Capítulo 7

18 3 21
                                    


Leon

Sexta-feira, 26 de junho de 2020

Terceiro dia seguido e nada dela aparecer, de novo.

É... perdi minha oportunidade quando tive.

Nem passou uma semana que resolvi levar um novo estilo de vida e já estou desanimado. A possibilidade de não vê-la mais talvez tenha um pouco a ver com isso. Trabalhar na gravadora é legal, principalmente quando posso acompanhar o processo de produção com o meu tio. Mas tenho bancado mais o office boy entregando documentos de um lado para outro e fazendo pagamentos em bancos e ainda de ônibus. Se ao menos pudesse ter uma moto, seria muito melhor, sinto muita falta da adrenalina, e talvez esse seja o problema.

O sol já nasceu, pelo jeito ela realmente não virá. Levanto cabisbaixo para ir para casa, ainda tenho que me arrumar para sair com o Pablo e não quero decepcioná-lo. Nessa convicção sigo em frente, mas sou interrompido quando esbarro em alguém.

— Gato triste? — sussurra.

É ela.

Hum ela me acha um gato bom saber, mas triste?

— Achei que eu era o garoto problema... — Ela corou violentamente, ao perceber que ouvi o que ela tinha dito.

— Você falou que era sinônimo de problema, eu só repeti o que disse. A verdade é que não acho que você seja tão problemático quanto você diz ser. Te achei triste, por isso perguntei como você estava. Inclusive hoje você parece bem mais disposto.

— Segui seus conselhos, obrigado, mesmo.

— Estava de saída? Poxa perdi o nascer do sol mais uma vez. Era para ser minha tradição aqui. — diz frustrada — Agora não tem mais jeito.

— Sim, estava voltando pra casa. Mas se aceitar minha companhia, posso ficar mais um tempo, garota do bosque. Podemos ter mais uma sessão como da outra vez.

— Garota do bosque? — ela ri do apelido. Seria "anjo do bosque", mas não vou me entregar a esse ponto.

— Claro que podemos, se não for te atrapalhar é claro. Foi bom saber que está melhor, e nossa sessão surtiu efeito. — ela riu, me fazendo rir junto. — mas ainda parece incomodado com alguma coisa.

— Como você faz isso? A gente nem se conhece e mesmo assim parece que lê a minha alma.

— Não sei, com você é fácil. — diz sem graça e muda de assunto — Como estão as coisas com seu tio?

— Muito bem, estou trabalhando com ele e tentando dar um rumo diferente para minha vida, mas o problema é o pessoal que trabalha com ele. Eu agi mal com eles e agora elas são indiferentes comigo e isso me deixa meio atordoado.

— Ei — ela toca no meu ombro e aperta em sinal de conforto — você não tinha que voltar para seu país para reparar seus erros, lá? Pense nisso como uma preparação para o que está por vir. Se agiu mal com alguém seja humilde peça perdão, tenta acertar as coisas com eles— Ela dizia olhando nos meus olhos, como se tivesse propriedade do que falava.

Como ela poderia me fazer tão bem e me trazer tanta paz?

Estava hipnotizado no brilho de seus olhos castanhos e não conseguia me mover, só admirá-la. Mas ela corta o contato visual e afasta as mãos dos meus ombros.

— São só conselhos. A verdade é que não sou a melhor pessoa para dar conselho a alguém, não tenho controle, nem sobre a minha própria vida.

— Ei, — levanto seu queixo a faço olhar pra mim, então percebo que estava um pouco abatida — saiba que seus conselhos me fizeram muito bem. Você é muito sábia para uma pessoa da sua idade. Você não sabe a diferença que aquele nosso encontro fez na minha vida. E para retribuir meus ouvidos estão prontos pra você. Garanto aquele negócio todo de sigilo, ou quer fazer aquele lance do choro da outra vez? Se quiser posso te deixar sozinha.

Fly on, VoeOnde histórias criam vida. Descubra agora