44. O Tiro - Parte II

66 13 58
                                    


Capítulo 44 – O Tiro (Parte II)


Abby


Preferi esperar que Butler se afastasse, ao mesmo tempo em que eu verificava se o cartucho da pistola estava cheio. Eu desejava muito que houvesse outra forma de solucionar isso, porque havia uma criança inocente que esperava nascer, crescer e viver normalmente. No entanto, a civilização tinha sido destruída por um vírus implacável e sem a menor possibilidade de cura, assim como a vida da soldado de 20 anos, que me encarava com uma expressão conformada em seus olhos.

Antes que eu disparasse ela atirou uma chave em minha direção, que peguei no ar e que guardei em um dos bolsos de minha calça cargo. Em seguida ela me explicou, entre gemidos e constantes ataques de tosse, que aquela era a chave que nos daria entrada para o arsenal que ela tinha montado para nossos grupos. O endereço estava escrito em um pedaço de papel preso ao objeto, para que nós não precisássemos nos preocupar em localizá-lo.

Assenti e agradeci por ela confiar a chave a mim e, quando levantei a arma, mantive-me a olhar fixamente para ela. Eu tentava transparecer uma expressão serena enquanto um balbucio de 'sinto muito' escapou de meus lábios, no segundo exato em que atirei.

O projétil a atingiu no peito com a máxima perícia que pude. Eu tinha planos de enterrá-la ou então de deixar para que Butler decidisse o que fazer, por esse motivo preferi não alvejá-la no rosto por uma questão de respeito. Depois que respirei fundo, que a desamarrei e que a coloquei deitada no chão enrolada em um cobertor que eu tinha encontrado, soltei os dois infectados que estavam famintos.

Minha intenção era tirá-los de perto da soldado o mais rapidamente possível, porque o que eu pretendia fazer com eles não era nem um pouco respeitoso. Não que eles fossem culpados pelo que aconteceu com Molly, mas como ambos já tinham se transformado, eu realmente não sentiria peso nenhum ao massacrá-los. E foi exatamente o que fiz. Assim que os libertei, corri para a sala de estar no intuito de atraí-los e ouvi que ambos vieram em minha direção, sedentos pela possibilidade de finalmente conseguirem uma refeição. No entanto, tudo que ambos obtiveram em resposta foi um letal encontro com meus punhos, ao serem aniquilados a socos e, posteriormente, a golpes que desferi com um cano de metal até desfigurá-los.

Eu me sentia frustrada por ter tido de matar uma garota e seu filho que sequer havia nascido, além de precisar descarregar toda fúria por não ser moralmente correto que eu desse uma surra em Scott Butler, embora fosse aceitável pelos soldados que ele constantemente me agredisse verbalmente e que, inclusive, fizesse diversas acusações sem fundamento contra mim.

Muito bem. Agora eu realmente tinha sido a responsável pelo assassinato da soldado Morgan, e nada nem ninguém mudaria isso. A culpa não poderia ser falsamente atribuída a mim porque, definitivamente, eu tinha colocado um projétil no peito dela sem sequer hesitar.

Mas eu precisava fazer o necessário não somente porque havia sido um pedido da garota. Eu fiz isso porque sabia que Meg não conseguiria matá-la, exceto quando Molly já tivesse se transformado. A sargento era alguém boa o suficiente, incorruptível demais para se sujar com sangue inocente dessa forma estúpida e brutal.

Em meio ao triste silêncio que me rodeava, encarei minhas mãos completamente sujas com o líquido rubro, além dos corpos ainda frescos dos dois rapazes que tinham sido contaminados anteriormente à soldado recém-morta e respirei fundo. Fechei meus olhos por alguns instantes para me acalmar e, quando me levantei e ajeitei a mochila às minhas costas, limitei-me a limpar ambas as mãos em minha calça cargo e dei de ombros, para que eu pudesse ter a força necessária para seguir em frente.

Tempo de Odiar?Onde histórias criam vida. Descubra agora