Quase

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Eu nunca fui uma filha rebelde, do tipo que sai escondido, transa com qualquer um, bebe ou se droga. Pelo contrário, sempre deixei esse papel pra Rebeca, e ela desempenhou muito bem, mas apesar disso eu sempre fui taxada como a filha ruim, a ingrata e incompetente. Então, não tô errada por aceitar aproveitar um pouco da minha adolescência né?

O único problema é aproveitar do lado da Beatriz, porquê nunca termina bem.

- Hoje o negócio ta bom..- ouvi ela dizer, enquanto entrávamos na quadra, onde tava rolando o pagode

Depois de me arrastar e me convencer, ela me mandou escolher uma roupa dela, e eu acabei escolhendo um saia jeans, e uma blusa de manga preta, que ia até a barriga, deixando o meu piercing no umbigo a mostra. Beatriz insistiu em me maquiar, mas eu recusei, ela exagera demais.

- Vem..- ela me puxou pra uma mesa vazia - senta aqui e me espera, vou pegar um balde de cerveja - nem me esperou responder, saiu apressada ajeitando o decote do vestido curto

A quadra estava cheia, alguns caras cantando e tocando ao vivo, algumas mulheres sambando, e outras pessoas apenas curtindo.

- Isabella, minha filha..- me virei, vendo a Dona Rosa me encarando espantada - nunca te vi por aqui - ela veio me abraçar

- Vim com uma amiga - expliquei - mas já quero ir embora - forcei um sorriso

- Ah não, nada disso, vem..- ela me puxou pela mão - hoje você vai aproveitar comigo - ela me puxou pra uma rodinha, e começou a sambar

Ela é uma mulher linda, nem aparenta ser mãe de um homem já velho, e ter um neto. Seu corpo é cheio de curvas, sua pele bronzeada e seus cabelos encaracolados, na altura dos ombros. Essa mulher é linda demais, e eu amo ela.

Ela me balançou, me incentivando a acompanhar ela. Péssima ideia, eu não sei dançar, mas acabei cedendo e me deixando levar.

Em certo momento meu olhar se cruzou com outro, a alguns metros de distância. Era o Falcão, ele estava em uma mesa com mais alguns homens bebendo, mas seus olhos estavam em mim. Aqueles olhos de águia. Fingi não ver, e Ignorei

Não sei quanto tempo ficamos sambando, mas chegou uma hora que eu já estava suando e meus pés pedindo socorro. A saia ficava subindo e eu tinha sempre que abaixar.

- Cansei.. - parei, sorrindo - vou no banheiro, eu já volto - disse no ouvido dela, que concordou antes de voltar a sambar

Não vi nem sinal da Beatriz, provavelmente nem tinha sentido minha falta. Sai da quadra, atravessando a rua e indo até um bar, pra usar o banheiro.

- Isabella..- quando eu já tava abrindo a porta do banheiro, ouvi a voz da Beatriz - Porra mano, você sumiu - ela parou do meu lado

- Tava com a Dona Rosa na roda de samba - disse - tô apertada, espera aí - abri a porta do banheiro, e entrei, trancando por dentro

Me certifiquei de limpar as bordas do vaso sanitário com papel higiênico, antes de sentar. Odeio banheiro público, onde todo mundo vai, mas odeio mais ainda prender o xixi.

Fiz oque tinha que fazer e lavei as mãos - Anda logo..- ouvi batidas na porta, e a Beatriz bufando

- Você não sabe esperar..- destranquei a porta, saindo

- Você.. - ela não terminou de falar, porque seu olhar se prendeu na pessoa que entrou no bar

Foi instantâneo, no mesmo momento em que o Falcão passou pela entrada, a Beatriz meteu a mão no decote do vestido, deixando os peitos mais amostra. Achei que ela fosse ter um piripaque quando ele veio na nossa direção. Ela tomou a frente pra falar com ele.

- Oi Falcão.. - ela sorriu, alisando o cabelo

Ele não respondeu, só acenou com a cabeça - Tá podendo trocar uma ideia? - ele perguntou, me encarando

Se cara feia matasse, eu já ia estar mortinha, porque a carranca que a Beatriz fez... - Tá.. - disse, intercalando o olhar entre ele, e a Beatriz

- Da licença aí, fazendo favor - ele encarou ela, que antes de sair fez questão e me dar uma última encarada - Toma cuidado aí com essas suas amizades.. - ele disse, encarando ela que já atravessava a rua

- O que você quer? - Ignorei oque ele disse - Hoje não é dia de dar aula pro Brian - relembrei

- Tá estressadinha ainda, branca? - ele se aproximou, com as mãos no bolso da calça jeans preta

- Fala logo oque você quer..- virei a cara, tentando não encarar ele, que tava me deixando sem jeito

Ele é estranho.. intenso, não sei, mas me causa calafrios, frio na barriga..

- Para com essa mania de desviar o olhar..- ele chegou mais perto, agora ficando com o corpo praticamente colocado no meu, e o rosto bem próximo

Por sorte o bar estava vazio, a não ser por um bêbado que dormia sentado.

- Tava te observando lá com a minha coroa..- ele me encarou dos pés a cabeça - Essa sua saia é curta demais - ele passou o dedo pela minha coxa, puxando a minha saia pra baixo

Não sou burra, sei oque ele tá fazendo, mas a pergunta é, eu quero?

- Falcão.. - suspirei - O que você tá fazendo?

- Pô branca, não se faz de santa - ele afastou meu cabelo pro lado, deixando meu pescoço livre - não tá afim? - senti a respiração dele no meu pescoço, e um beijo no mesmo lugar

Pelo amor de Deus, onde eu me meti?

- Não tô.. - ofeguei, fechando os olhos

Ele não me respondeu, mas eu senti sua mão subindo pra minha cintura, e me puxando, colando nossos corpos. Não sei se foi Deus, mas eu agradeci a ele quando um celular começou a tocar, interrompendo seja lá oque estivesse acontecendo.

Ainda me encarando, ele tirou o celular do bolso, atendendo..- Qual foi - ele virou de costa, e eu aproveitei pra soltar a respiração que estava prendendo

Me interessei no assunto quando vi o corpo dele enrijecer, fitando tenso - Fica com ele aí, já tô indo - ele desligou a chamada, e voltou a me encarar - Deixa essa conversa pra outra hora, vou vazar - disse

- Tá tudo bem? - perguntei, vendo ele com um semblante diferente

- Brian tá passando mal, vou levar ele pro posto - disse, já saindo do bar, e eu fui atrás

- Espera, vou com você - o segui - onde ele tá?

- Na rua de baixo, pago uma mulher pra cuidar dele - ele disse, andando apressado

O carro dele tava estacionado na frente da quadra, e eu pensei duas vezes antes de entrar, já que tinha muitas pessoas ali, e eu sabia que logo logo ia ser motivo de fofoca pelo morro, mas preferi ignorar isso.

- Tu vem ou não? - ele perguntou, já dentro do carro

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Rosa Gonçalves 49 anos

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Rosa Gonçalves
49 anos

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