária e assustadora. Por muito tempo, vivi com uma venda nos olhos, negando a mim mesma a liberdade de explorar quem eu realmente era. O amor por Lauren foi um despertar, uma força poderosa que me fez ver a vida com novas cores, sentir com maior intensidade, viver com mais verdade. Ela me ajudou a tirar as vendas e, pela primeira vez, eu vi um caminho para a verdadeira felicidade.

Como eu desejava que meus pais pudessem ver isso também! Que pudessem perceber que, mais do que nunca, eu estava viva, vibrante e completa. Não era apenas sobre minha sexualidade, era sobre minha essência, sobre ser genuinamente feliz. Mas naquele jantar, tudo que encontrei foram rostos fechados, palavras cortantes e uma clara mensagem de desaprovação.

Agora, da minha janela, enquanto observo o crepúsculo pintar o céu de tons de laranja e rosa, sinto uma tristeza profunda por saber que o amor que me fez tão bem é o mesmo que agora me distancia dos meus pais. Questiono-me sobre quantas vezes ainda terei que escolher entre minha felicidade e o amor da minha família. E isso dói.

No entanto, sei que não posso renunciar a quem eu sou, nem ao amor que sinto por Lauren. Esse amor é um refúgio, uma verdade que salvou minha alma de anos de sombras. Mesmo com o coração pesado pela rejeição dos meus pais, há uma força em mim que me impulsiona a seguir em frente, a não desistir daquilo que finalmente me fez sentir completa. Por mais doloroso que seja, a cada dia que passa, entendo mais claramente que minha jornada para a felicidade talvez seja feita de muitas pequenas batalhas, inclusive dentro de mim mesma.

Por ora, fico aqui, com o coração saudoso, mas firme, sabendo que amanhã ainda estarei de pé, buscando no horizonte algo que me faça sentir tão viva quanto o amor que descobri. E talvez, um dia, meus pais possam ver o mundo através dos meus olhos e entender que tudo o que eu desejo é ser feliz.

Love BlindOnde histórias criam vida. Descubra agora