Intenções

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Depois que o bonitão tatuado me deixou na porta de casa, eu fui logo tomar um banho, não lavei o cabelo pra não ter que dormir com ele molhado. Já tinha comido na casa do Falcão, então nem quis jantar por aqui.

Minha mãe não tava em casa, e Rebeca tava trancada no quarto dela. O cesto de roupa tava transbordando de tanta roupa suja, e pra evitar esquentar minha cabeça depois, decidi lavar tudo pela noite mesmo.

Aqui não temos máquina de lavar, então é tudo na mão mesmo, no tanquinho dos fundos. Minha mão fica cheia de calo de tanto esfregar, mas fazer oque né, vida de pobre é foda mesmo.

- Qual foi, vi o Tauan te deixando aqui na porta de casa - Rebeca se escorou no batente da porta

- Que que tem? - continuei esfregando a peça de roupa - vem com as suas ideias tortas não, sou você não Rebeca - já cortei logo o papo dela

- Falei nada, oh maluca - ela revirou os olhos - tá aprontando o que? - questionou. Agora ela tá mansinha, mas é puro fingimento, essa aí só quer informação pra na hora certa dar o bote, sempre assim

- Tô aprotando nada não - dei de ombros - tô fazendo um trabalho extra aí - comecei a estender as roupas

- Que trabalho? - perguntou, arqueando a sobrancelha de vaca louca dela

- Toma conta da sua vida, namoral - revirei os olhos, terminando de estender as roupas e passando por ela, indo direto pro meu quarto

(...)

Terça feira, seis da manhã e eu sofrendo pra chegar na escola, que é um pouco distante de casa. Por sorte hoje eu entro mais tarde na escola, mas mesmo assim, não tinha muito oque fazer em casa, então saí no horário de sempre. Beatriz disse que não ia pra escola hoje, e eu até fiquei aliviada, não ia precisar ouvir ela falar de macho o dia todo.

Meu cabelo tava preso em um coque, não tive saco pra arrumar ele, na verdade não tava com saco pra nada. Noite passada assim que minha mãe chegou em casa arrumou o maior auê, dizendo que não era pra eu ter lavado as roupas de noite, que não ia secar por causa do sereno, mas eu sei que se não tivesse lavado, ela teria falado do mesmo jeito, eu tava por um fio de falar poucas e boas pra ela, e eu falei. O resultado? Um tapa na cara.

Exatamente, ela meteu a mão já minha cara sem dó, obviamente não foi a primeira vez, mas foi tão forte que apesar de já ter passado horas, meu rosto estava vermelho e também um pouquinho inchado, já que eu chorei a madrugada toda. Me sinto esgotada dessa situação, todo esse desprezo e pouco caso que ela tem comigo. Porra, isso não é normal não, não é esse tipo de coisa que uma mãe deve fazer com uma filha, não mesmo.

Tava perdidinha nos meus pensamentos, que me assustei quando alguém gritou meu nome - Tá dormindo aí, pô - Pedro segurou meu braço - ia atravessar na frente da moto

- Caralho, viajei - esfreguei a mão na testa, tô cheia de sono

- Malucona, bora ali tomar um café - ele me puxou pra padaria, no outro lado da rua

Já tinha algumas pessoas por lá, e eu fiquei surpresa vendo que o Falcão tava lá com o filho dele. Pedro me arrastou pra mesma mesa.

- Bom dia - forcei um sorriso

- Bom dia, branca - ele me mediu de cima abaixo, me deixando sem jeito

- Bom dia, Brian - passei a mão no cabelo dele, que só me encarou e sorriu tímido

- Senta aí, vou pedir um negocio pra tu comer - Pedro puxou a cadeira pra mim

- Eu agradeço - ri, me sentando e tirando a mochila das costas

Ele foi até o balcão, me deixando lá com o Falcão e o Brian que nem falava nada, tava mexendo em um celular todo concentrado.

- Tá tranquila? - Falcão me encarou, literalmente como um falcão, com aqueles olhos dele. Jesus - que isso aí no teu rosto? - apontou

- Nada - neguei, passando a mão no rosto

- Vai mentit pô? - ele fechou a cara - tá vermelho, parece que apanhou

- Não foi nada - insisti, tentando fugir do assunto. Ninguém tem que saber da minha vida não

Ele não insistiu mais, e ficou em silêncio, ainda me encarando.

O Pedro voltou com um suco e uma coxinha pra mim, começou a puxar assunto e conversar comigo. Durante todo o tempo eu percebi o Falcão me olhando. Doido.

- Bora lá, te levo na escola - Pedro levantou, assim que eu terminei de comer

- Eu levo ela - Falcão também levantou - faz teu corre lá - o Pedro concordou, e se despediu de mim

Vagabundo, era pra ter insistindo pra me levar - não precisa, vou a pé mesmo - forcei um sorriso, depois que o Pedro foi embora

- Vou te levar, pô - insistiu - bora Brian - chamou por ele, que levantou e segurou na mão do pai

Ele atravessou a rua, e meio sem jeito eu fui atrás. Ele abriu a porta de trás, colocando o Brian lá, e em seguida abriu a porta do passageiro pra mim - entra aí - me encarou

- Valeu - agradeci, entrando no carro dele, que é tão lindo por dentro quanto por fora

Ele deu a volta, entrando no lado do motorista - Fala mais sobre você, branca - ele puxou assunto, depois de dar partida com o carro

- Não tem muito oque falar - me ajeitei no banco

- Tá no último ano né? - concordei - é de maior? - assenti de novo

- Dezessete anos - ele me deu uma encarada, e voltou a prestar atenção no volante

- Pai, meu celular descarregou - Brian disse, do banco de trás, e estendeu o celular pro Falcão

- Eu falei que ia desligar, pô - ele pegou o celular, colocando no porta luvas, um celular não né, um iPhone. Um garoto desse tamanho tem iPhone e eu aqui com o meu Samsung caindo aos pedaços

O restante do caminho foi em silêncio. Eu já tava mais tranquila na presença dele e não era a mesma tensão de antes.

Ele não demorou a estacionar o carro na calçada de frente pra escola. Já tinha muitos alunos por ali, mas ainda não era o meu horário de entrar.

Crime PerfeitoOnde histórias criam vida. Descubra agora