Eu lavei meu cabelo, pintei minhas unhas e fiz uma máscara facial.
Sou do tipo que gosta de cuidar de si mesma, mas hoje eu definitivamente excedi o meu normal. Penso após retirar a terceira mascara facial, dessa vez de argila e finalmente passar meu hidratante.
"Por acaso você vai se encontrar com um dermatologista? Que vai analisar todos os seus poros, Anne? Por que raios ta exagerando tanto?"
Eu sussurro pra mim mesma e dou um pulo ao ouvir uma voz feminina:
— Tá falando sozinha, querida? - Mary me pergunta aparecendo do nada na porta do banheiro.
— Dizem que pessoas inteligentes falam sozinha, sabia?
— Sei, elas também são conhecidas como psicopatas - pirraça Mary e eu dou um mini empurrão de brincadeira nela e saio do banheiro.
— Não que seja da minha conta, mas... essa produção toda é pra que hein? Ou melhor... pra quem? - pergunta ela estreitando os olhos azuis em minha direção e eu começo a vestir meu vestido enquanto penso numa desculpa.
— Não que seja da sua conta... mas vou encontrar um conhecido - sem desculpas, apenas escolho a melhor reposta vaga que consigo.
— Esse conhecido tem nome?
— Sim, Sr. Conhecido pra mim e Sr. Desconhecido pra você.
— Você ta taaão engraçada hoje! - diz ela se revirando na cama e pegando seu celular, quando percebe que não vai conseguir me arrancar mais nenhuma informação.
Eu pego meu perfume e o aplico, pensando que dei sorte de apenas Mary estar aqui hoje. Eu consigo fugir das perguntas de uma delas, mas quando as gêmeas estão juntas e querem descobrir algo, já percebi que é quase impossível não soltar informações.
Se eu começar um relacionamento com ele, vou conseguir manter segredo?
Eu me pergunto, mas logo sacudo a cabeça tentando espantar as dúvidas e as inseguranças que começam a brotar. Me despeço de Mary quando vejo que meu Uber chegou:
— Não faça nada que eu não faria! - grita ela e eu dou outro aceno e desço as escadas.
O caminho do dormitório até o restaurante que fica na entrada da cidade é bem mais rápido do que imaginei.
Essa cidade é realmente pequena...
Pago o uber e desço do carro, ajeitando meu vestido.
Qualquer coisa que acontece aqui deve virar notícia em segundos...
Talvez ainda dê tempo de voltar...
Eu me viro para ver se o carro ainda está atrás de mim, mas ele deixou apenas o seu rastro de areia.
Me viro novamente para o restaurante.
E já do lado de fora percebo que é mais bonito e elegante que qualquer outro estabelecimento que vi na cidade.
Ele tem bom gosto...
Respiro fundo e forço meus pés a entrarem no Bistrô.
O hostess me cumprimenta e pergunta se eu já tenho uma reserva ou se gostaria de fazer no momento.
— Acredito que meu... amigo fez a reserva. Sob o nome de - limpo a garganta seca - Reid.
Seu nome sai de meus lábios como um sussurro.
— Perdão? - o hostess se inclina para ouvir melhor.
— Spencer Reid? - minha voz falha novamente. Deus, quem se apossou do meu corpo e teve a brilhante ideia de aceitar esse convite?!
— Poderia falar um pouco mais alto, senhorita?
– REID, SPENCER REID! - dessa vez a voz sai alta demais e o casal da mesa próxima a entrada me lança olhares de desaprovação.
Eu quero entrar num buraco!
— Ah sim, deve ser a senhorita Hills. Por favor, me acompanhe - diz ele ignorando o fato de eu ter quase gritado e sendo o mais educado possível comigo. Não sei se ele percebeu, mas meus olhos gritavam: obrigada por fingir que não sou a pessoa mais estranha da noite!Ele me leva até o primeiro andar do restaurante, que fica numa espécie de mezanino, e indica a mesa em que Reid está.
Seus olhos encontram os meus e parecem se iluminar.
Reid se levanta quando me aproximo e ficamos sem saber como nos cumprimentar.
Ele sorri e eu faço o mesmo, enquanto o Hostess puxa a cadeira pra que eu sente e anuncia que um garçom virá em breve para pegar nosso pedido.
— Não acredito que veio... - diz Reid e eu checo o meu relógio. Estou atrasada 30 minutos... 10 minutos eu perdi apenas decidindo se entraria ou não no restaurante, mas vou deixar essa parte de fora da minha resposta.
— O dia foi cheio... as horas passaram que nem percebi.
— Fico feliz em saber que não pensou em desistir - diz ele com os olhos semicerrados e com um sorriso ameaçando surgir no canto do seu lábio.
Ele sabe que estava insegura quanto a vir, mas apenas sorrio e tento não ser tão transparente com minhas emoções.
— Nem passou pela minha mente, sabia? - eu tento soar confiante mas a frase não sai como eu queria. Reid abre um sorriso que poderia iluminar toda a paisagem do restaurante escuro e seus pequenos pontos de luzes incandescentes.
— Sei... em fim, - ele limpa a garganta e limita seu sorriso - gostaria de fazer o pedido antes de eu responder suas dúvidas?
Seu sorriso tinha aquecido meu coração inquieto, mas ouvi-lo perguntar sobre dúvidas me lembrava do fato dele ser meu professor. O paradoxo em que minha mente estava com certeza transpareceu em meu rosto porque ele fez questões de continuar falando, antes de eu responder.
— Eu gosto bastante do Ravioli daqui e do filé a parmegiana. O que acha?
— Acho que vou confiar no seu gosto
Reid aperta os lábios em confirmação e acena para o garçom que chega na mesa em segundos.
— 2 Raviolis e 2 filés a parmegiana, por favor.
— E para beber? - pergunta o garçom.
— Vinho tinto? - Reid pergunta e eu aceno que sim.
— Mais alguma coisa?
Reid olha pra mim e faço que não e ele despede o garçom.
Estamos a sós novamente.
Eu olho ao meu redor. Uma luminária principal e grande despenca da parte mais alta do teto em direção ao térreo e outras menores estão espalhadas por todo o restaurante.
Todas as luzes em tons amarelos que dão o aconchego perfeito em contraste com o amadeirado que reveste o restante da decoração.
— Não imaginava um restaurante como esse por aqui... - comento na tentativa de puxar assunto e para que seus olhos se desviem de mim para o ambiente ao nosso redor.
Reid segue o meu olhar.
— Acredito que é um dos melhores restaurantes da cidade. Na verdade, conheço 2 restaurantes que tem esse estilo mais requintado por aqui, o outro eu considero até melhor, para falar a verdade.
— Se considera o outro melhor, por que optou por esse? - a pergunta sai rápido demais da minha boca. Ele ergue uma sobrancelha.
Ele poderia já ter levado alguém especial no outro e por isso pode não querer me levar lá. Ou talvez ache que seja chique demais para levar alguém que ele mal conhece. Talvez ele pense que eu não valho a pena. Talvez...
— As reservas estavam lotadas e não consegui uma mesa, infelizmente- diz Reid cortando meus milhares de pensamentos pessimistas.
Eu dou um sorriso sem graça e torço pra que ele não tenha me lido e solto um "ahh, entendo" mais sem graça ainda.
— Você deve ter se mudado pra cá de manhã , não é?
— Sim... Como soube?
— Durante o dia esse restaurante passa despercebido na paisagem, mas a noite as suas luzes chamam bastante atenção.
— É um pouco assustador quão bem você analisa as situações, sabia?
Reid sorri e abaixa a cabeça levemente.
— Te deixaria mais tranquila se eu dissesse que eu tinha 50% de chance de acertar e outras 50% de errar?
— Um pouco... como seria os outros 50%?
— Você poderia ter vindo a noite, mas se tivesse cansada da viagem e dormisse, não teria visto o restaurante mesmo que ele estivesse com suas luzes brilhantes e chamativas.
— Hum... - eu analiso sua resposta e tento procurar erros em sua própria análise - Ou eu poderia ter pego outro caminho.
Ele estica o canto inferior dos lábios e sei que a vai discordar de mim, mas estou ansiosa pra ver como sua mente funciona.
— Vamos lá... - ele diz e limpa a garganta - Você é bolsista, então provavelmente se mudou para a cidade no final de fevereiro, mais precisamente entre os dias 24 e 28 uma vez que foi uma das últimas alunas a ser admitida de acordo com sua ficha de ingressão, nessa época a chuva é intensa na cidade e as outras 3 rotas de acesso ficam interditadas por causa das enchentes. Desse modo você com certeza passou pela rota principal.
Eu sorrio atônita com a rapidez de sua mente.
— Estou quase lhe dando uma salva de palmas professor Reid.
O breve sorriso de Reid desaparece por um segundo à menção de "professor".
— Desculpe... não sei bem como me direcionar a você. - admito sem graça.
— Tudo bem... força do hábito, não é? - ele pega a faca da mesa e passa ela entre os dedos uma, duas vezes. Coloca ela novamente no lugar. — Apenas Spencer, está bom.
Eu respiro fundo e dessa vez, sou eu quem procura algo para aliviar o clima. Observo sua camisa azul escura ajustada na medida perfeita e sinto falta de mais uma peça de roupa que acompanha seu look quase todos os dias.
Seu cabelo está levemente penteado para trás, mas alguns fios estão soltos e caem sobre o seu rosto enquanto ele volta a brincar com o talher, dessa vez o garfo é sua vítima.
— Senti falta do colete, Spencer.
Ele para o garfo entre o dedo indicador e o médio ao ouvir seu nome e o devolve para a mesa. Quando olha novamente pra mim tem uma expressão confusa que é extremamente fofa.
— Perdão?
— É o único homem que conheço que faz o uso do conjunto colete mais gravata parecer elegante e despojado aos mesmo tempo.
Ele sorri.
— Sempre achei que era muito nerd. Mas nunca consegui abandonar esse estilo quando vou para o trabalho.
— Por favor, não abandone nunca. É a quantidade perfeita de nerd que um look precisa.
Agora ele está segurando o riso.
— Está tentando flertar comigo, senhorita Hills?
Meu coração começa a bater mais rápido a medida que vejo ele sorrir novamente.
— Senhorita Hills não, Anne.
Eu o conserto e ele assente, como se fosse pego no mesmo "erro" que eu.
— Está tentando flertar comigo, Anne? Pois se está, por favor continue.
Meu nome, em todos os meus 24 anos, nunca soou tão bonito como nesse momento.
Eu amo o meu nome.
Não, eu amo o meu nome dito por Spencer Reid.
— Vou tentar o meu melhor - digo também sorrindo e percebendo que apesar de meu coração palpitar e meu estômago está com 1000 borboletas, me sinto à vontade perto dele.
O garçom chega com nossos pratos e serve a comida e o vinho.
Experimento o Raviolli primeiramente e não contenho meus elogios.
— Oficialmente, o melhor que já comi na vida!
— Acho que terei que te trazer mais vezes aqui.A ideia daquele encontro se repetir me faz flutuar.
— Depois de hoje, não vai conseguir se livrar de mim, Spencer. - fico feliz em ouvir minha própria voz chamar o seu primeiro nome também.
— Pela primeira vez na vida, estou gostando de ouvir uma ameaça- ele responde e nós dois sorrimos.Se eu tive dúvidas sobre sair com esse homem, elas pertenciam a uma Anne que não conhecia a sensação de ser o centro da atenção e o motivo do mais lindo sorriso de Spencer Reid.
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Meu perfeito oposto
RomanceAnne se mudou para uma nova cidade após ganhar uma bolsa de estudos, mas enfrenta algumas dificuldades quando se vê atraída pelo seu professor de literatura, Spencer Reid. Enquanto Anne está quase falida e á procura de uma melhor condição de vida...