Cartas na Mesa

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Tô acabada, só o pó da rabiola. Deus me livre, mas aquele dia minha mãe não tava pura não. Ela me deu uma surra que eu nunca tinha levado na vida. Mesmo eu tentando me defender e dizendo que não tava fazendo nada de errado, mas ela nem tchum. Me arregaçou legal.

Aí vocês me perguntam, "Por quê você não bateu de volta?"

Por que eu ainda não enlouqueci. É uma maluca? É. Merece ser chamada de mãe? Não. Mas ainda sim, é a mulher que me colocou no mundo, e o no dia que eu levantar a mão pra ela, pode me internar que eu enlouqueci.

Minhas pernas estão doloridas, e com algumas manchas roxas. Nem pra escola eu fui, mas precisava ir trabalhar, se não quisesse perder o pouco de dinheiro que recebo daquele velho. Ontem passei o dia todo na cama, nem coloquei a cara pra fora de casa. Disse pro velho do Jerônimo que tava muito doente, e não ia poder ir, ele reclamou, mas acreditou na minha mentira, mas disse que na próxima não vai pensar duas vezes antes de me colocar no olho da rua. Velho maldito.

Levantei da cama, e fui tomar um banho.
Nem vi mais a fuça da Rebeca, e nem quero. A garota ouviu tudo caladinha, nem pra tentar me defender, fazer papel de irmã. Mas tá tranquilo, o que é dela tá guardado, ainda vai precisar de mim, e eu vou virar as costas igual ela me fez.

Vesti um short jeans clarinho, e um top traçado branco. Vesti minha kenner branca, que graças a Deus consegui comprar com o meu próprio dinheiro. Sou uma garota muito vaidosa, mas as minhas condições me limitam de me cuidar da forma que eu quero. Mas tô sempre tentando me mimar de alguma forma, me presentear, porque eu mereço.

Finalizei meus cachinhos, meu amor todinho. Passei meu creme com cheirinho de chocolate. É caro pra caralho, economizo o máximo que posso pra poder comprar.

Minha mãe não tava em casa, provavelmente estava trabalhando. Ela faz faxinas na casa de uma família na pista, mas não é sempre que eles precisam dela, então tem dias que ela fica atoa em casa.

Tirei meu celular do carregador, e liguei ele, que tava a horas desligado. Tinha algumas mensagens de um pessoal da escola, falando sobre um trabalho em grupo, uma mensagem da Beatriz de dois dias atrás, perguntando onde eu estava, que até agora eu não visualizei.
Também tinha uma mensagem do Pedro perguntando se eu não tava pelo morro, porquê tava sumida. Respondi dizendo que tava sim, e que já tava indo pro trabalho, ele me respondeu na mesma hora dizendo que ia passar aqui pra me levar.

Sai de casa, sem nem comer nada. Tava nem com fome, até comer nessa casa causa problemas, então eu prefiro me virar pela rua.

Fiquei esperando no portão, e logo o Pedrinho entrou na minha rua, com a moto escandalosa dele. Ele já veio rindo, mas assim que chegou mais perto o sorriso dele desmanchou.

- Caralho, quem te atropelou? - ele parou com a moto na minha frente - pegou homem casado, foi?

- Não enche João Pedro - eu ia subir na garupa da moto, mas ele girou a chave, desligando a moto

- Qual foi pô, tá toda arrebentada aí - ele me olhou feio - abri o bico

- Chegou no ouvido da minha mãe que eu tava por aí com o Falcão - revirei os olhos - sabe como ela é..

- Sei pô, essa velha é maluca, papo reto - negou - Deixa o Falcão ficar sabendo dessa porra aí, vai ser cobrada, esse bagulho não rola aqui não, a maluca te batendo por palhaçada, fofoquinha

- Ele não vai saber porque tu vai ficar de bico calado, ele não tem nada que se meter na minha vida - rebati, agora subindo na moto, com a ajuda dele - e vai logo que eu já tô atrasada.

Ele deu partida, passando por alguns becos e vielas apertadas, me fazendo apertar as pernas em volta dele, que resmungou.

Ele não demorou muito pra entrar na rua movimentada do bar, ficava em frente a praça, então sempre tem muitas pessoas. Assim que eu desci da moto, o velho do Jerônimo já acenou pra eu entrar logo, com aquela cara de bunda dele.

- Vou brotar aí depois com uns cara, fica esperta - Pedro me puxou, beijando a minha testa. Muito meloso esse ridículo

Me despedi dele e entrei pro bar, indo pra trás do balcão.

- Garota, eu não vou poder ficar hoje, tenho algo pra resolver na rua - Jerônimo parou do meu lado, me encarando dos pés a cabeça - vê se não faz besteira

- Pode deixar.. - assenti, e quando ele se virou, eu aproveitei pra dar dedo do meio pra ele. Velho chato

As horas foram passando, e já era três da tarde quando o Beatriz entrou no bar. Eu juro que vi ela me olhando feio, mas assim que se escorou no balcão, ela fez uma cara de preocupada - Onde você tava cara? Sumiu desde o dia do baile

- Tirei um tempo pra mim - não rendi assunto, e continuei limpando o balcão - licença - pedi, e ela tirou os braços, onde eu continuei passando o pano

- Precisa dessa grosseria? - bufou - O que houve com o seu rosto? Sua mãe te bateu? - perguntou, curiosa

Eu ia dar um baita fora nela, mas a minha atenção foi atraída pro BG, que entrou no bar acompanhado de outros caras, fazendo arruaça.

- Qual foi, Isa..- ele se escorou no balcão de madeira, que eu estava limpando

- Sai pra lá, tô limpando - empurrei o braço

- Marrentona você - ele negou - manda um balde de cerveja aí, que hoje é tudo na conta do patrão - esfregou as mãos

- O Falcão vai vir pra cá? - Beatriz perguntou

- Vai mermo, mas nem tenta, que hoje ele tá zero paciência pra piranha - encarou ela de cima a baixo, fazendo cara de desgosto, e eu me segurei pra não rir

Peguei o balde de cerveja que ele pediu, e ele levou - Vai querer alguma coisa? Eu tô ocupada - encarei a garota na minha frente

- Vai ficar me tratando assim agora? - ela reclamou - Não tenho culpa se você não sabe nem mentir pra tua mãe

- Escuta aqui Beatriz, já tô cansada de você, papo reto - fechei a cara - não vem querer colocar marra pra cima de mim, que eu te conheço e sei que tu late e não morde, então vê se me deixa em paz

- Se toca garota, você não é ninguém perto de mim, e sei que morre de inveja de mim - ela me encarou com deboche, soltando o veneno dela - e se você acha que eu vou deixar você ficar com o Falcão, tá muito enganada

- Pode ficar com ele todinho pra você.. - foi só falar no diabo, que ele apareceu

Falcão entrou no bar, com a marra de sempre, todo arrumado e com o fuzil atravessado nas costas. Mas dessa vez ele não tava com nenhuma piranha do lado, estava com o Brian - Isa..- Brian gritou, rindo assim que me viu

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repararam que eu atualizo de noite?
Então.. é que eu sou o Batman 🦇

Crime PerfeitoOnde histórias criam vida. Descubra agora