DEPOIS QUE EU TERMINEI COM VOCÊ

Ferindo

A voz de Cauã me pega desprevenida. Olho para ele e desisto de ser solta pelo garoto de olhos de esmeralda.
Os olhos do cara que eu amo estão trêmulos, noto os seus punhos se fecharem. Parece que tudo nesse momento está congelado, como se alguém tivesse apertado o pause nesse filme chamado minha vida.

- Será o que ele está sentindo agora? - me pergunto. - Será a mesma sensação que eu senti quando achei a mensagem no celular dele? Ou a mesma dor de ter visto os dois dançarem juntos em público momentos atrás?

No fundo espero que esteja doendo. No fundo espero que ele sinta a dor que eu venho sentindo desde que ele me deixou. Talvez ao sentir , ele perceba o quão é ruim sofrer e que eu sou o melhor para ele.

Sinto os dedos que antes me seguravam fortes perderem a força, mas permaneço envolvida nos braços do garoto desconhecido. Fito os dois pares de olhos verdes e perco a cabeça.

Minha mão envolve o pescoço branco e grosso dele, atraindo a sua face em direção a minha. Sinto os lábios dele tocarem os meus. Seu beijo tem um sabor bom, mas não consigo descobrir o gosto, pois alguém o tira de cima de mim.

Sou jogada bruscamente para trás. Firmo os pés no chão para não cair enquanto vejo o punho fechado do Cauã acertar o rosto do garoto de olhos de esmeralda. Os dois se atracam numa luta de rapazes e por um momento não sei o que fazer.
Ver o Cauã brigar por minha causa me dar um frio na barriga, mas essa não é hora para me sentir feliz. Grito por ajuda quando vejo dois rapazes quase entrando em um carro próximo. Eles vem correndo na minha direção. Olho para a luta e eles entendem o que minha súplica quer dizer.

Eles correm em direção a briga e consegue apartá-la.

- Eu não acredito que você fez isso comigo George - Cauã grita.

- Eu não fiz nada cara - George fala. - Foi ela quem fez.

George? - Então é esse o nome dele. Então os dois já se conhecem! - De onde?

- E o que você pensa que está fazendo Aurora? - Cauã volta a gritar, mas dessa vez é comigo - Beijando esse cara.

Olho para ele e lembro das palavras que um dia ele disse para mim e as repito:

- Eu não devo mais satisfação a você.
Não sei como consigo dizê-las. É como se a cada letra uma faca fosse cravada no meu peito. A vontade que tenho é de pular nos braços dele e beijá-lo.

Mas lembro de que ele terminou comigo e logo em seguida foi parar nos braços de outra garota.

Essa é a minha vez de pagar na mesma moeda.

- Você não ia me deixar em casa George? - pronuncio.

George vem em minha direção. Nossos braços se unem e entramos no seu carro. Nesse momento eu queria que o Cauã viesse na nossa direção, me tomasse dos braços do George e me levasse para a casa, mas ele simplesmente permanece parado me vendo entrar no carro de outro homem. Sento no banco do carona, coloco o cinto. George da a partida. Passamos pelo Cauã para pegar a rota 86 em direção a minha casa e é nesse momento que nossos olhares se cruzam. Apesar da briga ele está impecavelmente lindo e infelizmente permanece parado me vendo ser levada para longe.

George acelera e a cada segundo fico mais longe do cara que eu amo.

- Você está bem? - ouço ele dizer.

Lágrimas me impedem de responder. Toda força que tive para responder o Cauã, sumiu. A tristeza toma conta de mim e mais uma vez minha represa é rompida.

George permanece em silêncio todo o trajeto e o agradeço silenciosamente por isso. Não sei quanto tempo se passou até chegarmos até minha casa.
Desço do carro sem me despedir. Corro até a porta sem olhar para trás. Entro em casa e subo as escadas até meu quarto. Me jogo na cama e abraço meu corpo. Meu coração bate forte ao relembrar a cena do Cauã brigando por minha causa. Parece que alguém dentro da minha cabeça volta o meu filme para trás fazendo com que eu veja o Cauã dançando com a a Carla ... ele terminando comigo no parque ... eu encontrando a mensagem no celular dele ... nós sorrindo juntos .... nosso primeiro encontro ... todas essas cenas passam rapidamente , fazendo com que mais uma vez eu chore até dormir.