DEPOIS QUE EU TERMINEI COM VOCÊ

Fora de mim

A pessoa que vejo no espelho não sou eu. Essa garota tem olhos vermelhos e não verdes. O cabelo loiro está amassado, denunciando que ela tem passado tempo demais na cama. Ao contrário de mim, ela parece nunca ter aprendido o que é sorrir. Mas quando a vejo vestida com a camisa quadriculada dele percebo que essa garota triste do outro lado do espelho sou eu.

Já são três dias de puro sofrimento, minha vida tem se resumido a chorar e pensar no Cauã. Quando não estou dormindo, fico olhando para a foto dele na tela do meu celular. Ainda não criei coragem para entrar no facebook, não quero tirar meu status de relacionamento sério, no fundo estou com medo de entrar no perfil e ver as novidades. "Será se ele alterou o relacionamento?" – venho me perguntando, mas é melhor ficar com essa dúvida do que ter alguma certeza.

Tiro a camisa quadriculada que recobre o meu corpo, ontem dormi com ela para sentir ele perto de mim, seu cheiro ainda está impregnado no tecido e acho que por isso tive aquele sonho. Eu entrava na igreja , ele estava vestido em um terno cinza, o seu cabelo cacheado estilo anjo rebelde deixava ele mais lindo. Nada parecia existir ao redor, eu só enxergava ele. Um dia eu ouvi dizer que quando você sonha com alguém é porque aquela pessoa andou sonhando com você. Acordei pensando nisso e torcendo para que ele também tenha sonhado comigo.

Entro na banheira e ligo as torneiras. A água fria toca o meu corpo nu me fazendo estremecer. Olho para os meus seios e lembro-me de quando ele os tocava. Afasto esses pensamentos para longe, não quero pensar que ele não vá me tocar mais. Desligo as torneiras. A água recobre todo o meu corpo. Fico alguns segundos submersa, meus cabelos espalhados na superfície. "Quanto tempo eu consigo ficar debaixo d'água até me afogar?" – pergunto-me. Tenho uma gilete dentro do guarda roupa e penso em como a água ficaria vermelha se eu cortasse meus pulsos. Morrer aos poucos talvez seja doloroso demais, mas preciso parar com essa dor . "Se eu morresse, ele se arrependeria de ter terminado comigo?" – pergunto-me outra vez. Mas chego à conclusão de que se eu morrer, não terei a oportunidade de saber disso e nem de reconquistá-lo novamente. 

Sei que ele me pediu para não ligar; só que não posso desistir da gente.

Depois do banho, pego o celular. São quase 17:00 horas, outro dia sem ir a escola. Não me lembro de quando foi minha última refeição, agora sei que porque dizem que sofrimento emagrece. Esse horário ele deve estar em casa. Decido ligar. Meu coração acelera no primeiro toque. O segundo faz meu sangue sumir. Me ponho a caminhar pelo quarto enquanto continua a chamar.

- Oi – ouço a voz dele dizer do outro lado da linha.

- Onde você está? – não era pra eu ter perguntado isso, não quero pressioná-lo, mas era sempre isso que eu perguntava para ele quando nos falávamos pelo telefone.

- Não devo mais satisfação para você Aurora – o tom duro dele enche meus olhos de lágrimas. – Estou indo ao shopping, vou pegar um cinema.

"Como ele consegue viver sem mim?" – começo a me questionar, como ele pode seguir em frente sabendo que não vou estar mais ao seu lado?

É doloroso perceber que a pessoa que você tanto ama consegue viver sem você.

- Alô? – ele pergunta por não ouvir mais nenhuma palavra minha. Começo a chorar.

- Você está com ela? – pergunto em meio a soluços.

- Sim Aurora, a Carla está comigo. - ele diz calmamente me deixando furiosa.

- Você é um idiota – grito com ele – um merda, como você po.. – não consigo concluir. Ele desligou.

Vou até o guarda-roupa. Visto a primeira roupa que vejo. Desço as escadas correndo. Pelo barulho que ouvi, ele estava dentro do carro, se me apressar e tiver sorte, vou pegá-los na fila do cinema. Mamãe grita meu nome quando me ver passar feito foguete. Entro no carro. Estou completamente fora de mim, mas mesmo assim decido dirigir, minha casa é mais perto do shopping que a dele. Começo a imaginar aquela garota com o meu homem e quase invado o sinal vermelho provocando um acidente. Não sei como consegui chegar viva quando me vejo no estacionamento do shopping. Corro feito uma louca em direção ao cinema, algumas pessoas olham para mim assustadas. Vejo os dois na bilheteria. Quem me ver primeiro é ela. Ela diz algo para ele fazendo com que Cauã note minha presença. Ele está estupidamente lindo, ao contrário de mim, nem parece ter saído de um relacionamento recentemente

Ele parece não ter esperado que eu fosse até ali. Eu sempre fui pacífica, nunca esbocei ter comportamentos violentos, mas uma mulher magoada perde todas as noções de paz. Apresso o passo, ela percebe que estou indo em sua direção e tenta se afastar. Notando o que estou prestes a fazer, ele tenta me agarrar. Minhas unhas vão de encontro ao rosto dele fazendo com que ele saia do meu caminho. Carla corre, mas eu sou mais rápida. Agarro o cabelo dela e a derrubo no chão.

Ela tenta puxar o meu cabelo e antes que consiga, sou tirada do seu alcance por dois pares de braços fortes.