Afeto

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Brian já tinha sido atendido. Foi só uma crise alérgica, depois que ele comeu strogonoff de camarão na casa da mulher que estava cuidando dele, ela não sabia que ele é alérgico a camarão.

Já passava das onze da noite, e ainda estávamos no posto. Ele estava tomando soro, e quase dormindo sentado na cadeira. Foi um sacrifício pra ele deixar colocarem a agulha no braço dele, nem o Falcão conseguiu acalmar ele, mas eu conversei com ele e ele se tranquilizou.

Eu estou sentada em uma cadeira, próxima à ele enquanto ele segura a minha mão, apertando de vez em quando. Falcão tá escorado no patente da porta, de braços cruzados.

- Vou pedir pra te levarem em casa - ele chamou a minha atenção

- Não precisa, posso ir sozinha - neguei, me levantando e tendo que soltar a mão do Brian, mas no mesmo instante ele abriu os olhinhos que já estavam fechados

- Onde você vai? - ele perguntou, assustado - fica comigo Isa..- ele nunca tinha me chamado assim, foi a primeira vez

Eu fiquei sem saber oque falar, por mais que soubesse que ele estava se acostumando com a minha companhia, não sabia que era tanto.

- Vou ficar mais um pouco..- voltei a me sentar, e segurar a mão do garoto - Já tá acabando..- disse pra ele, vendo o seu desconforto com a agulha enfiada no braço

Ele voltou a fechar os olhos, e logo caiu no sono. Eu me encostei na cadeira e também fechei os olhos.

Ouvi quando a porta fez barulho, e abri os olhos vendo que o Falcão não estava mais ali.

Depois de uns dez minutos uma enfermeira veio tirar o acesso do braço dele, dizendo que já estava tudo bem com ele e que já podia ir pra casa.

- Você quer que eu chame o pai pra pegar ele? - a mulher baixinha perguntou, vendo que ele estava dormindo, e ficaria difícil pra eu pegar ele no colo

- Não precisa - forcei um sorriso, e ela concordou, saindo da sala

Ajeitei minha saia, e com muita dificuldade peguei o Brian no colo. Ele é grande e pesado. Ele nem se mexeu, continuou dormindo.

Quando eu ia abrir a porta, o Falcão entrou.

- Ele é pesado pô - tentou tirar ele dos meus braços, mas o garoto enroscou os braços no meu pescoço, e não quis me lagar

- Não quero..- ele resmungou, ainda de olhos fechados

- Para de birra Brian - Falcão rebateu, ainda tentando pegar ele

- Tá tudo bem, eu levo ele até o carro - disse, vendo que ele não me largaria por nada, e estava comendo a puxar o meu cabelo, tentando se segurar

Falcão só assentiu, e a gente seguiu pra fora do posto. O carro dele estava estacionado ali, e ele abriu a porta de trás - Coloca ele aí - eu concordei, e dessa o Brian não relutou em deitar no banco

Ele abriu a porta do passageiro pra mim, e eu entrei, ajeitando a minha saia que toda hora ficava subindo. Ele deu a volta no carro, entrando no lado do motorista.

- O moleque gostou de tu..- ele comentou, depois de dar partida no carro

- Pelo jeito sim..- concordei, encarando o rua do lado de fora. Os vidros estavam fechados.

- Tá suave? - ele colocou a mão na minha coxa, e foi inevitável que eu não me arrepiasse

- Uhum..- assenti, sentindo sua mão apertando minha coxa de leve

Eu percebi que ele ia falar algo, mas o toque do meu celular quebrou o silêncio. Peguei no bolso da saia, vendo que era a minha mãe.

- Faz silêncio por favor.. - pedi pra ele, que só assentiu - Oi mãe.. - atendi

- Onde você , Isabella? Vai ficar piranhando por tarde da noite agora? Era oque tava faltando você fazer - ela já veio logo com sete pedras na mão pra me tacar

- Eu com a Bia mãe..- menti, mordendo a pontinha da minha unha. Ainda sentindo a mão do Falcão da minha perna, fazendo carinho

- Deixa de ser mentirosa - ela alterou a voz - A Beatriz acabou de sair daqui, disse que tava procurando você. Onde você Isabella? - rebateu, com raiva

Puta que pariu. Tenho certeza que ela fez de propósito, eu conheço aquela lá. Sei que ela joga sujo quando quer ferrar alguém.

- Eu chegando em casa, preciso desligar - foi só oque eu consegui dizer, antes de encerrar a ligação, suspirando

- Qual foi? - Falcão me encarou, e eu só neguei com a cabeça, em silêncio

- Me deixa uma rua antes da minha, por favor - pedi

- Por que? - insistiu em questionar

- Minha mãe não pode me ver saindo do seu carro, já tenho problemas demais - disse

- Tranquilo pô - ele só assentiu, e tirou a mão da minha coxa. Ele ficou com raiva? Pelo amor de Deus

A gente seguiu em silêncio, e logo ele estacionou o carro uma rua antes da minha, como eu havia pedido.

- Valeu pela carona..- disse, tentando abrir a porta do carro, mas estava trancada

- E aquela meta lá? Como fica? - ele perguntou

- Esquece aquilo, não vai rolar - neguei, ele só assentiu, destrancando a porta - Boa noite..- desci, sem esperar que ele me respondesse de volta

Não olhei pra trás, mas sabia que o carro continuou lá, até que eu entrasse na minha rua. Diferente do que eu imaginava minha mãe não estava no portão me esperando, mas assim que eu entrei em casa, a única coisa que recebi foi um tapa na cara - Você tá achando que eu tô aqui pra criar vagabunda? - ela gritou, na minha cara

- Do que você tá falando? - eu encarei ela, sem esboçar nenhuma reação. Meu rosto tava ardendo, e com certeza marcado

- Acha que eu não sei que tu anda pra cima e pra baixo com bandido? Acha que eu não sei? - ela enrolou a mão no meu cabelo, puxando, me arrancando um grito de dor - Hoje você vai aprender a me obedecer, sua inútil - ela me jogou no chão.

Eu vi a Rebeca parada na porta do quarto dela, assistindo tudo, mas assim que seu olhar se cruzou com o meu, ela deu as costas, entrando e fechando a porta, e me deixando ali, com o monstro que se diz minha mãe.



Crime PerfeitoOnde histórias criam vida. Descubra agora