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Nós tínhamos terminado nossos pratos e Reid pediu uma sobremesa que ele acha que vou amar. Enquanto esperamos ela chegar, ele me lembrou do motivo principal de nosso encontro: minhas dúvidas sobre um possível relacionamento com ele.
Pego o papel que está na minha bolsa e ponho na mesa. Coloco uma caneta ao seu lado.
— Wow, à moda antiga? Está ganhando muitos pontos comigo Anne.
Eu sorrio, mas por dentro sinto o nervosismo reaparecer na boca do estômago. Pego o papel, olho novamente de um lado pra o outro pra me certificar de que ninguém vai nos ouvir e leio a primeira pergunta:

— Qual o posicionamento da faculdade quanto ao relacionamento professor e aluno?
— É permitido desde que o professor não avalie seus trabalhos e provas.
Responde Reid prontamente. Eu pisco algumas vezes pra ver se ouvi direito.

— Mas você é meu professor. Vai avaliar meus trabalhos. Já está avaliando o projeto atual, não está?

— Achei que a senhorita fosse mais observadora... - ele diz e um sorriso brinca no canto de seus lábios. Eu o encaro confusa.
— A primeira parte do seu trabalho foi avaliado pela professora de literatura da noite. Pedi que ela fizesse isso, para que caso você aceitasse meu convite, ninguém pudesse questionar algum favoritismo meu para com você, já que suas notas serão dadas por outro professor.

Estou boquiaberta. Nossa sobremesa chega e parece deliciosa, mas minha mente ainda está em Reid.
— Desse jeito vou achar que você realmente tá gostando de mim... - brinco, ainda surpresa.
— E você tinha dúvidas? - ele responde casualmente enquanto corta um pedaço da sobremesa e põe no meu prato.
Solto uma risada misturada com um soluço, limpo a garganta e agradeço por ele ter me servido. Experimento a sobremesa que parece um petit gateau e constato que como pratos anteriores, está delicioso.
— Supondo que comecemos a namorar, se alguém da faculdade descobrir, vai ser um problema?
— Sim e não.
— Como assim?
— Sim: As pessoas sempre julgam. Relacionamentos entre professor e aluno são um prato perfeito para os fofoqueiros de plantão. Vamos virar notícia, muitos alunos nos julgarão e pensarão que se você tirou notas altas, é porque está comigo e assim vão desmerecer seu esforço.
Não: eu não dou a mínima pra o que falam de mim ou de você e vou defende-la de qualquer rumor que possa existir.

Eu esperava a primeira parte dessa resposta. Mas ouvi-la de sua boca fazia com que soasse mais real. Lembrei daquele dia no club, quando insinuaram sobre o meu "tempo de reunião com o professor"; será que eu aguentaria aqueles olhares inquisidores por mais tempo? Será que perderia meus amigos por isso?
Mais uma vez o medo me atingiu.

Pego mais uma colher do petit gateau e me forço a ler a próxima pergunta:
— Existe algum risco de eu perder minha bolsa de estudos?
Minha voz treme um pouco. Deixei a pergunta mais importante pro final.
Reid percebe a minha entonação preocupada e abaixa seu prato. Deixando-o sobre a mesa, ele se inclina em minha direção, seus olhos se suavizando:
— Por conta desse relacionamento não. Conheço as regras da faculdade completamente e tomarei cuidado para não infringirmos nenhuma delas.
Eu aceno para cima e para baixo, absorvendo essa informação.
Termino minha sobremesa em silêncio e Reid respeita isso. Sabe que estou analisando todos os prós e contras na minha mente. Ele paga a conta e desce comigo em direção a saída. Estou tão distraída que malmente percebo que o restaurante esvaziou.

O Frio do estacionamento me atinge e eu cruzo os braços como num reflexo, sinto um paletó ser posto nos meus ombros e pisco confusa para Reid quando ele reaparece na minha frente.
— Voltou pra terra, Anne?
Ele brinca e eu me forço a sair da minha própria mente analista de possibilidades.

Reid está com as mãos no bolso, mas apesar da pose casual sinto que ele está apreensivo, tentando me ler para descobrir se já cheguei a alguma conclusão. Seus olhos estão amendoados novamente.
Mais escuros que a noite que nos rodeia sob a baixa iluminação do lugar, ele me escaneia e não encontra em meu rosto sinal nenhum: nem que vou aceitar sua proposta nem que vou rejeita-la. Após alguns segundos ele suspira:
— Talvez seja melhor eu só te levar de volta - diz ele se virando para abrir a porta pra min, mas puxo a barra de sua camisa.
Não sei exatamente o que dizer, mas sei que essa noite perfeita não pode terminar com ele achando que não partilho do mesmo interesse que ele.
Reid se vira confuso, pega a minha mão e a segura na dele. Uma onda percorre o meu corpo, quando sua pele encontra a minha.
Eu procuro seus olhos que fitam os meus.
— Eu sou um ótimo analista comportamental Anne. Se eu estiver errado sobre o que suas ações estão demonstrando, você tem 5 segundos para pedir que eu me afaste.
A voz de Reid soa roca.
5.
No volume perfeito, apenas para que eu o ouça.
4.
Ele dá mais um passo em minha direção.
3.
Sua outra mão toca o meu rosto e levanta o meu queixo.
2.
Seu rosto se aproxima do meu e sinto seu hálito de baunilha da sobremesa chegar até mim. Sua respiração agora está pesada. Provavelmente tanto quanto a minha. Seus olhos descem para os meus lábios enquanto ele inspira mais uma vez.
1.
E me beija.
Spencer Reid me beija e meu mundo é tudo.
É felicidade e ansiedade. É Baunilha e sorvete gelado. É frio e calor. É poesia e romance.
É o melhor beijo que alguém já me deu na vida.
E eu não quero que esse momento acabe.
Sinto minhas dúvidas se esvaírem do meu corpo e uma certeza surge em mim.
Spencer Reid não fora feito para o efêmero e sim para o contínuo, talvez até para o eterno...

Ele se afasta de mim, a mão que antes estava no meu rosto agora descansa na minha nuca. Seu polegar acaricia minha bochecha.
— Nem pense em voltar atrás- diz ele com seus olhos quase implorando aos meus. Eu sorrio.
— Nunca.
Dessa vez é Spencer quem sorri e em meio ao seu sorriso, me beija outra vez.

Meu perfeito opostoOnde histórias criam vida. Descubra agora