Capítulo 23

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Lauren Jauregui | Point Of View

A brisa do outono acaricia meu rosto enquanto estou sentada em um banco no Central Park. Leo, meu cão-guia, repousa ao meu lado, uma presença constante e tranquilizadora. O parque é um oásis no meio do caos de Nova York, um refúgio onde posso esquecer por um momento as tensões e preocupações que me assombram.

Depois da discussão com Camila ontem pela manhã, eu precisava deste lugar. Precisava do ar fresco, do cheiro de folhas úmidas e da sensação de liberdade que apenas a natureza pode oferecer. Camila não entende, não completamente. Ela não vê como eu vejo ou melhor, como eu sinto. Desde o sequestro, desde que perdi minha visão, cada passo fora de um ambiente controlado é um exercício de coragem.

Não culpo Camila por sua reação ao saber da equipe de segurança que contratei para acompanhá-la todos os dias, a cada hora. Para ela, isso parece excessivo, talvez até invasivo. Mas ela não estava lá. Ela não sentiu o pavor absoluto de estar em completa escuridão, não apenas física, mas emocional e psicológica. A escuridão que agora define minha visão me forçou a ver o mundo de uma forma que a maioria das pessoas nunca verá com precaução e uma dose constante de medo.

Pedi a Owen, para manter a equipe de Camila discreta ao redor dela. Não quero aumentar seu desconforto ou sua raiva. Amo-a demais para isso. Mas também não posso dispensar a sua  própria segurança, minha própria paz de espírito. É um equilíbrio delicado, tentar proteger a nós duas sem sufocar, independente que tanto admiro nela.

Leo suspira ao meu lado, e eu passo a mão por sua pelagem. Ele não vê as complexidades das relações humanas, mas sente quando estou inquieta. Acho que, de muitas maneiras, ele entende mais sobre mim do que qualquer pessoa poderia ele entende o medo que não desaparece, a necessidade de sentir-me segura e de sentir que quem eu amo também está seguro.

À medida que os sons do parque filtram-se através do meu véu de pensamentos, permito-me apenas ser. Afinal, não é frequente que eu me permita simplesmente existir sem o peso da minha própria narrativa me puxando para baixo. Aqui, guiada pela natureza e por Leo, eu encontro um raro momento de paz, um breve respiro na tempestade da minha vida.

Se ao menos eu pudesse compartilhar este momento com Camila, talvez ela pudesse entender. Talvez ela pudesse sentir, através do meu relato, por que preciso destas coisas. Por que, apesar do amor que tenho por ela, minhas precauções são necessárias não só para minha segurança, mas para o meu coração.

Ainda sentada no banco do parque, envolvida por uma névoa de preocupação e incerteza. Desde que discuti com Camila, o silêncio entre nós tem sido ensurdecedor. Não trocamos uma palavra desde ontem pela manhã, e essa distância está me consumindo. Embora eu tenha vivido muitas experiências como mulher cega, enfrentar uma briga de casal é território desconhecido para mim. A sensação é desagradável, um turbilhão de emoções que me faz questionar cada decisão.

Eu nunca havia namorado antes de Camila, e nunca experimentei essa angústia, esse receio de perder alguém por não saber a maneira certa de agir após um desentendimento. Pergunto-me se deveria dar espaço a ela ou se deveria buscar uma conversa para resolvermos nossas diferenças. Qual seria o equilíbrio perfeito entre dar-lhe tempo para pensar e mostrar que me importo, que ela é fundamental em minha vida?

Leo, sentindo minha inquietação, encosta seu focinho em minha mão, buscando conforto. Afago suas orelhas, agradecida por sua presença constante. Ele me dá coragem para enfrentar o mundo, mas mesmo assim, sinto-me vulnerável e incerta sobre o que fazer em relação a Camila.

Deveria ir até ela? Mas e se ela interpretar isso como uma invasão do espaço que talvez ela precise? Por outro lado, o silêncio prolongado pode fazer com que ela pense que não me importo, que não estou disposta a lutar por nós. Essa dúvida me tortura, e percebo que parte do meu medo vem do fato de que ainda estou aprendendo a confiar em outra pessoa tão profundamente.

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