Surpresas

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Estava um pouco cansada, mas não podia deixar de ir na casa do Falcão, e cá estou eu.

O Brian me recebeu melhor do que ontem, me deu boa noite e perguntou como eu estava. Temos um avanço.
O Falcão tava mais sério do que o normal, mas é melhor assim.

Brian estava com dificuldade em algumas matérias, e a primeira delas era matemática.

- Cinco vezes três? - perguntei, e ele começou a  contar nos dedos

- Quer que eu peça algo pra tu comer? - ele parou do meu lado de braços grudados

- Não, eu comi antes de vir - neguei, forçando um sorriso

Depois disso não trocamos mais uma palavra, Brian se empolgou pra estudar e como eram literalmente matérias básicas, eu não tive dificuldade em ensinar à ele.
Ficamos quase duas horas estudando, ele soltava algumas risadas com as minhas brincadeiras e ia se soltando mais comigo.

Ele disse que estava com sono e também já estava no meu horário, Falcão que ficou o tempo todo nos observando levou ele pro segundo andar e pediu pra eu esperar.

- Teu pagamento por hoje - ele desceu, me estendendo um bolo de dinheiro, diferente de ontem não eram só notas de cem, agora era de vinte e cinquenta

- Você já me pagou ontem - o encarei confusa - o combinado era quinhentos reais por três dias

- Vou te pagar por dia pô, pega aí - insistiu

Olha, eu não sei a proeza que eu fiz pra merecer isso, mas eu vou fazer de novo.
Tem noção de como isso vai me ajudar? Eu vou conseguir juntar dinheiro mais rápido ainda.

- Queria que tu esclarecesse aquela situação lá - ele parou de frente pra mim - eu não gosto de agressão dentro do meu morro não tá ligado, então se tu se sentir confortável pra me falar oque rolou - mesmo com essas palavras doces ele manteve a carranca de sempre

- É coisa boba, tive uma discussão com a minha mãe, e ela acabou se alterando um pouco - dei de ombros - não foi nada sério

- Tô ligado - ele assentiu - vou te levar em casa

- Você que vai me levar? - segui ele pra fora

- Algum problema? - ele abriu o portão pra mim passar

- Não..- neguei

O carro dele tava estacionado na calçada. Não vejo problema nisso, mas eu já tenho tanta dor de cabeça com a minha mãe e se ela me ver saindo do carro de um dos traficantes mais famosos do estado, ela me expulsa de casa. Não que isso seja ruim né.

Entrei no lado do passageiro, e ele ainda ficou lá falando alguma coisa com os caras que estavam na frente da casa dele, mas ele logo entrou no lado do motorista.

- Pô, tô ligado que só faz dois dias que tu tá dando essa força aí com o Brian, mas eu queria falar sobre um bagulho contigo - ele deu partida no carro

- Pode falar - nem encarei ele, tava tentando ligar a porcaria do meu celular, que parecia ter queimado

- Vou precisar me ausentar por umas horas em um dia aí, e se tu ficar com o Brian pra mim, eu te pago uma grana maneira - ele me encarou

- Vai fazer o que? - não contive a curiosidade, mas lembrei que a curiosidade matou o gato, quando o Falcão me olhou sério - eu fico com ele sim - desconversei - é só me falar o dia

- Jae, vou ver isso aí e te aviso, mas deixa esse bagulho só entre a gente, tô ligado que tu é colada com a minha mãe, não quero que isso chegue no ouvido dela - ele estacionou o carro na frente da minha casa

- Tudo bem, sem problemas - concordei

- Ta com problema aí? - ele apontou pro celular na minha mão, que nem dava sinal de vida

- É, acho que queimou - suspirei

- Da pra comprar outro pô, com o dinheiro que eu te paguei - ele me encarou

- Tenho outros planos com esse dinheiro - abri a porta do carro - a gente se vê na sexta - desci

Ele ficou em silêncio, e eu já fui logo entrando em casa, pra não ficar dando bobeira na rua e sair fofoca por aí. Escutei o carro dando partida assim que eu fechei a porta. Não contive um sorriso, ele é tão..diferente.

- Já viu a hora Isabella? - meu sorriso se fechou quando a minha mãe apareceu na minha frente - de quem é esse carro aí?

- De ninguém mãe - passei por ela, mas ela segurou no meu braço

- Você acha que eu nasci ontem né? - ela apertou meu braço - escuta aqui garota, você tá procurando e você vai achar, eu tô de olho em você - me empurrou

Nem esquentei a cabeça, já não vale mais a pena.
Não estava com fome, então apenas tomei um banho e cai na cama.

Meu celular não voltava por nada, já tava desistido.

- Rebeca, que horas são? - sai do quarto, vendo ela jogada no sofá

- Dez e quinze - assenti

Já tava voltando pro quarto, mas alguém bateu na porta.

- Tá esperando alguém? - encarei ela, que negou

Mesmo achando estranho eu fui atender - boa noite..- encarei o garoto novinho que tava parado do lado de fora

- Fala aí mina, tu que é a Isabella né? - ele ajeitou o fuzil atravessado no peito - chefe mandou te entregar - me estendeu uma sacola toda preta, aquelas chique sabe?

Chefe? O Falcão?

- Eu acho que você tá na casa errada - neguei

- Que nada pô, é tu mesmo - ele insistiu, e eu peguei a sacola - Fala aí Rebeca - ele acenou pra ela que parou do meu lado na porta, e em seguida saiu

- Que isso? - ela puxou a sacola da minha mão - olha só..- tirou uma caixa de lá, uma caixa de celular. Não, não era só um celular, era a merda de um IPhone quinze

- Me da isso aqui - puxei da mão dela - toma conta da sua vida

- A mamãe sabe que você tá dando pro Falcão em troca de presentes? - ela me encarou feio

- Sobre mim eu não sei, mas sobre você ela deve saber, todo mundo sabe - passei por ela, indo pro quarto e trancando a porta

Caralho..um IPhone quinze. Qual o problema desse cara?

Eu não sou idiota ao ponto de achar normal ele me dar uma coisa dessas assim, de graça. Com certeza ele quer algo em troca, e eu não vou dar, não sou dessas.

Então, mesmo que me doa, amanhã mesmo eu devolvo isso. Não tô me vendendo.

Crime PerfeitoOnde histórias criam vida. Descubra agora