Capítulo 9 - As Bailarinas Malvadas

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Cássia, seu amante e seu marido estão sentados de frente para nós. Não sei direito o que faço ali no meio do drama familiar, mas nem Henrique e nem sua mãe me deixam sair daquela sala.

- Querido, temos uma coisa para te contar. - Cássia começa, mas não encara o filho nos olhos. Ela brinca com os fiapos do seu lindo vestido. - Eu e o seu pai não estamos mais juntos há mais de cinco meses.

- O que? - Henrique está tão branco que parece que viu um fantasma.

- Nós íamos te contar, mas acabou acontecendo algumas coisas e o momento certo nunca chegava. - Bruno, o pai de Henrique, olha para o filho de forma cuidadosa.

- Mas vocês ainda moram no mesmo teto? - Henrique olha do pai para a mãe com a decepção estampada no rosto. - Ou foi só uma encenação vocês estarem lá quando eu fui visitar vocês?

- Seu pai está no quarto de hóspedes por enquanto. - Cássia coça a nuca, envergonhada.

- Vocês não se amam mais?

- Nós nos amamos muito, meu filho. Muito mesmo. Mas nosso casamento caiu na rotina, e nos percebemos sendo mais amigos do que um casal. Nos separamos amigavelmente. Sua mãe sai com alguns rapazes e eu também já saí com algumas mulheres e está tudo bem. - Bruno responde, os olhos gentis.

- Mas ainda não nos divorciamos. - Completa Cassia, claramente desconfortável.

- Isso é loucura! - Henrique se levanta, transtornado. - Vocês deviam ter me contado!

- Querido...

- Não! Para mim, essa festa já acabou. - Ele se retira e eu fico ali sentada, tão constrangida quanto o amante de Cássia. Peço licença e me retiro, procurando por Henrique.

A minha cabeça ainda girava, tentando processar tudo o que eu tinha acabado de presenciar. Além de ter descoberto que Henrique nunca esteve por trás do vazamento da foto mais constrangedora da minha vida, seus pais estão separados.

Além de ter que superar a morte do avô, agora Henrique teria que superar a separação dos pais. Mesmo que ele more sozinho, não deixa de ser um luto. Cada fim de ciclo representa um luto em nossa vida, a diferença é que uns são mais dolorosos do que outros.

Encontro Henrique do lado de fora do casarão, sentado no meio fio. Percebo que seu corpo treme e vejo que ele chora de forma descontrolada.

- Você está bem? - Coloco a mão em seu ombro e ele se levanta, transtornado.

- Não finja que se importa. - murmura, com uma tristeza visível e palpável.

- Eu não estou fingindo! Apesar de tudo, eu me importo com você.

- Por quê? - Sua voz sai fraca, num sussurro triste.
Não consigo explicar em palavras. Não sei por que ainda estou aqui ou porque fui atrás dele. Talvez todos os meus enganos tenham me colocado nessa situação. Talvez eu realmente não o odeie tanto quanto eu pensava.

Também não percebi quando diminuí a distância entre nós e toquei seus lábios com os meus. O gesto surpreendeu tanto a mim quanto a ele, pois Henrique tremeu assustado quando me aproximei. Seguro seu rosto banhado pelas lágrimas e ficamos com os lábios encostados por apenas alguns segundos, pois me afasto de forma assustada assim que percebo o que acabei de fazer.

O ar está gelado, o céu cheio de estrelas e a lua cheia brilha em esplendor no céu. Os cabelos negros de Henrique estão tão brilhosos quanto a lua, e seus olhos também brilham por conta das lágrimas e por alguma coisa a mais que eu não soube identificar muito bem.

O constrangimento recai sobre mim de uma vez só, e eu saio correndo antes que Henrique diga alguma coisa. Fico com medo de sua rejeição ou de debochar de mim, e isso só me faz ter certeza de que Driquinha sempre esteve certa a respeito dos meus sentimentos em relação a ele.

Meu Engano - Série Dance - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora