Guinada

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- Você sabe que eu passo a tarde toda no trabalho cara, eu não fico atoa não - rebati

- Engraçado que pra andar pra cima e pra baixo com vagabundo você tem tempo, agora pra fazer as coisas em casa não tem - minha mãe disse, saindo da cozinha - nem pra lavar as roupas sujas você serve, caralho

- Eu passei a tarde no bar - disse, esfregando as mãos no rosto

- Mas passou a manhã toda em casa, falo mesmo - Rebeca que tava jogada no sofá de intrometeu

- E VOCÊ? QUE PORRA VOCÊ FEZ? - gritei com ela

- Não grita com a sua irmã, Isabella - minha mãe agarrou meu braço - não tenta jogar a culpa em cima dela, a errada é você

Eu ia rebater, mas o meu celular começou a tocar. Peguei, vendo ser o Falcão, mas eu não atendi, só rejeitei a ligação. A essa hora eu já devia estar na casa dele, mas a minha mãe decidiu que era uma boa hora pra brigar comigo.

- Eu tô cansada de vocês, cansada - disse, negando com a cabeça

- Tá cansada? Então pega as suas coisas e some daqui - minha mãe rebateu - vai viver a vida de piranha que tu quer

- Isso é sério? - perguntei, incrédula - Você tá me expulsando de casa porquê eu não lavei a merda da roupa?

- Isso aí, eu quem tô cansada de ter uma filha igual você - me mediu de cima a baixo - uma imprestável, só me traz desgosto - ela me encarava com desdém

Mesmo já estando acostumada com os insultos, isso não diminui o fato de que dói ouvir essas coisas da sua própria mãe.
Mesmo com algumas lágrimas rolando pela rosto, eu assenti.

- Amanhã eu venho buscar as minhas coisas - avisei - só espero que quando a senhora se decepcionar com essa aí.. - apontei pra Rebecca, que observava a cena calada - não venha me procurar, pois eu vou te rejeitar da mesma forma que você tá fazendo comigo, mãe

Sem mais delongas, eu sai da casa que agora não me pertencia mais.
Por um lado eu me sentia bem, em saber que não iria mais conviver com elas, mas por outro, me sentia perdida, porque eu não tenho pra onde ir. Ainda não me planejei totalmente, não terminei os estudos..

Desci a rua de casa, sentindo o vento frio arrepiar todo o meu corpo. Eu não tinha pra onde ir, quem procurar.

Fui tirada dos meus pensamentos quando um carro freiou bruscamente do meu lado, um carro que eu já conhecia.

- Tu tá de sacanagem comigo? - Falcão perguntou alterado, de dentro do carro - tu sabe que horas são?

- Eu não consegui ir hoje.. - disse, pensando em alguma desculpa

- Tu tá chorando? - perguntou, ignorando oque eu disse - Entra - mandou

- Você pode descontar do dinheiro..- ele me interrompeu

- Entra no carro, Isabella - insistiu, autoritário

Olhei ao redor, a rua estava praticamente vazia, e de qualquer forma, oque iria acontecer se me vissem entrando no carro dele? Iriam contar pra minha mãe? Aquela que me expulsou de casa?

Entrei no carro, me sentando no banco do passageiro.

- O que houve? Solta a voz - questionou, enquanto trancava as portas e levantava os vidros - Tá chorando por quê?

- Eu não tô chorando - neguei, virando o rosto

- Tenho cara de otario agora? - alterou a voz - fala porra

- Isso é coisa pessoal, não é da sua conta - rebati, tirando o celular do bolso. Ele continuou falando algo, mas eu nem mesmo prestei atenção. Entrei no WhatsApp procurando o contato do Pedrin, a única pessoa que pode me ajudar

- Tô falando contigo, Isabella - ele puxou o celular da minha mão

- Me devolve o meu celular..- pedi

- Vai me falar o que aconteceu, ou quer que eu vá bater na porta da tua casa? - ele não esboçava reação nenhuma, mas a sua voz tava séria

- A minha mãe me colocou pra fora de casa - contei - Então desculpa se eu não consegui cumprir o nosso combinado..

- Que porra de combinado, Isabella - me interrompeu - Foda se isso, eu tô preocupado contigo - ele praticamente cuspiu as palavras na minha cara, mas pareceu se arrepender no mesmo instante

Preocupado comigo? Isso é sério?

- Pra onde você vai? - ele perguntou, dando partida no carro, tentando ignorar oque tinha acabado de dizer, e eu preferi fazer o mesmo

- Eu não sei..- suspirei - talvez pedir ajuda pro Pedro, ele é o mais próximo que eu tenho de família

- Claro que não.. - ele negou de imediato - Ele não é nada teu pô, vai procurar ele pra que?

- Essa é questão Falcão..- ri, irônica - Eu não tenho ninguém pra procurar, além dele

- Minha mãe pô, não vai te negar ajuda - rebateu

- Eu não quero incomodar ela com os meus problemas - neguei

- Tá decidido já, tu fica com ela até a gente resolver isso, até você voltar pra tua casa - disse, convicto

- Eu não vou voltar - neguei de imediato - não vou voltar pra aquela casa, eu quero a minha própria casa

- Suave, nós resolve isso aí - ele disse, concordando

Ficamos em silêncio por mais alguns minutos, até ele estacionar o carro em frente a casa da Dona Rosa.

- Falcão, tá tarde..- o encarei - eu não quero incomodar

- Fica tranquila cara, a coroa é amarradona em tu - ele não me deu ouvidos, e destravou as portas do carro

Mesmo contragosto, eu desci, seguindo ele.
Ele tocou a campanhia umas duas vezes até que uma Dona Rosa enrolada em um roupão abrisse a porta.

- Isabella? Rafael? - nós encarou preocupada - o que houve?

Crime PerfeitoOnde histórias criam vida. Descubra agora