03 - Akai Ito

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SOPHIE

Respire fundo, Sophie.

Basta inspirar o ar e expirar devagar até se convencer de que não há motivos para tanto nervosismo. Pelo menos é o que venho fazendo incansavelmente há uma semana desde quando decidi realizar a entrevista para a Beaufay, e também foi o que fiz durante todo o percurso até o atelier em Manhattan no início desta tarde. Sendo sincera, o caminho é longo o suficiente para incitar no mínimo três ataques de insegurança e, de bônus, uma vontade absurda de desistir e voltar correndo para casa. Uma reação comum no meu dia a dia, diga-se de passagem.

De qualquer forma, eu sabia que não podia desistir. Considerando o quão tentadora é a tal proposta, minha única opção era fingir costume. Eu tive alguns dias para tentar me convencer de que aquilo estava realmente acontecendo e de que sou, de fato, merecedora de algo tão grandioso, embora ainda fosse estranho pensar: por que eu? E mesmo com todos esses dias, continua não fazendo sentido.

Talvez "costume" não seja a palavra certa.

Mas então, quando coloquei os pés naquele lugar e vi tantos jovens aparentemente semelhantes a mim, com cabelos coloridos, roupas diversificadas, cada um com seu estilo, trabalhando com enormes sorrisos em seus rostos e um brilho único em seus olhos, a vontade de voltar deu lugar a vontade de pelo menos tentar. Porque tentar não faz mal, não vai me arrancar nenhum pedaço. Tentar é o que vai me dar a resposta que preciso. E tentar, muitas vezes, é um ato de coragem que eu deveria ter com mais frequência. Só que, tão repentina quanto essa vontade veio, ela passou. No momento em que atravessei mais uma porta e dei de cara com Catherine Beaufay em pessoa, eu senti minhas pernas fraquejarem novamente.

Como se já não bastasse ser a herdeira de tudo isso, a mente genial por trás de boa parte do catálogo da Beaufay e a pessoa que havia me convidado para essa entrevista, sabe-se lá porquê, ela ainda conseguia ser mais bonita pessoalmente. Eu não estava esperando por isso.

A mulher, um pouco mais alta do que eu, me fitou com algo que parecia ser admiração. Seus olhos azuis, apesar de imponentes e intimidadores, carregavam um certo carisma e gentileza. Talvez seja por causa dos cílios longos naturais que lhe davam um ar de inocência. Em contrapartida, os lábios cheios e bem desenhados contrastavam perfeitamente com os traços delicados e de repente ela parecia a imagem ideal de uma femme fatale em um filme francês. Uma mistura de sensualidade e pureza na dosagem certa. Uma beleza elegante, surreal.

É isso. Não há palavra melhor para descrever Catherine Beaufay do que "elegância". Mas tinha algo a mais. Algo nela me parecia familiar. Embora ainda estivesse nervosa, por algum motivo eu me sentia acolhida em sua presença. Não consigo explicar a sensação da forma como gostaria, mas se tivesse um sabor, seria morango.

Eu amo qualquer coisa com sabor de morango.

Só percebi que a encarei exageradamente quando ela sorriu, se levantando para me receber. Naquele momento eu senti meu rosto inteiro esquentar e podia afirmar que minhas bochechas estavam coradas, mas se Catherine percebeu, não comentou.

— Estava começando a achar que não viria — ela disse em um tom descontraído, com uma voz relaxante e um sotaque carregado extremamente prazeroso de ouvir. Minhas pernas fraquejaram mais uma vez. — Sinta-se em casa, Srta. Hayes.

— O-Obrigada.

Mas que merda.

— É um prazer te conhecer — a mulher estendeu uma mão que eu prontamente apertei. Em seguida, puxou uma poltrona para mim. — Sente-se, por favor.

Rêverie | ⚢Onde histórias criam vida. Descubra agora