O bar

277 13 0
                                    

Me esbarro em alguém num segundo e peço desculpas no outro enquanto corro para encontrar com o restante do grupo.
"Droga, atrasada como sempre Anne!" Penso comigo mesmo.
Quando finalmente chego á mesa, dou um aceno rápido a eles e tomo um gole, dois goles, três goles do primeiro líquido que encontro na mesa na tentativa de matar a minha sede. Saí de casa tão ás pressas que nem deu tempo de beber um copo d'água e quando vejo as bebidas, nem pergunto o que é e apenas viro uma delas de vez na garganta. É no quarto gole que percebo o gosto do álcool queimar no meu esôfago e depois se transformar num formigamento estranho na minha barriga.
— O que vocês pediram? - pergunto limpando os lábios com as costas das mãos.
— Mimosas e margueritas? - pergunta/responde uma das Jennas, e os outros confirmam.
Mary e May Jenna são as gêmeas com quem eu, a partir de hoje, divido o quarto do alojamento feminino. Vou continuar me referindo a elas como uma das Jennas porque ainda não consigo diferencia-las e provavelmente não irei conseguir tão cedo. Vim pra esse instituto estudar literatura e melhorar na coluna que escrevo para o E-jornal da minha cidade ou quem sabe, conseguir um emprego novo que pague mais que um salário mínimo; Fazer amizades desnecessárias estão bem longe do meu topo de prioridades.
A garota bonita que ainda não sei o nome e mais dois caras que estão na nossa mesa me encaram um pouco preocupados.
— Ta tudo bem, gata? - pergunta um deles.
Eu balanço a cabeça para cima e para baixo, depois para um lado e pra o outro. Me sinto meio tonta. Quero rir? Não, não quero. Apenas quero me sentar e esperar que o resto do ambiente pare de girar.
Minha relação com o álcool não é das melhores. Nunca gostei do sabor ou do cheiro e quando preciso beber por ocasião de comemoração ou para socializar com um novo grupo, sempre tenho a mesma reação: enjoo e tonturas. A diferença é que quando isso ocorre, eu bebo pouco porque sei que estou bebendo álcool. Hoje durante os primeiros goles pensei ter bebido apenas um suco de laranja com o sabor de alguma laranja estragada ao fundo, não uma bebida com provavelmente 50% de álcool.
Percebo que a sensação de enjoo não melhora e quando vejo que não consigo acompanhar a conversa mesmo me esforçando, peço licença e vou na direção que as placas escrito "banheiro" me levam.
Quando saio da ambiente escuro e abafado do bar para a divisa entre ele e os banheiros que ficam no que parece ser uma área aberta para fumantes, o ar gelado da noite encontra meu nariz e pulmões. Inspiro e me sinto melhor por um milésimo de segundo, mas logo a fumaça dos cigarros me atinge e sinto uma nova onda de náusea.
— Você tá bem? - ouço alguém perguntar, mas não me viro pra responder. Começo a colocar pra fora a mimosa que tomei e uns biscoitos recheados que me serviram de almoço hoje mais cedo.
— Com licença, mas vou segurar isso aqui pra você - fala a mesma voz enquanto eu continuo vomitando até meu estômago se esvaziar. A pessoa segura meu cabelo para não sujar e faz pequenos círculos com a mão nas minhas costas numa espécie de conforto, o que me acalma. Limpo os lábios com a manga do meu casaco e finalmente me levanto para ver o bom samaritano que me ajudava.
Congelo. A pessoa que me ajudava era...
— Um gato... - falo em voz alta sem perceber que o pensamento se transformara em palavras. Ele dá um meio sorriso, ainda está com a mão direita no meu cabelo e a esquerda nas minhas costas.
— Se sente melhor? - seus olhos amendoados estudam minhas feições procurando sinais de que vou vomitar novamente ou se a náusea havia passado.
Eu aceno que sim e dou dois passos para trás, suas mãos se afastam de mim e eu tento me reestruturar. Sinto meu rosto queimar pela vergonha de estar num estado tão vergonhoso na frente de um dos homens mais charmosos que já vi. Eu pisco algumas vezes e nos encaramos; ele põe as mãos no bolso da calça distraidamente e eu juro que com uma iluminação um pouco melhor que aquela área sombreada da noite, ele poderia ser um modelo posando para uma revista sobre CEOs.
Junto meus neurônios que ainda estão funcionando e me desculpo e o agradeço pela ajuda:
— Disponha - responde ele de forma casual, seus olhos ainda me fitam com interesse.
Eu sei que sou considerada bonita por muitas pessoas, mas duvido que no estado atual, esse seja o motivo dele me encarar. A fim de manter a dignidade que honestamente não tinha certeza que ainda existia em mim, viro nos calcanhares e me afasto daquele homem sem me despedir.
Eu provavelmente tenho algum resto do vômito pela minha roupa e me recuso a ficar perto de um cara como ele sendo examinada por seus olhos.
Quando volto a minha mesa, meus colegas já estão comendo pizzas e alguns aperitivos.
— Hey, demorou hein? - aponta uma das Jennas.
— Não tô me sentindo muito bem, acho que vou pra casa.
Eles fazem um "ah nãooo" em coro e em grupo e as meninas fazem um biquinho. Acho a situação engraçada porque parece que me conhecem há tempos e estão tristes por verem um amiga ter que ir embora, e não que nos conhecemos hoje na reunião de recepção de bolsistas.
Dou um thcau geral e poucos passos depois, sinto uma mão em meu ombro. Me viro na esperança de ver o sr. Modelo mas é o mesmo cara que estava na mesa e que me perguntou se eu estava bem antes. Callum? Calleb? Algo assim..
— Anne, coloquei dois pedaços de pizza. Achei que você precisaria depois de ter colocado tudo pra fora...
Disse ele me entregando uma sacola.
— Ah, obrigada...
— Caleb.
— Caleb, obrigada Caleb.
Sorri para ele e peguei um uber para o alojamento. Cheguei no apartamento e sentei para comer as pizzas. O enjoo passou e agora a fome resultado do estômago vazio deu seus primeiros sinais.
Agradeci mentalmente de novo ao Caleb pelas pizzas e comecei a comer. Lembrei do que ele me disse na hora que me entregou elas e me perguntei se ele viu toda a cena... se ele viu a pessoa que me ajudou, não que isso importasse, óbvio. Enquanto tomo meu banho, lavo minha jaqueta e a parte do meu tênis que sujei de vômito e finalmente deito para dormir, penso em probabilidades.
A probabilidade de você encontrar caras atraentes nos dias de hoje é mínima. Reencontrar um cara atraente que você conheceu num bar deve ser bem próxima a zero.
E mesmo assim, contra todas as probabilidades, quando estou na minha primeira aula de literatura e levanto o rosto para conhecer meu novo professor, ali está ele. Professor Reid, Spencer Reid.

Meu perfeito opostoOnde histórias criam vida. Descubra agora