Capítulo 13

2.8K 304 111
                                    

Lauren Jauregui | Point Of View

A luz suave da manhã filtrava-se pela sala, ou pelo menos era o que eu imaginava enquanto meus dedos deslizavam pelas teclas do piano no Lincoln Center. O silêncio que me envolvia era apenas quebrado pelas notas que nasciam sob meus dedos, cada uma um reflexo das emoções tumultuadas que agitavam meu coração.

Eu estava ali, sozinha em um sábado de manhã, movida por uma inspiração súbita que me despertou com uma urgência quase física. Havia algo especial sobre aquele dia, uma promessa não dita que o ar carregava, algo que me fez correr para o piano antes mesmo que o mundo acordasse.

Minhas primeiras duas sinfonias haviam sido obras de introspecção e melancolia, nascidas de um período de minha vida em que dor, medo e frustrações eram meus constantes companheiros. Elas eram um espelho de minha alma naquela época, sombras musicais das tempestades internas que eu enfrentava. Mas hoje, enquanto meus dedos teciam melodias no ar, eu buscava algo diferente, algo que pudesse transcender a escuridão de meu passado.

Eu estava compondo minha terceira sinfonia, mas esta seria diferente. Esta era uma ode à luz que havia entrado na minha vida, uma luz que tinha nome, voz e um sorriso que mesmo sem poder ver com meus olhos, fazia meu coração bater em um ritmo diferente. Camila. Cada nota que eu tocava era uma tentativa de capturar a essência do que ela significava para mim, cada movimento uma dança das sombras de minha alma em direção à luz.

Estar cega nunca me impediu de ver o mundo à minha maneira, mas com Camila, era como se eu pudesse ver através de seus olhos. Ela me mostrou cores em tons de emoções, paisagens pintadas de sentimentos, e eu queria que minha música fizesse o mesmo por ela, que cada nota tocada fosse capaz de pintar um quadro em sua mente, de transmitir um fragmento do que eu sentia.

Sentada de frente para o piano, no silêncio quase sacro do Lincoln Center, eu me permitia ser vulnerável. As barreiras que eu havia construído ao longo dos anos, os muros que cercavam meu coração, tudo parecia desmoronar com a simples menção de seu nome. Camila era minha musa, minha inspiração, e esta sinfonia seria o meu presente para ela, uma confissão de amor em forma de música.

A cada acorde, eu me aproximava um pouco mais da verdadeira essência daquilo que eu queria expressar, da complexidade dos meus sentimentos por Camila. Era uma jornada de descoberta, não apenas da música que eu criava, mas também de mim mesma, da capacidade do meu coração de amar de uma forma tão profunda e transformadora.

Quando a sinfonia finalmente se completasse, seria uma celebração do amor em todas as suas formas, um lembrete de que, mesmo nas maiores adversidades, há sempre espaço para a beleza e para a transformação. E, no final, eu esperava que, de alguma forma, Camila pudesse sentir a magnitude do meu amor por ela, através das notas que compunham a melodia de nosso coração compartilhado.

À medida que mergulhava na composição, meus dedos encontravam seu caminho pelas teclas com uma facilidade que só anos de prática poderiam proporcionar. Cada toque era uma palavra, cada acorde uma frase em uma carta de amor que eu escrevia não com tinta, mas com som. A música fluía de mim com uma destreza que surpreendia até mesmo a mim mesma, como se a presença de Camila ali, em meu coração, me guiasse por entre as notas e harmonias.

O processo de transformar sentimentos em música sempre foi algo quase místico para mim, uma alquimia delicada que exigia não apenas técnica, mas também uma abertura emocional. Compor uma sinfonia, para mim, era como tecer um tapete intricado de emoções, onde cada fio era uma nota, cada cor, uma tonalidade diferente. A complexidade dos meus sentimentos por Camila tornava esse processo ao mesmo tempo um desafio e uma doce facilidade.

Eu começava pelo tema principal, uma melodia que capturasse a essência do que eu sentia. Era como chamar por Camila em uma língua que apenas nós duas compreendíamos, uma canção de chamado que ressoava nas profundezas de meu ser. A partir daí, eu construía, camada por camada, a estrutura da sinfonia, explorando variações do tema, contrapontos que refletiam as nuances de nossa relação, os altos e baixos, os momentos de certeza e aqueles de dúvida.

Love BlindOnde histórias criam vida. Descubra agora