Capítulo 14 - Nas Nuvens

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 — Até hoje eu fico chocado em saber que a sua cor favorita é rosa. — Henrique comenta aos sussurros, com medo de acordar a minha prima ou os meus pais.

— Não sei porque...

— Eu nunca te vi usando nada rosa. — explica, risonho. Dá para ver que ele só quer implicar comigo.

— A minha bicicleta é toda rosa. — falo, deixando claro em meu tom de voz o quanto estou indignada com a possibilidade de que ele não tenha reparado nisso.

— Bom, tirando a sua bicicleta, eu nunca te vi usando rosa...

— É porque você sempre me vê em lugares em que eu preciso estar de uniforme. Tipo na lanchonete ou na Motirô.

— Nem a capinha do seu celular é rosa. — reviro os olhos, lembrando-me de que a minha capinha do celular é transparente.

— E você é muito previsível com a sua cor favorita.

— Não tenho culpa se preto combina com tudo.

Henrique segura meu queixo e me dá um selinho, deixando claro de que ele está se divertindo muito em ver que estou caindo na sua pilha.

O clima risonho cessa, e Henrique fica encarando o teto de forma pensativa.

Dobro meu cotovelo em cima da cama e apoio minha cabeça em minha mão enquanto continuamos conversando. Não sei ao certo como entramos em um assunto mais sério, mas quando dou por mim, estamos falando sobre profissão.

— Eu estou em um momento muito bom da vida em relação a minha profissão. Trabalho em casa praticamente todos os dias, faço meu próprio horário e ganho bem fazendo o que eu gosto.

Henrique sempre foi um cara muito decidido sobre o que queria fazer da vida e eu sempre o invejei e o admirei secretamente por isso. Agora que me encontrei na vida, também quero ser bem sucedida.

— Sabe, isso é algo raro de se ver. E eu sempre te admirei por ser um cara decidido e trabalhador. — confesso, dando um sorriso envergonhado que faz meu rubor aumentar ao ver como Henrique reage ao que eu disse.

— Eu sempre soube que você já era apaixonada por mim. — reviro os olhos.

— Cala a boca!

— Mas falando sério, você vai mesmo fazer duas faculdades? — Eu havia contado a Henrique sobre meus planos, mas acho que ele ainda se encontra em choque pela minha ousadia. Eu e ele estamos em departamentos da vida bem diferentes em relação ao profissional. Sei que estamos há pouco tempo juntos e nem somos namorados nem nada, mas temi que estar em momentos diferentes da vida pudesse ser um obstáculo para ele.

— Sim, vou continuar cursando administração e vou fazer dança ano que vem. Por mais que eu odeie Administração, vou fazer pelos meus pais e porque pode me ser útil se eu quiser abrir uma escola de dança. Sinto que eu realmente estou no caminho certo. — digo, segura de mim mesma. É realmente esse o plano ideal.

— Pelo menos você vai fazer o que gosta. E eu tenho certeza de que você terá muito sucesso. — Henrique segura em minha mão e faz um carinho nela com o polegar, mas sinto que seu olhar fica colérico de repente.

— Você está bem? — pergunto, lembrando-me de que seus pais estão em um momento complicado. Seu avô falecera há pouco tempo também, e os dois eram apegados.

— Estou chateado com meus pais, mas estar com você tem me animado. — Ele solta um suspiro, parecendo incomodado. — Sinto falta do meu avô também. Eu sempre pensei que meus pais iam ficar casados para sempre, porque os dois sempre foram muito unidos e pareciam se amar, sabe? Não consigo entender o que aconteceu, por mais que eles tentem me explicar.

— Lidar com términos nunca é fácil. Tanto o divórcio dos seus pais quanto a morte do seu avô são ciclos que se fecharam na sua vida, e eu não consigo nem imaginar como deve estar difícil segurar a barra. Mas eu quero que você saiba que pode contar comigo. — Retiro uma mecha de cabelo que está em seu olho. — Não sou muito experiente nesse quesito, mas sei que o amor nem sempre é suficiente em uma relação. Acho que só os seus pais sabem de fato o que aconteceu para que o casamento deles tenha chegado ao fim.

— É, acho que eu tenho que superar isso. — Henrique segura meu queixo e me dá um beijo. — Obrigado, linda. Você é demais.

Nós passamos grande parte da madrugada conversando. Nossas conversas foram profundas e eu me senti ainda mais ligada a Henrique de uma forma que eu nunca pensei que eu fosse ser.

Caímos no sono abraçados, minha cabeça encostada em seu peito e nossas pernas entrelaçadas.

Ainda bem que os meus pais tem sono pesado e minha porta está trancada.

[...]

De manhã cedo, me despeço de Henrique, que consegue sair da minha casa sem ser descoberto.

Apesar de ter ido dormir bem tarde, me sinto disposta e nas nuvens. Estar apaixonada e ser correspondida é uma coisa tão boa que eu acho até que posso flutuar. Quero dizer, nem sei se isso vai durar e talvez eu esteja me emocionando demais, mas eu preciso aproveitar o momento e me entregar um pouco a essa sensação tão gostosa.

Vou para a lanchonete mais animada do que o normal. Se eu não estivesse de bicicleta, com certeza sairia saltitando por aí.

Patrícia não veio comigo para a lanchonete, o que me deixou ainda mais satisfeita. Não tem nada pior do que ter que ficar de babá de alguém, principalmente quando esse alguém já fez um inferno em nossa vida.

— Vai ter um lual na praia hoje. Vamos? — Driquinha aparece ao meu lado com um sorriso animado. — O Henrique deve te convidar, mas eu já estou me antecipando.

— Lual no meio da semana?

— Seus pais disseram que vão também. Vai ser bem legal!

Recebo uma mensagem no Whatsapp de Henrique me chamando para o mesmo lual.

— Vocês combinaram de me convidar ao mesmo tempo? — Estendo a tela do celular com a conversa de Henrique para que a minha amiga leia. Ela dá uma risada.

— Não tenho culpa de termos um belo timing. — Driquinha joga o pano sujo no ombro sem esboçar nenhuma reação de nojo. — E aí, você vai?

— Claro que eu vou!

Respondo a mensagem de Henrique já pensando em qual roupa eu usaria para o evento.

O dia está perfeito. Patrícia resolveu não me atormentar, eu estou quase namorando e agora eu tenho um lual para ir com meus amigos e meu quase namorado.

Eu estou tão nas nuvens que sinto que não existe nada e nem ninguém que possa me puxar de volta para o chão.

Eu ainda não sabia, mas esse foi outro engano que cometi.

Meu Engano - Série Dance - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora