Capítulo 8 - Flagrante

9 3 58
                                    

O fim de semana chegou, o que significa que o sarau de dança está mais perto do que nunca de acontecer. Faltam umas duas semanas para o evento, e a cada semana que se passa, mais nervosa eu me sinto.

Decidi fazer um acordo com os meus pais a respeito da faculdade. Eles não queriam muito que eu fizesse dança, então me propus a continuar na faculdade de Administração por eles e em troca eles me deixariam fazer a segunda graduação em dança. Meus pais não só concordaram como se propuseram a pagar pelas duas faculdades.

— Querida, nós pedimos desculpas pelas coisas horríveis que te dissemos aquele dia. — Mamãe segura minhas mãos entre as suas e vejo seus olhos brilhando com lágrimas. — Era para eu ter pedido desculpas no mesmo dia, mas o orgulho não deixou. Me perdoe, por favor.

— Me perdoe também, Ju. — Papai afaga meu ombro. — Você nunca será um desgosto para nós. Você nos ajuda muito na lanchonete e nós nunca agradecemos. Obrigado.

— Eu amo vocês.

— Nós também te amamos, querida.

Seria um fardo continuar na faculdade de Administração, mas fazer dança iria atenuar bastante o incômodo em relação a isso. Eu começaria a faculdade no próximo semestre ou no ano que vem.

Me sinto mais leve ao terminar a conversa com meus pais, principalmente porque eu não iria trabalhar. Recebo uma mensagem de Henrique no celular e meu coração acelera ao ver seu nome na barra de notificações.

Henrique:
Venha até esse endereço e venha bem arrumada, por favor.
Pode trazer a Driquinha.

Estranho a mensagem, mas acato seu pedido me sentindo bem nervosa. Driquinha se empolga com a ideia de ir comigo, principalmente porque é provável que Leo esteja lá também.
O endereço indicado fica próximo da casa dos meus tios, mas um pouco distante para ir a pé, então Driquinha e eu pegamos um Vermelhinho para chegarmos até o local.

Na cidade de Maricá existem os vermelhinhos, que são ônibus gratuitos que circulam por toda a cidade. A parte ruim de ter esse benefício é ter que aturar ônibus lotados em horários fora de pico e muita gente com o sovaco fedendo, mas eu não gosto muito de reclamar.

Ao chegarmos em frente a casa que Henrique havia nos chamado, me deparo com uma música tocando do lado de dentro. Driquinha me olha de modo confuso.

— Ele nos trouxe para festejar? O avô dele morreu há menos de um mês!

Henrique abre a porta neste momento, e eu cutuco Driquinha para que fale mais baixo ou cale a boca. Ela se vira com os olhos arregalados ao ver que Henrique usa um terno preto. Leo está atrás dele e corre para abraçar sua amada. Ele me cumprimenta com um aceno de cabeça e um sorriso animado.

— Que bom que vocês chegaram! — exclama Leo, e percebo que ele está um pouco bêbado pela sua animação exacerbada.

Assim como Henrique, Léo também está muito bem vestido.

— O que está acontecendo aqui? — pergunto assim que entro na tal casa e me deparo com um casarão cheio de gente com bebidas nas mãos desfrutando da festa como se uma tragédia não tivesse acontecido há pouco tempo.

Eu também percebo que estou de vestido preto, combinando com Henrique.

— Meus pais iam fazer uma festa quando meu avô estivesse aqui. — explica, pegando uma taça de whisky da bandeja de um garçom. — Ele morreu e meus pais decidiram que não iriam cancelar a festa pois não era isso que meu avô iria querer.
Eu sabia que a família de Henrique era excêntrica, só não fazia ideia de que era tanto.

Meu Engano - Série Dance - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora