SOPHIE
O céu estava azul e ensolarado naquela manhã como se as nuvens estivessem de folga. Mesmo assim, não estava quente. A temperatura continuava agradável como o habitual durante o mês de maio. Talvez por isso tivessem tantas pessoas caminhando tranquilamente ao redor do Central Park.
Trabalhar com essa vista é uma bênção, considerando que a paisagem se resume a prédios de diversos tamanhos e formas em qualquer outra área da cidade. O mínimo de contato com o verde me passa uma sensação ilusória de que estou respirando um ar um pouco mais limpo, e pelo menos em alguns aspectos do dia a dia, isso deve bastar. De brinde, ainda posso dizer que a natureza aguça minha inspiração de alguma forma. Um dia bonito como esse, com pessoas andando pra lá e pra cá com roupas diferentes e de estampas variadas, é ideal para entender na prática o que está sendo usado ultimamente. Moda é, acima de muitas coisas, observação. É o estudo do ser humano, para ser mais exata. Afinal, fazemos moda para nós mesmos e somos nós a quem devemos compreender.
Eu torcia para que a vista daquela janela, tão cheia de vida cotidiana, me ajudasse a encontrar a minha própria primavera dentro de mim. E, sorrindo sozinha, discretamente, voltei a dar atenção para o papel em que antes desenhava. Desde o dia anterior, estava tentando adaptar alguns dos meus croquis antigos que nunca foram usados por não combinarem com a estética da HYS, mas que, de certo modo, pareciam algo que a Beaufay lançaria depois de alguns aprimoramentos. Eles só precisavam de mais originalidade e mais do que Catherine havia me sugerido, mas ainda assim, não é uma tarefa fácil.
O atelier é realmente muito bom, a mulher que o lidera é incrível e as pessoas parecem mesmo muito acolhedoras, mas mudanças sempre foram meu ponto fraco. Eu normalmente preciso de um bom tempo para me acostumar a novas rotinas e dessa vez não seria diferente, ainda mais sentindo falta do meu próprio espaço. Embora eu tivesse que testar meus limites diariamente com Holly me perturbando a cada minuto, com sua voz se misturando as letras das músicas que tocavam na minha playlist, a sensação de familiaridade era indiscutível. Contudo, não posso negar que também gosto de desafios, e agora tenho um ainda mais difícil a vencer: o cheiro de perfume caro que desviava meu foco e atraía toda a minha atenção para a mulher que passava ao meu lado junto a ele, sempre sorrindo gentilmente. Toda a concentração que a playlist jazz poderia me dar, era roubada por Catherine com muita facilidade.
— ...Você não acha, Sophie? — ouvi alguém me chamar e franzi o cenho, confusa.
Eu ainda não havia conversado muito com ninguém ali.
— Perdão?
— Estamos falando de homens, mais precisamente do irmão gato da Catherine — Lucas falava baixinho enquanto Lily e Camila sorriam como se estivessem escondendo um segredo.
— Ele é lindo, não acha? — a de cabelo rosa perguntou.
— Não lembro de já ter visto alguma foto dele.
— Aqui — Camila me entregou seu celular. — Eu acho ele muito lindo, claro, mas a Lily é completamente obcecada por esse homem.
— É só uma quedinha, tá?
A foto parece ser recente e talvez ele não tenha nem 30 anos ainda, mas apesar de ser mesmo um rapaz bonito, meu olhar mais atento foi direcionado para a mulher ao seu lado. Uma Catherine um pouco mais baixa do que o irmão, usando uma saia esportiva azul marinho e uma blusa polo sem mangas da mesma cor. O tênis e o boné eram brancos e em seu ombro estava apoiada uma bolsa cheia de tacos de golfe. Pela primeira vez eu a vi mostrar um pouco mais de pele e percebi que suas pernas e braços são torneados, não de forma exagerada, mas o bastante para deixar claro que ela segue alguma rotina de exercícios.
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Rêverie | ⚢
RomanceSophie Hayes tem três objetivos: construir seu império no mundo da moda, descobrir a identidade da mulher que há anos visita seus sonhos e ficar longe de romances. O último era o único que parecia alcançável e sob controle no momento, ou pelo menos...