De volta

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Ainda estou perplexa com tudo que vem acontecendo na minha vida. Um turbilhão de mudanças em um pequeno espaço de tempo. Perdi meu namorado, fui a rainha do baile da escola e para piorar me envolvi com o primo do cara que eu amo.

Não sei mais o que fazer. Até a relação com minha melhor amiga está abalada, sei que tudo o que ela fez foi para me ajudar, mas não consigo parar de culpá-la pelo meu envolvimento com George.

Estou com medo de o Cauã não voltar para minha vida por ter me visto beijar outro cara.

Mas o que é isso? Ele me trocou por outra garota. Ficou com ela ainda estando comigo. Como posso me martirizar? Pensar que ele ainda pode ser meu, mesmo depois de tudo. Eu não sou a culpada.

“A vida segue”, não é isso o que dizem?

Queria que fosse realmente fácil seguir em frente. Olhar para o futuro sem pensar no passado e temer o presente.

                         ¤ ♡ ¤

Meu uniforme parece ter crescido alguns números. Porém não foi isso que aconteceu. Emagreci. Abaixo dos meus olhos, duas bolsas enormes foram fixadas. Eu estou horrivel. Toda beleza e glamour que me acompanharam atém o baile da escola parecem ter sumido para outra dimensão.

Pego minha bolsa e desço as escadas. Tomo um café rápido cabisbaixa na intenção de não dar motivos para meus pais me interrogarem. Mesmo me sentindo a pior garota da face da Terra, hoje é o dia de voltar para a escola.

Papai me oferece carona, a qual prontamente recuso. Ele franze o cenho e resolve me deixar em paz. Entro no meu carro e sigo em direção ao meu ninho particular de serpentes.

Entro na aula de Literatura sem fixar o olhar em algum lugar. Como já estamos no final do ano , a senhora Elisa está revisando o modernismo. Ouço algo sobre a semana de arte modena e Tarsila do Amaral, mas estou perdida em pensamentos.

A sirene toca. Alguns alunos saem da sala para irem para suas respectivas disciplinas escolhidas. Demoro-me sentada na carteira na tentativa de sair somente quando os corredores estiverem vazio, só que a presença de Ana na porta da sala me faz perceber que terei que enfrentar o olhares de toda a escola.

- Achei vocẽ Boreal – ela diz. Retribuo sua saudação com um arquear de sombrancelhas seguido de um riso sem graça. A próxima aula é de Biologia e Ana cursa a disciplina comigo, sei que  nenuma desculpa fará com que ela não me arraste porta a fora.

A senhora Elisa me encara questionadoramente. Sorrio a ela e levanto-me. Sigo em direção a Ana e digo “Olá” , “você está preparada” ela me diz , “não” , respondo.  

O corredor está lotado de garotos e garotas guardando ou pegando algo em seus armários. Alguns deixam objetos caírem, outros param suas ações para me fitar. Parece que minha aparição no baile da escola não serviu para apaziguar as curiosidades sobre minha pessoa.

Mesmo trêmula sigo o meu caminho. Torço para que o Cauã não esteja na sala. A cada passo eu peço a deus que ele não esteja lá. Não saberei como agir. Sempre sentávamos juntos nas aulas de Biologia. Diminuo o passo para que Ana seja a primeira a abrir a porta. Ela para na soleira e me direciona seu olhar inquisitivo, permaneço calada … e como se entendesse minhas súplicas silenciosas ela roda o trico.

A porta se abre e o olhar dele e o meu se cruzam. Meu coração acelera. Acho que vou desmaiar. Não consigo segurar o olhar e a nossa ligação é desconectada. Entro na sala e sento no final da primeira fila, daqui ele não pode olhar para mim sem virar para trás. Só eu terei a chance de vê-lo sem que ele perceba.

A aula parece nunca terminar. Não consigo me concentrar a nada que o professor diz. Passo os 60 minutos olhando a todo o momento o relógio. Uma hora parece ter se transformado em uma década.

A sirene toca e eu me levanto rapidamente. Sinto que alguém está no meu encalço. Penso ser Ana, mas mesmo assim decido não parar.

Dobrando os corredores em disparada, trombo em alguns jovens sem deixar que parem minha caminhada. A escola parece ter mudado. Mas é só meus neurônios cansados demais para estabelecerem um mapa mental. Paro em frente a biblioteca e entro. Pelo menos aqui posso ficar sozinha por alguns instantes. 

Cumprimento o bibliotecário e entro na seção de Geologia.

Espirro devido a poeira dos livros. Ouço passos e aguardo um “saúde” vindo de algum lugar, mas o “precisamos conversar” vindo dos lábios de Cauã me fazem derrubar o livro que estava tirando da estante.

DEPOIS QUE EU TERMINEI COM VOCÊOnde histórias criam vida. Descubra agora