08 - Resistível, mas não tanto

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CATHERINE

Duas semanas passaram tão rápido que por um momento eu comecei a duvidar da minha percepção de tempo e ainda não decidi se isso é bom ou ruim. O tempo está passando, ótimo, significa que estou viva. Por outro lado, estamos duas semanas mais perto da Paris Fashion Week e eu preciso fazer um esforço ainda maior para não surtar. E não, isso não passa de um drama exagerado meu, porque está tudo ocorrendo como o planejado.

Minha produção melhorou consideravelmente nesses últimos dias e não sei ao certo de onde está vindo tanta inspiração tão de repente, mas posso dizer que Sophie tem me ajudado bastante. Todas as nossas conversas têm sido puramente profissionais e falar sobre moda aguça minha criatividade da forma mais natural possível. Além disso, a garota se certifica de me manter atualizada sobre o assunto e cercada de referências o tempo todo, e assim, o conceito de Primavera-Verão que queremos para a Beaufay esse ano fica cada vez mais claro na minha mente.

Sou muito grata a outros profissionais que me ajudam a crescer e espero sempre poder retribuí-los da mesma forma. Essa troca é algo que considero essencial na indústria da moda. E é claro que os estilistas da Beaufay, sejam os daqui ou os de Paris, apresentam um trabalho excepcional todos os dias, mas não posso deixar de dar os devidos créditos à minha novata. Sophie vem se mostrando cada vez mais engajada na equipe e não tem nada que ela produza que não seja digno de aplauso. Quando minha mãe tirou alguns minutos do seu dia para me telefonar apenas para elogiar minha escolha de trazê-la para a equipe, eu percebi que havia, de fato, tomado a decisão certa.

O que posso dizer? Às vezes eu acerto mesmo. Não faço nada que não seja bem calculado.

Porém, quando algo melhora tão nitidamente, outra coisa tem que piorar. É sempre assim porque, ao que parece, Catherine Beaufay não pode ter tudo que quer, na hora que quer. E acho que tudo bem. Felizmente nunca fui uma criança mimada que não conseguia lidar com frustrações. Eu apenas me perguntava o que poderia ter acontecido e o que poderia fazer para melhorar e seguia minha vida normalmente. Mas, nesse caso em especial, ainda não tenho nenhuma das respostas. A questão é que, quanto mais Sophie e eu conversamos sobre trabalho, mais o clima esfria entre nós em aspectos pessoais. Não tenho motivos para questioná-la sobre isso, mas sei que há algo errado.

Já não falávamos mais sobre nossos hobbies ou sobre músicas e livros, nem compartilhamos lançamentos de filmes e séries. A última coisa que descobri sobre ela é que a sua maior inspiração é a Vivienne Westwood, o que já me parecia bastante óbvio. E, droga, eu realmente odeio ser muito dramática, mas sentia falta das conversas aleatórias e sem pretensão e dos cinquenta minutos que passávamos sozinhas sempre que lhe dava carona. Sophie já não aceita mais nenhuma.

Quando eu a procuro, sempre escuto alguém falar que ela já foi embora, e pode ser idiotice minha pensar, mas parece proposital, como se estivesse me evitando. Quanto mais tento tratá-la como uma amiga, mais Sophie parece me enxergar apenas como uma chefe, diferente de todos os outros que permitem e aceitam minha aproximação. Eu entendo que não é todo mundo que está acostumado a ter esse tipo de relação com uma figura de autoridade e que a tendência é evitar qualquer intimidade por diversos motivos. Não tiro sua razão. Mas, honestamente, também não foi fácil largar minha outra equipe e começar de novo com outra. Estou tentando fazer o melhor que posso e ainda assim não estou completamente satisfeita.

— Bom dia, crianças — ignorei a bagunça da minha mente e cumprimentei a todos ao entrar pela porta do atelier. Estava um pouco atrasada, mas era por uma boa causa. — Passei em uma cafeteria aqui perto e comprei lanches.

— Opa, bom dia — Camila respondeu, empolgada.

— Senhor, eu te pedi uma chefe e tu me deste alguém a tua imagem e semelhança — Lucas juntou as mãos, olhando para o teto, e eu ri como sempre fazia toda vez que ele abria a boca.

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