Capítulo 32 - O mundo como ele é ̶?̶

442 60 86
                                    

Izuku nem sempre gostou do escuro.

Havia uma época em que ele era apenas um pequeno ser inocente, pouco antes dos quatro anos de idade, mal se lembra do rosto de sua mãe, a voz dela já se perdeu em suas memórias há tempos. Ele sabe que o cabelo dela era verde, como o dele, mas não se recorda se era longo ou curto, enrolado ou liso, se tinha frizz ou não. Tudo isso foi perdido.

Mas havia algo que ele se lembrava como se fosse ontem, isso foi a felicidade que ele sentia quando estava em sua presença, a sensação de segurança e conforto. Ele sabia que poderia contar com ela.

Mesmo quando ela parava de ler histórias de ninar pensando que ele já estava dormindo, e fechava a porta de seu pequeno quarto infantil apenas para começar outra competição de gritos com papai.

A porta de madeira pintada em um tom cinza claro e calmante não era o suficiente para abafar os gritos que vinham da sala logo ao lado.

Essa sempre foi a pior parte. Porque estava escuro quando as coisas começaram a quebrar, coisas importantes que a mamãe amava, e, no dia seguinte ela diria a ele que foram doadas ou vendidas. Não o lixo, nunca o lixo.

Também estava escuro quando o papai finalmente perdia a paciência e gritava de volta para a mamãe em uma voz alta e exuberante que fazia seu pequeno corpo tremer e se enrolar em si mesmo.

Ele não se lembra das palavras usadas por ambos, com muito medo se escondendo debaixo das cobertas e o travesseiro com fronha do All Might por cima da cabeça em uma tentativa fútil de abafar o som agoniante dos gritos.

Era sempre assim.

Só parou logo após seu quarto aniversário.

Quando mamãe ̶f̶o̶i̶ ̶a̶s̶s̶a̶s̶s̶i̶n̶a̶d̶a̶ cometeu suicídio.

Foi estranho.

Izuku não sabia como se sentir.

Ele chorava por sua mãe pedindo para que ela voltasse a cantar para ele, colocar a comida em sua boca ou ler uma história.

Mas ela nunca voltava, era apenas ele e o papai.

Papai não sabia cozinhar muito bem, a voz dele quando cantava era estranha, e ele nunca conseguia colocar a entonação certa nas canções de ninar.

Mas ele estava sempre por perto.

Nunca tirou os olhos de Izuku por longos períodos de tempo.

Izuku sempre se sentiu inquieto quando estava com papai, era estranho, como se ele fosse um mero objeto ao invés de seu filho.

Ele não conseguia se lembrar das feições de seu pai, mas ele sabe que era algo fora do comum, ele sabia que nenhum pai jamais olharia para a própria criação daquele jeito.

Quando ele despertou sua individualidade, ̶t̶e̶l̶e̶c̶i̶n̶e̶s̶e̶ ̶ The Control Of a Demon, as coisas começaram a mudar.

Papai começou a desaparecer, no começo foi algo pequeno, apenas alguns minutos de cada vez. Até que esses minutos viraram horas, e essas horas viraram dias, esses dias viraram semanas. Izuku se viu batendo na porta da vizinha com fome com cada vez mais frequência.

Foram dois anos disso, a vizinha, uma mulher velha e doce, deu algumas broncas no papai por um tempo, até que ele passou a lhe dar dinheiro antes de sair dizendo que se ele estiver com fome era para comprar alguma coisa na loja mais próxima.

Porém, certa vez, papai ficou tempo demais fora.

O dinheiro acabou, e ele não poderia mais ir ver a vizinha pois papai o proibiu. Se ele fosse lá, ela brigaria com papai e papai descobriria que ele quebrou as regras.

E se Izuku tivesse uma quirk demoníaca?Onde histórias criam vida. Descubra agora