Rainha

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Saio dos braços do garoto de olhos de esmeralda. As pessoas olham para mim e estou completamente gelada. 

"Será se posso congelar todo mundo assim como a Elsa faz?"

Cinco passos e estou em cima do palco.  Mais três, estou no centro dele segurando um microfone. Meu olhar encontra o Cauã e a Carla. Parece que ao notar que os vejo, ela o traz mais para perto de si. Vejo um simples afastar dele, mas ela o puxa. 

- Eu realmente o perdi  - penso.

Estou trêmula. Meus olhos começam a lacrimejar, odeio quando isso acontece. Procuro palavras, mas não consigo achá-las. Meu olhar encontra a Ana, nos seus olhos vejo apoio, mas não consigo pronunciar sequer uma letra.

Olho para a multidão. Todos sabem que eu perdi o grande amor da minha vida. Quantos não torceram para isso acontecer? Claro! Existem pessoas que perdem seu tempo desejando que o relacionamento de outra pessoa acabe; e em relação ao meu, existiam várias.

Eu e ele fazíamos um casal perfeito. Lembrar disso faz com que um nó se forme na minha garganta.

O diretor que está mais ao fundo, tosse , me lembrando de que tenho que falar. 

Olho para o chão e em seguida para as minhas mãos.

Foco o olhar no microfone. Estou trêmula. Não vou conseguir falar com todos olhando para mim desse jeito. 

Decido fechar os olhos e pensar no Cauã. Apago todas as pessoas que estão agora nesse baile e deixo somente ele.

E digo:

- Você não sabe o quanto eu te amei e ainda te amo, não é? Se você soubesse, é claro que já teria voltado para mim! Passei cinco anos fazendo tudo ao seu lado e infelizmente eu não aprenderei a fazer nada sem você. Eu sei que eu sempre fui estúpida, grossa ás vezes, queria tudo do meu jeito ... eu sei ..não nego esses meus defeitos. Mas eu nunca fiz nada para perder você, não conscientemente. Queria que você soubesse que você é o cara que eu amo e que sempre vou amar. Eu desisti dos meus sonhos para ficar do teu lado ... e ter ver ao lado de outra garota é insuportavelmente difícil. Ela é melhor do que eu? Ela te faz rir com piadas bobas igual eu fazia? Ela te atura falar de como o jogo foi bom? Talvez. Mas ela nunca vai amar você como eu amo, ninguém vai te amar. Porque o que eu sinto é inexplicável, é grande, é puro e em primeiro lugar é verdadeiro. Eu nunca te pedi nada antes. Mas agora eu te peço: "volta pra mim".  

Mas não é isso que falo quando abro os olhos. Da minha boca , o que sai é:

- Eu não quero ser a rainha do baile. Esse título serve para quê? Só para ter a foto com a coroa no álbum anual da escola. Existem garotas que passam o ano inteiro lutando para estarem aqui. Mas eu digo a todas vocês: - esse título não vale nada. E por ele não valer nada, eu quero que todos e todas votem na Carla. O título combina com ela, os dois valem a mesma coisa. - Respiro. Olho para ela e para o Cauã e continuo - Combina com o novo casal da escola. Sejam felizes. 

Ouço um "UUuuuuh!!" vindo de algumas pessoas enquanto desço as escadas que me levam do palco para o salão. 

- O que você pensa que fez garota! - Ana me recebe com mais dos seus sermões. - Eu não acredito que bolei milhões de planos, para você jogar tudo pro alto dessa maneira. Não , não. Você não fez isso. - sinto sua mão no meu antebraço.

- Está feito entendeu! Está feito - grito - E me solta que você está me machucando. - olho para ela e digo o que estava engasgado - Eu nunca quis estar aqui Ana, é culpa sua. Eu não pedi para você me escrever para concorrer a droga de rainha de baile. 

A deixo perplexa no meio da pista e saio em direção á saída. As pessoas se afastam para me deixar passar. Escuto um: "mandou bem garota". Em outra ocasião eu sorriria, mas nesse momento quero ir pra casa, pro meu quarto. 

Vou até o estacionamento da escola. Procuro meu carro, mas aí lembro que viemos de táxi. Pronuncia mais um "Droga!". Sento no meio fio próximo e começo a chorar. 

"Será se foi assim que a Cinderela se sentiu depois de perder o seu sapato de Cristal e ver a carruagem virar abóbora novamente?" - me questiono.

Ao menos ela fica com o príncipe no final. Já eu - rio -  perdi o meu para outra. E quer saber? Já estou bem grandinha para ficar pensando em contos de fadas.

Volto a realidade. Quando alguém me pergunta: 

- A princesa quer uma carona pra casa? 

Olho para cima e vejo o cara de olhos de esmeraldas na minha frente.

- Você - digo.

- Sim, sou eu. - ele diz.

Sou pega de surpresa quando ele senta ao meu lado e me abraça. Não sei o que me faz colocar a cabeça no ombro dele. Sinto o seu braço me envolvendo e seus dedos acariciando meu ombro nu. Me sinto protegida nesse momento. Volto a chorar. Ele diz:

- Xiiiii! - mas não consigo estancar as lágrimas. 

- Eu sou uma idiota - digo a ele.

- Sim. Você é uma idiota. - enxugo as lágrimas e direciono um olhar questionador a ele. Levanto-me e decido sair dali. Ponho-me a caminhar sem rumo. Será se todos os homens da face da terra se voltaram contra mim? 

- Eeeeei - ele grita, mas não paro. - Eu estava brincando garota. - o ouço dizer perto de mim. Ele me alcança e me me agarra. Ele tem um toque áspero e forte. Sinto um arrepio percorrer meu corpo. 

- Me solta garoto. - falo - Você me chamou de idiota. 

- Já disse que eu estava brincando - ele ri - Eu só falei aquilo para você para de chorar - mais risos.

Tento me desvencilhar dele, mas é em vão. 

- IDIOTA - grito.

- Eu sei que sou Idiota. - ele não para de rir - Não é assim? Para as mulheres todos os homens são idiotas. Você não disse nada que eu não sei.

- ME SOLTA - tento fazer minha voz sair ainda mais alta.

Ele me envolve em um abraço apertado e diz no meu ouvido:

- Mas serei o idiota a te levar pra casa - suas palavras não são mais com ar de brincadeira. Ouvi uma voz rouca e séria. Senti seu lábio na minha orelha ao dizer - casa - e mais uma vez nessa noite ele fez meus pêlos eriçarem - se. 

Decido dar uma joelhada nele, mas a voz de alguém dizendo:

- Solta ela seu imbecil.

Me faz desistir de fazer com que o cara dos olhos de esmeralda me solte.

Olho em direção para a voz que falou tantas vezes que me amava. Cauã está parado a alguns metros de distância e dessa vez não é ele que está nos braços de outra pessoa.

Dessa vez sou eu. 


DEPOIS QUE EU TERMINEI COM VOCÊOnde histórias criam vida. Descubra agora