15 - Tudo que vai, volta

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SOPHIE

Eu acordei estranhamente feliz e disposta essa manhã, apesar do jet lag. Para ser honesta, não esperava conhecer essa sensação após uma viagem tão curta, mas acredito que minha falta de costume é o que torna tudo mais divertido. É um daqueles problemas chiques que todo mundo merece ter pelo menos uma vez.

Mesmo cansada, levantei sem dificuldade. Queria chegar o mais cedo possível no atelier e me entreti editando algumas fotos que tirei em Paris durante todo o percurso, ficando completamente alheia a passagem do tempo. Entre uma e outra, encontrei minha selfie com Catherine no topo da Torre Eiffel e sorri com as memórias que me trouxe. Modéstia à parte, nós estávamos deslumbrantes, mas não acho que seja por esse motivo que meu coração começou a bater tão rápido. Ele já estava assim desde o primeiro dia longe de Nova Iorque.

Talvez eu devesse procurar um médico.

Neguei com a cabeça, dessa vez deixando uma risada baixa escapar. As pessoas perto de mim naquele vagão de metrô provavelmente me viam como louca e eu não poderia me importar menos. Estava ocupada demais tentando deixar minha ficha cair. E convenhamos, não há muito o que fazer além disso. Minha vida está, oficialmente, virada de cabeça para baixo.

A verdade é que Catherine tem um poder gigantesco sobre mim. Um poder que ainda não me machucou como eu temia que acontecesse. Tirando, é claro, o fato de que eu não deveria me sentir atraída pela minha chefe. Isso sim doi bastante. Mas não é uma dor ruim. É uma dor prazerosa, do tipo que qualquer garota boazinha sente no fundo da alma quando faz algo que claramente não deveria fazer. Uma dor que carrega o peso do proibido, mas que ao mesmo tempo é gostosa demais para não ser apreciada. É como um pecado que ninguém te julgaria por cometer. E, que inferno, eu cometeria de novo e de novo sem cansar.

Cruzei as pernas e olhei para os dois lados discretamente apenas para confirmar se todos ali ignoravam minha existência. Tudo bem se me vissem sorrindo como uma idiota, mas não posso deixar que leiam minha mente. Tem diversos pensamentos sujos vivendo nela nesse exato momento. 

Inclusive, isso me lembra que tenho muito o que contar para Holly. Até então estive preservando ao máximo a privacidade de Catherine, mantendo nosso envolvimento em segredo até mesmo da minha melhor amiga, mas não consigo mais. É difícil aguentar sozinha enquanto estou constantemente à beira de um surto. Tirar o direito à fofoca de uma mulher como eu deve ser um dos piores tipos de tortura moderna.

Holly (07:15): Você ainda não me mandou o resto das fotos para avaliar.

Holly (07:15): Também não me contou os detalhes da viagem.

Holly (07:15): Você é uma péssima amiga. PÉSSIMA.

Eu (07:16): Eu cheguei muito cansada ontem e era domingo, poxa. E hoje já estou indo trabalhar. Dá um desconto.

Holly (07:16): Credo. A chefinha gostosa não deu folga pra vocês?

Eu (07:16): Claro que deu, mas só para quem quis.

Eu (07:17): Eu não quero folga. Estou indo trabalhar muito feliz.

Holly (07:17): Acho justo. Não é difícil entender. Se eu tivesse Catherine Beaufay como chefe, seria a primeira a chegar.

Holly (07:19): Aliás, tem um site francês falando poucas e boas sobre ela. Não sei se você já viu, mas hoje postaram uma matéria que me arrancou boas risadas.

Eu (07:19): Que matéria?

Holly (07:19): Espera, vou procurar para te mandar.

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