Por três anos, Lúcifer e Alastor se tornaram amantes. Anos depois, após o reencontro proporcionado por Charlie, o amor e o fogo de antes se tornam ódio por conta de suposições passadas.
Lúcifer limpava os machucados de Alastor no espaço onde os hóspedes faziam suas dinâmicas. Todos do hotel estavam curiosos para entender o que havia acontecido. Nunca viram uma gota de sangue sair de Alastor - por mais de já terem visto ele beber sangue.
- Eu falei que a tensão entre os dois era sexual. - Angel se pronuncia, atraindo olhares para si.
- Vamos deixá-los sozinhos. - Vaggie pede. - Eles têm muito à conversar.
Charlie e a namorada guiam os pecadores para outro ambiente, deixando Lúcifer e Alastor a sós.
- Então... Você morreu naquele dia? - O rei pergunta, passando o algodão pela bochecha do radialista.
- Sim... Depois que você foi embora, eu fui continuar meu trabalho esquartejando aquele corpo, mas para o meu azar, um caçador de cervos estava pela região.
- E você levou um tiro?...
- Bem na cabeça. Depois de ser pisoteado várias vezes por esses quadrúpedes e ter vários dos meus ossos quebrados.
- Ai... - O soberano tenta imaginar a cena, se arrependendo no mesmo instante. - Mas e suas coisas? Sua casa estava vazia.
- Quando encontrei Rosie aqui no inferno, ela me contou que o caçador de cervos havia ligado para a polícia e eles começaram a investigar a minha vida gastronômica. Levaram tudo.
- Entendo... - Lúcifer passa para os curativos. - E por que não me procurou?
- Eu procurei. Você sempre fugia. Pensei até que não me reconhecesse mais, então... Eu acabei fazendo isso no meu rosto. - Ele aponta para o próximo sorriso.
O coração de Lúcifer aperta no peito. Ele não tinha mais certeza se queria saber do resto. Antes que ele pensasse em algo para dizer, Alastor se pronuncia.
- Então, Lilith te traiu enquanto você estava esperando Charlie...
- Sim. Eu não saía muito de casa já naquela época. Meu casamento não estava bom e, somando com o estresse de carregar um serzinho dentro de mim, perdi a vontade de sair.
- Como você descobriu?
- Era dia de extermínio. No início da gestação, não pensei nesse dia, mas depois que aconteceu, eu tive tanto medo de minha diabinha ser ceifada em um desses eventos... - Lúcifer suspira, logo percebendo que Alastor segurava sua mão. Ele dá um sorriso cansado, se sentando em frente ao radialista e continuando a história. - Eu ouvi a porta da mansão abrir e fui receber Lilith. Porém, quando eu cheguei, ela estava se despedindo aos beijos com Adão.-
- Adão?! - o locutor arregala os olhos, gelando. Seu corpo inteiro paralisa num instante.
- É! Tipo, ela ainda me traiu com o ex dela! Me senti apenas um tapa buraco. - O rei observa a expressão nervosa de Alastor. - Você sabe de algo?
- Eu... Bem... - Ele não queria mentir. Não para Lúcifer.
- Alastor, me conte!
- Eu fiz um contrato com Lilith! Pedi mais poder e ela pediu uma passagem para o céu, mexi uns pauzinhos e mandei ela para longe! - Alastor assume, falando rápido e de orelhas baixas. - Eu achei que essa seria uma forma de ficarmos juntos. Me perdoe, majestade!
O soberano encara o radialista, surpreso. Alguns segundos que pareciam horas se passam e o rei começa a rir. O locutor o olha confuso, levantando novamente as orelhas.
- Majestade?...
- Você simplesmente... Puff! Mandou ela para outro plano! - Ele imita a onomatopeia, tentando controlar o riso. - Eu fico tão feliz de te ter no inferno!
Alastor mantém seu olhar fixado em Lúcifer, aos poucos começando a rir com ele. Suas mãos mantêm-se juntas. Tudo isso lembrava o assassino dos velhos tempos. As risadas, os toques quentes, a alegria...
- Majestade, eu-...
- Não me chame de "majestade". Somos amantes! - Ele sorri desconcertado ao perceber as próprias palavras. - Se... Você quiser, claro...
- Ora... E lá eu negaria essa oportunidade?... Logo com você, Luci?... - Alastor sorri ainda mais, se permitindo corar.
Os dois homens continuam se encarando, totalmente bobos e apaixonados. Eram como dois adolescentes. O rei, então, tomou o primeiro passo e se inclinou em direção ao radialista, que se inclinou logo após. Eles juntaram os lábios lentamente e sentiram aquele sabor que há quase um século não sentiam. Lúcifer pode sentir o gosto amargo dos lábios de Alastor, que por sua vez, sentia os lábios doces do soberano.
Aquela química, aquele romance... Eram sentimentos intensos que Charlie pôde presenciar de longe.
- Deixe seu pai ter um pouco de privacidade, amor... - Vaggie sussurrou, tocando o braço da amada.
- Eu nunca vi nenhum dos dois dessa forma... Alastor nunca mostrou tanto apreço por alguém... E meu pai nunca se deixou levar nesses assuntos, nem mesmo pela mamãe... - A princesa olhou para a namorada, se escondendo atrás da parede. - Eu tenho que pedir desculpas para o papai...
- Charlie, está tudo bem... Seu pai jamais te culparia.
- Eu sei, mas poxa... Eu invadi o quarto dele e briguei com ele sem saber da sua história... Minha infância toda acabou de ser quebrada e eu preciso me desculpar.
- Tudo bem, amor. Tudo bem... - Vaggie suspira, segurando a mão da sua amada, levando sua outra mão para a bochecha da princesa. - Apenas não se cobre. Por favor...
- Vou apenas pedir desculpas. - Charlie sorriu, tranquilizando a namorada.
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