41. Águas Cristalinas

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Capítulo 41 – Águas Cristalinas


Abby


Permaneci por alguns minutos sozinha em meu quarto. A pistola continuava do meu lado, pousada no colchão macio da cama, e eu me mantinha em completo silêncio. Aqueles sujeitos me acusaram de ter cometido um crime do qual eu era inocente, mas mesmo que eu soubesse disso, não me considerava como tal. Havia inúmeras mortes em minhas costas para que eu simplesmente parasse de me importar com a soldado que misteriosamente desapareceu.

Ouvi o barulho do motor do iate, o que significava que Meg guiava a embarcação. Eu não tinha a menor ideia de onde ela nos levaria, mas imaginava que fosse para longe das pessoas de nossos grupos, especialmente dos Survivalists que continuamente me repudiavam. Suspirei com pesar, antes de pegar a pistola e de guardá-la dentro de minha mochila.

Só havia uma maneira de eu ser considerada inocente pelos indivíduos que me acusavam com tamanha veemência, inclusive espalhando pelo contingente de soldados acerca de minha culpabilidade: trazer Molly de volta. No entanto, como começar a procurar, se eu não tinha nenhuma informação, nenhuma pista sequer do paradeiro dela? Foi então que uma ideia me veio à mente, mas eu somente poderia colocá-la em prática quando retornasse para Key Biscayne.

Olhei em volta do pequeno quarto cuidadosamente arrumado por mim e tornei a suspirar. Lembrei-me do que meus pais diziam quando eu tinha uma atitude intempestiva ou agressiva anteriormente à epidemia: "Se você fizer algo contra alguém, um dia isso poderá se voltar contra você, Abby, pense bem em suas ações". Talvez eles tivessem razão, afinal de contas.

Eu matei diversas pessoas em um período de dois anos. Algumas mereceram morrer porque fizeram coisas que não seriam admitidas nem mesmo em uma sociedade com algum nível de civilidade, mas outras simplesmente foram emboscadas por mim e mortas de um modo que faria com que nem eu merecesse continuar a viver, embora eu não fosse do tipo suicida. De qualquer maneira, eu não teria a possibilidade de solucionar nada se ficasse me culpando ou me lamentando.

E talvez a única forma de eu obter redenção não somente com Butler – até porque ela já tinha me perdoado – mas também e principalmente com os soldados pertencentes ao grupo dela, fosse procurar por Molly até trazê-la de volta.

Deixei meu quarto e segui a passos largos para a cabine do iate. Enquanto eu caminhava pelo convés, observei a estonteante visão do mar calmo do estado da Flórida. Eu nunca tinha visto águas tão tranquilas, já que em Galveston nós tínhamos de lidar com constantes tempestades.

— Ei! — Aproximei-me de Meg, que parecia olhar atentamente para um ponto específico de um mapa enquanto comandava a embarcação. — Você não espera navegar com isso, não é? — Indaguei, em uma tentativa de soar divertida.

— Claro que não... — Ela soltou um riso contido. — Eu já sei pra onde vamos. — Comentou de forma misteriosa.

Eu respirei fundo e esbocei um sorriso. — Eu jamais tinha observado águas tão calmas.

— Sim, eu também. Mas segundo alguns viajantes com quem troquei itens semanas atrás, aqui também há tempestades.

Eu assenti em um movimento leve da cabeça. — E como tá essa ferida no seu pescoço? — Questionei, com evidente preocupação em meu tom de voz.

— Cicatrizando... Ainda. A doutora Foster fez outra coleta de sangue, vamos ver o que vai nos mostrar.

— A coleta anterior já não nos trouxe nada de diferente. — Eu respondi, ao me acomodar no assento do cocomandante.

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