SOPHIE
Nova Iorque, Estados Unidos.
Maio.
Você sabe que a semana vai começar bem quando o aleatório da sua playlist dos anos 2000 acerta em cheio nas músicas.
Ou talvez isso seja apenas otimismo demais da minha parte.
O fato é que eu acordei um tanto nostálgica essa manhã por algum motivo que não sei explicar. No momento tocava Big Girls Don't Cry da Fergie em um volume agradável, nem muito alto, nem muito baixo, e eu vibrava como se estivesse ouvindo pela primeira vez. Se não estivéssemos tão focadas no trabalho, Holly e eu provavelmente estaríamos cantando com todo o nosso fôlego como sempre fazíamos quando tínhamos uma folga da nossa vida adulta.
Minha melhor amiga estava deitada no chão do atelier improvisado que construímos em um espaço desocupado na minha casa enquanto folheava um catálogo de tecidos. Nós precisávamos correr contra o tempo para escolher os melhores deles para a nova coleção da nossa marca e é uma tarefa relativamente cansativa para realizar entre apenas duas pessoas, mas Holly parecia realmente concentrada e decidida a exercê-la da melhor forma possível. Cuidar de qualquer coisa que não esteja envolvida com desenhos é sua parte preferida porque, segundo ela, pensar demais lhe dá dor de cabeça. De fato, o processo de conseguir inspiração é exaustivo e trabalhoso, mas eu sempre gostei do lado criativo da coisa. Pensar, sentir, desenvolver e rabiscar é o que me dá vontade de continuar tentando. De vez em quando até saem bons croquis dessa cabecinha afetada.
— Não tem uma música um pouco mais animada nessa sua playlist? Estou começando a ficar xoxa, capenga, manca, anêmica, frágil e inconsistente — Holly perguntou, agora sentada com o catálogo sobre as pernas cruzadas.
Só então eu percebi que havia começado a tocar Russian Roulette, da Rihanna.
— Vou fingir que não ouvi essa heresia — falei, rindo.
— Eu amo elas, mas não estou a fim de me matar hoje. Faz o favor de trocar essa playlist.
— Dá um tempo, Holly, eu to tentando me concentrar para terminar esses dois últimos croquis e preciso ter meu momento nostálgico para conseguir inspiração. Você não entenderia.
— Eu duvido que a Vivienne Westwood tenha produzido a coleção Portrait ouvindo Fergie — falou, revirando os olhos, e logo pegou o celular que estava em cima da mesa.
— Claro que não. A coleção foi lançada em 1990. Big Girls Don't Cry é de, sei lá, 2008?
— Tanto faz. A única certeza que eu tenho é que ela provavelmente desenhava ouvindo Girls Just Wanna Have Fun — e então, a música de Cyndi Lauper começou a tocar na caixa de som.
— Como você espera que eu me concentre ouvindo dance-pop?
— Se vira, jovem padawan — ela deu de ombros e continuou o que fazia. — Oh, esse tecido é bom! Vamos ter que fazer algo com ele.
— Se eu pelo menos conseguisse terminar os croquis — suspirei em frustração e enfiei o rosto no papel, deixando minha testa bater com tudo na madeira da mesa.
— Quando eu cheguei hoje cedo, você disse que seria uma semana produtiva. O que mudou?
— Minha criatividade, ou a falta dela. Mas sim, vai ser uma semana produtiva. Eu só preciso descansar um pouco.
— Eu também acho.
Eu me levantei e sentei ao lado da minha amiga no chão, ignorando completamente aquele rabisco inútil. Estava conformada de que não adiantava forçar. A criatividade surgia quando bem queria.
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Rêverie | ⚢
RomanceSophie Hayes tem três objetivos: construir seu império no mundo da moda, descobrir a identidade da mulher que há anos visita seus sonhos e ficar longe de romances. O último era o único que parecia alcançável e sob controle no momento, ou pelo menos...