SOPHIE
Às vezes tenho a sensação de estar vivendo uma semana inteira dentro de um único dia porque não deve ser normal que tantos pensamentos perturbem a mente de um ser humano em um período de apenas vinte e quatro horas, mas dizem por aí como não há nada tão difícil que não possa piorar e eu confirmo. Agora, meu novo problema tem nome e sobrenome.
Catherine Beaufay.
Desde que tive aquele sonho que coincidiu com aquela noite em sua casa, não consigo passar mais do que quinze minutos ininterruptos sem pensar nela e em suas frases e olhares sugestivos. Tudo, absolutamente tudo entre Catherine e eu parece ter duplo sentido, e juro que não sei em que momento isso começou a acontecer e o porquê, mas sei que ela provavelmente sente o mesmo. E embora nenhuma de nós esteja forçando essa situação, não posso deixar de me questionar o quanto de suas atitudes são realmente pura gentileza, porque nada é muito claro pra mim.
Naquele dia, eu estava mesmo decidida a enterrar a "mulher dos meus sonhos". Não importava se ela aparecesse novamente, eu já havia descoberto de quem se tratava e pensava que assim seria mais fácil ignorar seguir a vida. É claro que não poderia estar mais enganada. A verdade é que, por mais que estivesse tentando, eu não conseguia obter sucesso algum. Quanto mais me afastava de Catherine, mais queria voltar atrás. Quanto mais ignorava sua vontade de querer ser minha amiga, mais eu desejava conhecê-la, e isso estava me matando por dentro porque algo me dizia que ela não queria ser de fato uma amiga qualquer. Eu disse a mim mesma que não podia sequer tentar descobrir, mas era o que mais ansiava, e até quando conseguiria lutar contra?
Por Deus, essa mulher é realmente irresistível de todas as formas e isso vai acabar me enlouquecendo.
Confesso que pra mim ainda é estranho ter uma chefe tão presente e tão atenciosa e talvez seja por esse motivo que não entendo suas intenções, mas ao mesmo tempo sei que ainda não estou louca, que minha mente não é tão fértil e que não poderia estar inventando paranoias sem nenhum respaldo. Os olhares, os agrados, o bilhete... Tudo parece demais e é exatamente por isso que recuso suas caronas ou qualquer um de seus convites. Não é porque eu quero me fazer de difícil. Já passei dessa fase há tempos. É porque eu ainda tenho muito o que entender. Não é fácil agir quando você não sabe quais são as reais intenções de alguém. Se Catherine quer algo comigo que não seja só amizade, o que eu deveria fazer? Sei que ela me chamou para a Beaufay pelo meu trabalho, mas e se não tiver sido só por isso?
O que essa mulher realmente quer comigo?
Seja o que for, minha profissão é sagrada pra mim. Vem sempre acima de quase tudo. Se estou aqui hoje, tenho que fazer valer a pena e não posso deixar que algo ou alguém estrague essa oportunidade de ouro que ganhei. Meu medo é justificável e a própria Catherine sabe disso. Embora eu também queira grudar nela o tempo todo, não posso dar munição para que continuem me acusando de coisas que nunca nem pensei em fazer. E digo isso porque já está acontecendo.
Bom, não diretamente, mas sei que as piadinhas são pra mim. Não pretendo contar à ela porque detesto qualquer tipo de confusão e não quero que pareça que não consigo resolver meus problemas sozinha, mas desde o final da semana passada e principalmente ontem, quando alguém percebeu que eu havia ganhado um lanche especial, algumas coisas nada agradáveis começaram a ser ditas propositalmente na minha frente.
"Deve ser bom ser privilegiada pela chefe. O que será que eu preciso fazer para ganhar créditos com ela?", uma menina perguntou. "De onde eu vim, chamam isso de Teste do Sofá. Talvez você consiga se tentar", e outra respondeu. E tudo bem, eu até entendo a falta de respeito comigo e entendo que se sintam ameaçados por eu ter chegado aqui tão de repente, mas não entendo não respeitarem a mulher que aparentemente sempre foi respeitosa com todos. Catherine não merece isso. Até porque, para o conhecimento da equipe, ela ainda é casada.
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Rêverie | ⚢
RomanceSophie Hayes tem três objetivos: construir seu império no mundo da moda, descobrir a identidade da mulher que há anos visita seus sonhos e ficar longe de romances. O último era o único que parecia alcançável e sob controle no momento, ou pelo menos...