Capítulo 17

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Lauren Jauregui | Point Of View

A luz suave do sol da tarde não significava nada para mim, exceto pelo calor confortável que envolvia a sala de aula. Meus dedos deslizavam com facilidade pelo braile em minhas anotações, uma dança familiar que preparava o palco para a aula de hoje.

— Todos aqui? - Perguntei, ouvindo o murmúrio de confirmações e o som suave dos instrumentos se acomodando. — Ótimo. Hoje, vamos embarcar em uma jornada, não com os olhos, mas com os ouvidos e, mais importante, com o coração. - Com um sorriso, comecei. — A música erudita, como muitos de vocês sabem, é o sangue vital que corre pelas veias da história da música. De Bach a Beethoven, de Mozart a Mahler, esses compositores não apenas criaram obras-primas, mas também dialogaram com seu tempo, expressando alegrias, tristezas, tumultos e revoluções.

Fiz uma pausa, deixando a magnitude dessas palavras se instalar entre meus alunos.

— Mas a música, assim como a água, está sempre fluindo, sempre mudando. À medida que avançamos no tempo, novos estilos emergem, cada um falando à sua própria geração, mas sempre se apoiando nos ombros dos gigantes que vieram antes. - Caminhei cuidadosamente pela sala, guiada pelo som e pela presença de meus alunos. — Pensem no jazz. - Continuei. — Uma explosão de liberdade e expressão nascida das profundezas da alma americana. Ou no rock, uma rebelião eletrificada que definiu gerações. E o que dizer do hip hop? Uma crônica poderosa da vida urbana e um veículo para a mudança social. - Percebi a sala vibrar com a energia da discussão iminente. — Mas o que isso tem a ver com a música erudita e conosco, na Juilliard? Tudo. Porque a música é um diálogo contínuo, um rio que nos leva por caminhos inesperados. E como músicos, estudiosos, apaixonados pela arte da expressão sonora, é nosso dever não apenas honrar o passado, mas também abraçar o presente e moldar o futuro.

— Vamos pensar fora da caixa. Como podemos, como artistas do século XXI, aprender com o hip hop? Como a emoção crua do jazz pode informar nossa interpretação de Chopin ou Debussy? Como a estrutura do rock pode inspirar novas composições clássicas? - Encorajei meus alunos a discutir, a debater, a sonhar. — Hoje, não quero que saiam daqui apenas com fatos e datas. Quero que levem consigo perguntas, ideias, inspiração. Quero que cada um de vocês seja um rebelde, um inovador, um visionário. Porque é assim que a música cresce, como a arte evolui, como mudamos o mundo.

Ao final da aula, o ar estava carregado de possibilidades. Apesar de não ver seus rostos, senti a empolgação, a inspiração, a determinação. Naquele momento, sabia que havíamos feito mais do que simplesmente discutir música; havíamos acendido uma chama.

— Obrigada a todos. - Disse com um sorriso radiante. — Mal posso esperar para ver onde a música os levará.

À medida que a sala de aula se esvaziava, alguns alunos permaneceram, hesitantes, carregando em seus olhares silenciosos questões não formuladas. Percebi a presença deles, a respiração ligeiramente mais rápida, a inquietação palpável no ar.

— Como posso ajudá-los? - Perguntei, minha voz suave, mas firme, oferecendo o apoio de que precisavam para quebrar o silêncio.

Eles se aproximaram, um por um, compartilhando suas dúvidas sobre o trabalho que deveriam entregar. Para cada pergunta, ofereci não apenas respostas, mas também orientação, encorajamento, um caminho a seguir.

— Pensem nisso não como um obstáculo, mas como uma oportunidade de explorar, de se desafiar. - Aconselhei, minhas palavras pintando um quadro de possibilidades ilimitadas. Quando suas preocupações se dissiparam, substituídas por uma nova determinação, eles me agradeceram e se despediram, deixando a sala não apenas mais leve em espírito, mas também enriquecida em propósito.

Love BlindOnde histórias criam vida. Descubra agora