Antes cheia de justiça, agora, de assassinos

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Como não quero aumentar a curiosidade de May, tento ser o mais rápida possível pra sair do quarto antes dela sair do banheiro.
Troco de roupa, ponho um perfume e uso o lavabo do corredor pra lavar o rosto e colocar uma maquiagem que esconda a cara de quem estava dormindo até pouco tempo.

Enquanto espero o uber, aproveito pra perguntar na portaria sobre a outra A.H.
"Não tem mais ninguém aqui com essas iniciais, senhorita Hills"
Eu respondo um Ah confuso e coloco o envelope de volta na bolsa. Meu uber chega e deixo o mistério do envelope para ser descoberto depois.
Agora é o momento em que irei imaginar como seria a casa de Spencer Reid.

O endereço é desconhecido pra mim e pelo mapa, só consegui ver que fica fora da cidade.
Será que ele mora num duplex antigo como os que vi no interior da cidade? Ou talvez seja uma casa no térreo com cara de "casa de vó" com uma varanda e jardim e cadeiras de balanço... Não, não. Um cara que trabalhou no FBI deve ter dinheiro o bastante pra... uma mansão talvez?
Vejo o restaurante em que fomos ontem passar por mim e ficar menor a medida que nos distanciamos dele. Cerca de 5 km a mais e o uber estaciona.
— Chegamos senhorita.
Eu agradeço a ele e saio do carro.

Não é uma mansão. Mas também não é um duplex antigo. Nem uma casa de vó.
A casa de Reid tem tons de cinza e preto e um ar industrial, e teria completamente um ar de "casa séria" se não fosse por uma parede de ladrilhos coloridos que formavam uma figura abstrata na parede acima da porta. E apenas esse detalhe faz o lugar parecer... dele.

Aperto a campainha e ele aparece rapidamente.
Seu cabelo está meio bagunçado e ele usa um suéter e calças largas. Como alguém pode parecer tão desligado quanto ao que veste e ainda parecer tão sexy desse jeito?
— Chegou na hora certa, entra! - diz ele abrindo um sorriso que aquece meu coração. Eu retribuo o mesmo.
— Foi difícil chegar aqui? - Reid pergunta me ajudando a tirar o casaco e o pendurando no cabideiro.
— Por uns segundos achei que o Uber iria me raptar, mas ele só fez um desvio porque a pista estava em reformas.
Reid ri.
— Se ele fizesse isso, eu ligaria pra todos os meus contatos no FBI pra te encontrar.
— Então estou segura com você?
Reid me puxa para os seus braços e sussura em meu ouvido:
— Comigo sim, agora de mim...
Meu corpo se arrepia e sei que não tem nada a ver com o frio. Eu sorrio e o empurro.
— Melhor eu tomar cuidado então- devolvo o seu flerte. Reid ri, pega a minha mão e me guia pela entrada.
— Tour rápido pela casa?
— Claro.
Quando dou uns passos a mais para o interior da casa entendo porque ele chamou de tour rápido enquanto ele aponta os "cômodos".

A casa tem um conceito aberto e quase nenhuma parede.
Pouco depois de um arco na entrada, um único cômodo amplo nos recebe e desse ponto em que estou ( bem debaixo do arco), posso ver a sala de estar/tv que é dividida da sala de jantar por um sofá, que por sua vez é separada da cozinha por um balcão. A única coisa que não vejo por completo são os quartos e o banheiro, que Reid me informa que fica no corredor.
Um cheiro estranho chama a minha atenção
— Spence, tem algo queimando?
— Droga!
Reid solta minha mão e corre pra cozinha. Vejo ele abaixar o fogo e mexer numa panela. Ainda estou no mesmo lugar.
— Tô preparando o nosso almoço que quase queimou, quase... - diz ele pegando outros ingredientes. Vai pra pia e por cima do ombro me olha confuso.
— A comida vai demorar um pouco. Fica a vontade, Anne - continua ele com seu sorriso fofo de lábios semicerrados. Eu aceno que sim e decido por me juntar a ele na cozinha.
Posso inspecionar sua casa depois, penso deixando minha curiosidade de lado.
— o que tá fazendo?
— Fricassê de frango com salpicão e purê.
Eu o encaro supresa.
— Devo me preocupar?
— Sou bom em muitas coisas Anne, com o tempo você vai ver - ele diz com uma superioridade fingida e eu tento não rir.
— Certo, senhor sou perfeito em tudo. No que eu posso ajudar?
Reid está tirando as batatas que estavam cozinhando da panela.
— Sabe fazer purê ? - ele pergunta desconfiado.
Se eu sei? - pergunto pedindo pra ele me passar a faca pra eu descascar as batatas. Ele me dá relutante e eu o empurro com meu quadril e tomo seu lugar na bancada.
Continuamos preparando o almoço e percebo que gosto de toda a cena em que estamos.
Nos movemos em harmonia, ele me passando os ingredientes que preciso e me pedindo pra provar o ponto do frango e o sal do molho.
Eu poderia facilmente me acostumar aquela rotina...
Reid está atrás de mim e traz uma colher com o molho pra eu experimentar. Ainda estou com as mãos ocupadas terminando o purê e mordo a colher meio desajeitada.
— O que achou?
— o sal ta ótimo!- respondo - Tem algum guardanapo?
Pergunto ao sentir que um pouco do molho sujou meus lábios.
Reid apoia uma de suas mãos em minha cintura e com a outra que segurava a colher agora descansada sobre a bancada,  vira meu rosto em direção ao dele.
Ele beija/lambe o lugar onde havia o molho.
— Guardanapos são chatos, não acha?
Eu olho pra ele desacreditada com a facilidade que ele tem em flertar em qualquer situação.
— Ficar perto de você é um perigo constante sabia? - digo voltando a amassar aa batatas. Ele ainda está atrás de mim e seu flerte faz minhas bochechas queimarem.
— Digo o mesmo senhorita Hills - ele sussurra no meu ouvido e sua voz faz amassar batatas perder toda e qualquer importância pra mim.
Me viro pondo as mãos em seu pescoço, mas sem tocá-lo porque elas estão sujas de batatas.
Reid começa a deixar beijos em todo o meu rosto: na testa, bochechas, ponta do nariz, queixo...
— Acho que tem mais molho aqui ... e aqui e aqui...
Eu só consigo rir e aproveitar aquele momento carinhoso. Sei que se parar de rir, não vai ser só a temperatura das panelas que vão subir...
Espera, panelas?!
— Reid, o frango!
Ele vai em direção ao fogão e o desliga dessa vez.
— E eu achando que a gente fazia um bom par na cozinha... Pelo menos só secou o óleo e não queimou. Não desista da gente, Anne - ele diz fazendo uma cara dramática de cão sem dono e seus olhos se tornam o "puppy eyes" mais lindos que já vi.
Eu apenas sorrio e fico feliz por que chegou a hora de por os pratos na mesa e advinha, conseguimos não colocar fogo na casa!

Meu perfeito opostoOnde histórias criam vida. Descubra agora