A vida

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O dia foi cansativo, e só piorou quando eu cheguei em casa e me deparei com uma zona enorme, que com certeza eu teria que arrumar - mãe, cheguei - disse, passando pela porta

- Demorou hoje - ouvi ela comentar lá da cozinha. A sala e a cozinha não são separadas por paredes e nem nada, então eu consigo ter a visão dela parada na frente do fogão

- É, os caras foram pra lá depois de jogar, tive que ficar até eles irem embora - expliquei, sentando no sofá. Não era sempre, mas de vez em quando a minha mãe consegue trocar algumas palavras comigo, sem me insultar ou me cobrar alguma coisa, geralmente é quando a Rebeca não está presente. Raramente - o que a senhora fez pra janta?

- Fiz uma lasanha - me animei - sua irmã disse que estava com vontade de comer - meu sorriso logo se fechou

- É, eu também estava - sussurei, revirando os olhos - vou tomar um banho..- me levantei, depois de tirar o tênis - Rebeca não tá?

- Não, foi na casa de uma amiga, mas já deve estar voltando - respondeu, concentrada no que estava fazendo

Aham, amiga que anda de radinho e fuzil atravessado. As vezes eu acho que a errada sou eu, por não sentir atração por esses traficantes. Eles só vão raspar a sua cabeça, isso é bom?

Depois de tomar um banho longo e relaxado, coloquei uma roupa confortável e voltei pra sala, o jantar já estava na mesa, e estava cheirando muito bem.

Rebeca já havia voltado e estava vidrada em seu iPhone de última geração, não quero nem imaginar como ela arranjou isso - como foi o dia de vocês? - minha mãe puxou assunto

- Normal..- fui interrompida pela minha irmã mais velha

- Seu dia deve ter sido ótimo, tava de papinho com o Falcão - deixou o celular de lado, me encarando

- Que história é essa? Tá andando com traficante agora, Isabella? - minha mãe questionou. Sinica, quem vê pensa..

- Não, ele só tava me fazendo uma proposta - dei de ombros, foi-se a época em que eu me via obrigada a dar satisfação da minha vida

- Que tipo de proposta? - Rebeca perguntou

- Nenhuma comparada as que você recebe por aí - revirei os olhos

- Fala direito com a sua irmã - minha mãe deu um tapa na minha mão, no momento em que eu me servia um pedaço da lasanha, fazendo com que a colher caia e suje a mesa - Olha só oque você fez sua imbecil - se levantou, com raiva

- Caraca, eu não tive culpa, você que.. - levantei, tentando me defender

- Cala a boca Isabella, some da minha frente - ela aumentou o tom de voz

Não rebati, só fui até meu quarto e catei um casaco, voltei pra sala e saí de casa, sem fazer questão de encarar elas.

Esse tipo de situação me deixa cega de raiva, mas não vou posso perder meu juízo.

Vesti o casaco por cima da blusa fina e ele ficou grande o suficiente pra tampar meu short de dormir. Já passava das oito e estava começando a esfriar. Por ainda ser inicio de semana não tinham muitos moradores pela rua, todos estavam em suas casas, com suas famílias.

Fui caminhando até chegar na pracinha, e me sentei em um banco.

Estava sem nada, dinheiro, celular. Não pretendia voltar pra casa tão cedo, e olhar pra cara daquela duas. Deveriam ser minha família, mas na real são minhas maiores inimigas.

Não tenho noção de quanto tempo fiquei sentada naquele banco, mas foi tempo suficiente pra todos os estabelecimentos fecharem e as ruas ficarem desertas - qual foi, mina - me assustei com a figura em minha frente - tá tarde já - BG, um dos vapores do morro chamou minha atenção - tá precisando de alguma assistência?

- Não, nem vi o tempo passar - me levantei

- Tá tranquila mermo? Mó cara de morta pô - fez uma careta - bora lá, te deixo lá no teu barraco

- Não precisa, não moro longe - neguei. Não estava com medo. Eu conheço bem as regras da favela e sei que assédio e violência contra mulher eles não aceitam, mas de qualquer forma, não coloco minha mão no fogo por ninguém

- Qual foi Isabella, tô ligado em tu já, tu não lembra, mas nós estudou junto - ele disse, e sim, eu me lembrava muito bem do Borges, mas ele não precisa saber disso

- Estudamos é? - franzi as sobrancelhas

- Estudamo mermo, tô ligado que teu barraco fica à mó cota daqui - ajeitou o fuzil que estava atravessado em seu peito - vou te acompanhar

- Sério, valeu, mas não precisa não - passei por ele, começando a caminhar

- Mina cabeça dura do caralho - ouvi ele resmungar, mas não fiz questão de olhar pra trás

[...]

Rebeca Germani
24 anos

João Pedro - Pedrin 18 anos

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João Pedro - Pedrin
18 anos

Patrick Borges - BG 23 anos

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Patrick Borges - BG
23 anos

Patrick Borges - BG 23 anos

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