Capítulo 2 - O Twitter de Henrique

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Chego na escola de dança faltando cinco minutos para começar o contemporâneo. Esbaforida, deixo minha bicicleta bem presa no bicicletário que fica lá embaixo e subo as escadas, estranhando a movimentação no corredor.

Pessoas que eu nunca vi na minha vida, trajando uniforme de outra escola de dança, estão espalhadas pelos corredores e dentro da Motirô também.

Dou boa noite para todos e ajeito a postura no minuto em que sinto que estão me analisando. Minha postura sempre foi um lixo, então trato de pelo menos fingir que sou uma bailarina de verdade.

Meu professor conversa animadamente com uma mulher que nunca vi na vida. Jogo minha bolsa em um canto, tiro meus sapatos e piso no chão de linóleo. Me posiciono nos fundos do Studio de Dança e começo a me aquecer, ainda estranhando a movimentação.

As meninas que fazem aula comigo me cumprimentam e eu sorrio para elas.

— Gente, relaxem que essa invasão na Motirô é temporária. O Studio de Dança da GB veio passar algumas coreografias aqui, eles tem uma apresentação em uma escola aqui perto hoje. — Meu professor explica e a tal mulher que conversa com ele sorri. Ela deve ser a dona da academia de dança em questão.

Antes de começarmos a aula de contemporâneo, as alunas foram passar rapidamente as coreografias. Elas dançavam tão bem que eu fiquei impressionada. Meu sonho é dançar assim um dia.

Percebo que uma das meninas me encara furtivamente enquanto dança. Não entendo o porquê, mas ela parece debochar de mim. A conheço de vista de algumas apresentações e até sei que ela se chama Sofia e que gosta de implicar comigo, mas nunca falei com ela.

Quando meu professor começa a dar a aula de contemporâneo, noto que as meninas ainda estão ali, observando a gente, e que Sofia continua me encarando e cochichando com uma de suas amiguinhas.

Tento não prestar muita atenção nisso, mas se torna uma tarefa praticamente impossível quando meu professor nos libera para irmos beber água e a garota em questão ri bem na minha cara.

— Você dança muito mal. — Ela diz, vindo atrás de mim.

— Bom, eu estou aqui justamente para aprender a não dançar mal.

— Vai ser uma tarefa difícil para você. — Sofia me olha de cima a baixo. Decido que não vou mais dar atenção a ela e desisto de beber água. Volto para a aula e suspiro aliviada quando elas se vão.

— Vamos para a diagonal! — Meu professor grita e eu corro para ser a última da fila.

Driquinha abre a porta esbaforida.

— Você está atrasada. — Meu professor odeia atrasos e eu me pergunto porque minha amiga se atrasou tanto para a aula se ela sai no mesmo horário que eu.

— Eu sei, me desculpa! — Ela responde enquanto coloca meias nos pés e corre para trás de mim.

— Por que só chegou agora?

— Tive que resolver algumas coisas. — Driquinha responde, com um olhar estranho. — Quem eram aquelas meninas metidas que eu vi saindo daqui agora?

— São de um tal de Studio GB, ou sei lá. — observo as meninas executarem o giro que meu professor pediu.

— Elas são muito metidas. — comenta minha amiga. — Parece até que estão com um rei na barriga.

— A Sofia é a pior delas. Mas eu nem ligo. — dou de ombros, tentando esquecer das provocações dela.

Eu não sei de onde veio essa minha paixão de dançar, mas eu sempre gostei de mexer o corpo. Não tenho muita flexibilidade, mas faço o possível para me esforçar o máximo que posso. E eu amo a minha escola de dança.

Meu Engano - Série Dance - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora