Rêverie | ⚢

10 - Fogos de artifício

CATHERINE

Essa noite deveria ser perfeita.

É o aniversário da minha melhor amiga, um momento prazeroso, de diversão, e a oportunidade que eu teria para finalmente tentar conversar com Sophie sobre o que aconteceu - ou o que quase aconteceu - dias atrás, mas meu pior pesadelo resolveu me atormentar logo cedo pela manhã.

Antoine apareceu na porta do meu apartamento sem aviso prévio, carregando consigo uma mala pequena e um sorriso debochado que deixava claro suas intenções. Disse que estava ali para a festa de Cece com a desculpa de que não seria adequado uma mulher casada frequentar "esse tipo de evento" sozinha, mas ambos sabíamos que sua maldita campanha era sua real preocupação. Ele estava apavorado com as matérias que começavam a sair, e juntando isso ao fato de nunca ter gostado da maioria dos meus amigos, encontrou a chance perfeita para me controlar. É um comportamento frequente. Costumava acontecer até mesmo em momentos que eu julgava serem felizes em nosso casamento, mas eu era boba demais para perceber que nunca se tratou de ciúmes ou cuidado. E embora eu já saiba exatamente como Antoine costuma agir, não esperava tamanha cara de pau de sua parte para vir de tão longe só para suprir suas necessidades. A ideia não chegou sequer a passar pela minha cabeça.

Talvez, no fundo, eu ainda seja um pouco ingênua quando se trata desse homem. Eu deveria saber, mais do que ninguém, tudo que Antoine é capaz de fazer para conseguir o que quer. Deveria ter previsto que o aniversário de Cece seria um evento grandioso e que estaria nas mais diversas páginas de fofoca do mundo todo. Deveria estar sempre preparada para o pior. Duvidar já não poderia mais ser uma opção. Às vezes sinto que estou presa em uma bolha que eu mesma criei. A bolha de que tudo fora de Paris é tranquilo, de que aqui estou segura e que sou apenas uma adulta normal tentando aproveitar minha vida sem problemas, mas nada disso passa de um devaneio. E é cansativo. É extremamente cansativo. A realidade é sempre diferente do que desejo.

Eu precisava tanto que essa noite fosse especial.

Os últimos quatro dias foram crueis comigo. Desencadearam uma ansiedade que há um bom tempo eu não sentia e tudo isso porque não consigo parar de pensar em uma garota que parece não me dar a mínima. Para ser honesta, já nem sei mais se sou eu que estou evitando Sophie ou se é ela que está me evitando, mas desde aquele momento no meu carro, só trocamos palavras que fossem de fato necessárias e quase nenhum olhar. Tem sido uma tortura lembrar de cada detalhe daquele dia sempre que fecho os olhos para dormir porque foi tão divertido e estávamos nos entendendo tão bem, mas eu tinha que estragar tudo ultrapassando os limites simplesmente porque não tenho a capacidade de resistir a um desejo que sequer faz sentido.

Eu nunca me interessei por nenhum dos meus funcionários antes e sei que não deveria. Admito que é problemático e que perdi completamente a noção. Talvez lidar com as consequências disso, me sentindo um lixo por ter deixado Sophie desconfortável e por ter a colocado em uma situação em que ela provavelmente também se culpa por estar, seja meu castigo. Mas agora já aconteceu. Tudo que me resta é pedir desculpas e resolver o que precisa ser resolvido, e quero fazer isso hoje. Antoine deveria ser o menor dos meus problemas, e seria, se tivesse ficado quieto em Paris.

Imbecil de merda, que um meteoro caia na sua cabeça agora mesmo.

- Está tão calada, Catherine. No que você tanto pensa? - ele perguntou em um tom de desdém.

Estávamos sentados no banco de trás do carro dirigido pelo meu motorista a caminho do hotel que Cece havia reservado para a festa. O salão de eventos é enorme e eu esperava que se o meteoro não caísse, Antoine pudesse pelo menos se perder por lá.

- Não tenho nada a falar com você, mas já que insiste em ouvir minha voz, é bom que saiba que eu não pretendo bancar o casal feliz essa noite. É a festa de aniversário da minha melhor amiga e vou me divertir ao lado dela sem restrições. Se quer tanto estar presente, tudo bem, mas finja que eu não existo - ele riu.