Fly on, Voe

Capítulo 3

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Capitulo dedicado a minha amiga @savshelgs que está ficando mais experiente hoje! Felicidades! 

Boa leitura!

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Segunda-feira, 22 de junho de 2020

Leon

O que acabou de acontecer?

Estou há quase duas semanas em Buenos Aires, remoendo as minhas dores, praticamente fugido, prestes a regredir depois de meses de recuperação. Quando fui atraído por uma voz angelical, eu então constatei que anjos existem, talvez seja um sinal que eu tenha não só que mudar de ares, mas mudar o rumo da minha vida verdadeiramente... Mas anjos choram? Ou estou alucinando? Vou chegando perto e consigo ouvir além do choro, algo como risada, isso é estranho.

Que bobagem da minha cabeça não devia ser um anjo, não vejo suas asas. Gostaria realmente que fosse e que viesse resolver todos os meus problemas. Só que a razão de todos os meus problemas, sou eu mesmo e não sei se há conserto.

Era só uma garota chorando, constato um pouco mais de perto. Pensei em voltar atrás, mas algo me diz que tenho que ir falar com ela. A chamei e não me escutou então decidi tocar em seu ombro e a percebo levar um susto ao se dar conta que iria tocá-la.

Imediatamente me dou conta da burrada que estava fazendo, eram cinco horas da manhã ou seis, não tinha noção do tempo na verdade e inventei de falar com uma garota em uma área isolada desse parque. Com certeza iria pensar que sou um bandido ou algo do tipo, a reação poderia ser gritar e chamar a polícia para mim, e me meteria em mais confusão para variar. Mas estranhamente a reação dela foi outra. Ela me tratou com tanta naturalidade, depois do susto, se preocupando como eu estava, nem parecia que estava se acabando de chorar em alguns minutos. Até cheguei a pensar que me reconheceu, mas não. Se não é um anjo é uma garota muito estranha.

Toda aquela situação me deixava desconcertado, eu me sentia bem ali, como não me senti nas duas semanas que estou aqui, na verdade não sei quando em anos me senti tão bem, ou se algum dia me senti assim, tão leve. Mas por outro lado minha razão dizia que não devia me abrir, que não devia me apegar a nada nessa cidade, meu lugar não é aqui. Toda a minha vida está em Guadalajara. Preciso não fazer nada de errado em Buenos Aires, para merecer voltar e tentar consertar meus erros, por mais que alguns sejam irreparáveis, ou pelo menos tentar me desculpar e sofrer as consequências dos meus atos. E para isso tenho que manter as pessoas longe de mim, para evitar mais confusões e quem sabe antecipar meu retorno.

Mas todas essas convicções evaporaram. Eu nem mesmo conseguia olhá-la, só as palavras dela me traziam tanta paz que voltei a acreditar que ela era realmente, um anjo, me trazendo um recado do céu que minha vida devia tomar outro rumo.

Talvez esse tempo fora do olho do furacão seja bom, para colocar a cabeça no lugar. E me preparar para tudo que vou encontrar quando voltar.

Quando ela disse sobre querer conhecer o México, até me permiti imaginar estar com ela por lá, apresentar minhas praias favoritas. Era muito louco estar fazendo planos com uma completa estranha, que me fazia sentir tão bem, com só alguns minutos de convívio.

Até mesmo estar em silêncio perto dela era algo bom, poderia ficar o dia todo ali, mas meus planos foram interrompidos. Repentinamente ela pulou do banco e começou a se despedir. Idiota que sou não disse nada, só conseguia olhá-la e tentava decorar feições delicadas de seu rosto, porque seria a ultima vez que a encontraria e tinha que aceitar isso. Eu podia quebrar com aquele acordo, que ela fez só para não me deixar desconfortável, e perguntar seu nome, ou onde encontrá-la novamente. Mas não saiu nada. Talvez assim seja melhor, ela só seria alguém para eu magoar e pelo que ela falou não vai ficar em Buenos Aires por muito tempo assim como eu.

Me contento com a fantasia de que aquela foi a mensagem de um anjo pra mim e não de uma garota linda que nunca mais vou encontrar, nunca mais. A última opção é bem dolorosa, mas é a mais realista.

Quando penso em já estar só sinto lábios quentes selarem meu rosto. Estava tão perdido em meus pensamentos e processando tudo que tinha acontecido que não me virei, na hora. Eu podia ter transformado aquele beijo no rosto em algo mais prolongado, será que provar os lábios de um anjo me levariam ao céu e redimiria meus pecados?

— Se cuida— ouvi em um tom surrado nos meus ouvidos, quando enfim ia esboçar alguma reação, olho para o lado ela já não está mais ali.

Eu realmente encontrei um anjo.

E não me importo se foi tudo coisa da minha cabeça ou realmente aconteceu. Só sei da sensação que carrego dentro do peito e isso eu não quero perder.

Chego em casa, ou melhor na casa do meu tio e encontro-o na cozinha fazendo café. E resolvo colocar em prática os conselhos que acabara de receber, ele é tão bom comigo, não precisa que o trate com tanta indiferença.

— Ah Leon, você está aí? Bom dia! Chegou na hora certa, o café acabou de sair.

— Oi Pablo! Bom dia! Obrigado, mas acho que vou dormir primeiro, se não se incomodar.

— Claro que não, aqui você não incomoda, a casa também é sua. Não se preocupe que não estou aqui para te julgar. Mas quando estiver pronto para se abrir e conversar estou aqui pra você.

— Obrigado, tio! Desculpa por estar sendo um peso para você esses dias. Vou tentar ser melhor.

— Que isso rapaz, você não é peso nenhum. Só está passando um muito difícil, e às vezes para a gente se encontrar leva tempo. É bom ter alguma companhia novamente, é meio triste ficar nesse apartamento sozinho. Sentia sua falta sabia? Sei que passamos um tempo afastados, mas meus problemas com seu pai não deveriam ter afetado nossa relação. Você é meu único sobrinho e te considero pra caramba, cara. Muitas pessoas não veem, mas eu ainda vejo aquele garotinho de ouro dentro de você, só esperando para sair, e quando ele voltar avisa a ele que não vejo a hora de tirar um som com ele.

Dou uma risada, a tempo que não passava um tempo assim com ele, sempre foi meu tio favorito. Doeu muito quando ele partiu sem dizer adeus e nunca mais voltou. Talvez por isso que nessas duas semanas eu tenha evitado-o, mas como disse o anjo do bosque não devo criar barreiras, na verdade sinto que tenho que derrubar os muros que já construí. E vou começar agora.

— Tio em falar nisso. Será que a proposta de te ajudar na gravadora ainda está de pé? Sei que o pessoal não teve uma boa impressão de mim, mas quero te ajudar enquanto estiver aqui, para compensar pelo menos a estadia.

— Que isso Leon, já disse que você é de casa. Não precisa compensar nada, mas será muito bem vindo se quiser me acompanhar. Você sempre teve muito talento para a música, sua ajuda será mais útil do que imagina.

— Valeu tio! Posso começar amanhã? Estou cansado hoje e preciso dormir, mas amanhã cedo sem falta te acompanho no café para irmos juntos.

— Quando quiser, Leon! Vá no seu tempo, sem pressão.

Faço sinal com a cabeça em direção ao meu quarto. Mas parei ao ouvir meu tio falar comigo.

— É mulher, não é? De um dia pro outro você mudou repentinamente, ou melhor, milagrosamente. Está sorrindo, enfim tivemos um diálogo decente em anos, parece que alguém acendeu uma luz dentro de você, que estava apagada aí há um tempo.

Meneio a cabeça não nego, nem confirmo.

— Não vai me contar, mesmo? Com certeza é mulher.

Entrei rindo no quarto. A verdade nem eu mesmo sei se aquilo foi real.

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Agora sim, esse é o último capítulo narrado no dia 22/06/2022. Vamos ver quando a vida do garoto triste e do anjo do bosque se cruzam novamente...

Ah, só esclarecendo que apesar da história se guiar por datas, não se baseia nos acontecimentos conteporaneos, então não existe pandemia nesse universo.  Vamos focar só nos problemas dos nossos protagonistas, que já estão de bom tamanho.

E aí  me contem o que acharam da perspectiva do Leon?

Até sexta que vem!