Falcão
Observo a branca aos poucos tentando se aproximar do meu moleque. Ele não é de se abrir fácil não, mas tô botando fé que ela vai conseguir.
Não é de hoje que eu venho palmeando ela pela comunidade. Sempre sozinha, voltando ou indo pra escola, no trampo. Vê de longe que é uma mina de responsa. Era disso que eu precisava pra colocar dentro da minha casa, jamais vou confiar em qualquer um pra dar acesso ao meu filho. Meu bem mais precioso.
Roubo, mato, tráfico, torturo, mas o Brian jamais vai conhecer o Falcão que eu sou na rua, com ele eu sou o Rafael.
- Acho que você vai gostar do que eu tenho aqui - ela disse, abrindo a própria mochila
Brian não tava dando muita bola pra ela não - eu ganhei quando tinha seis anos - ela comentou, tirando um urso de dentro da mochila - foi o meu pai quem me deu - estendeu pro Brian - eu posso te emprestar ele - forçou um sorriso - vamos fazer assim..- se ajeitou no sofá - eu deixo você ficar com ele, e em troca, você conversa comigo, pode ser? - perguntou
- Pra sempre? - pela primeira vez ele disse algo
- Pra sempre não, poxa - ela sorriu - ele é importante pra mim, mas, você fica com ele durante todos os dias em que eu vir aqui na sua casa, e quando você não precisar mais de mim, você me devolve ele - Brian me encarou, como se pedisse permissão pra aceitar
Apenas assenti com a cabeça, e ele pegou o urso, sem jeito
- Vai cuidar bem dele né? - ouvi ela perguntar
Me levantei - tá tranquilo se ficar sozinha com ele? - perguntei - vou agilizar uma parada
- Tudo bem - ela concordou
- Marca um dez - caminhei até a porta da sala, saindo
Tava me sentindo tranquilo pra deixar ela a sós com o Brian - aí, peixe - chamei um dos moleque, que tava na contenção da minha casa - desce lá na minha mãe e pede pra ela agilizar duas marmita pra mim - me aproximei dele
- Jae, meu chefe - ele concordou, e foi descendo a rua
Isabella
- E então, o que você gosta de fazer? - perguntei à Brian
- Gosto de carros - ele comentou, baixinho. Parecia estar se soltando mais comigo depois que eu entreguei o meu urso
Um pouco infantil pra uma mulher de dezenove anos, mas, é a única lembrança que eu tenho do meu pai.
- Sério? Que legal - me ajeitei no sofá - Eu prefiro moto, mas carro também é legal
- Você tem uma moto? - ele perguntou
- Bem que eu queria, mas tá difícil de ter até uma bicicleta - brinquei
- Onde o meu pai foi? - depois de um tempo em silêncio ele desceu do sofá
- Eu não sei, mas ele já deve estar..- não completei, pois a porta foi aberta e o Falcão entrou, carregando duas sacolas
- Tá tudo tranquilo? - perguntou
- Eu quero dormir - Brian choramingou, agarrado com o urso
- Tá no seu horário mesmo, vou te colocar na cama - pegou ele no colo - da uma segurada aí que eu já volto - subiu as escadas
- Tá né.. - sussurrei
Fiquei quietinha no sofá, esperando ele voltar. Quinhentos reais pra fazer isso aqui, tá mole. O garoto parece ser bem tranquilo, só muito retraído, mas eu entendo que com o tempo as coisas vão mudar.
Passou uns minutinhos e o Falcão voltou - Toma aí, nosso combinado - estendeu cinco notas de cem
- Valeu - peguei, me levantando e ajeitando a mochila nas costas
- Tô ligado que no começo vai ser foda pra ele dar um espaço pra tu, mas é um moleque firmeza - ajeitou a postura, com as mãos nos bolsos do short
- Sim, é só questão de tempo - concordei, e ficamos em silêncio, apenas nos encarando. Seu olhar intrigante não se desviou do meu nem por um milésimo de segundos
- Comprei um bagulho, come aí - me estendeu a sacola que antes estava na mesinha de centro - tá quente ainda, vai esfriar - prosseguiu, vendo que eu não mexi nem um músculo
- Não precisava - disse, pegando a sacola de plástico
- Senta aí - ele apontou pro sofá
- Tá ficando tarde - comentei
- Relaxa, vai ser entregue em segurança em casa depois - rebateu, sentando no sofá
Suspirei, minha vontade era de meter o pé, mas, vontade é uma coisa que dá e passa, né?
- É lá do restaurante da minha mãe - ele comentou, tirando um cigarro do bolso, junto com um isqueiro
- A comida dela é incrível - não me contive, sorrindo
Pode parecer ironia do destino, mas Dona Rosa é a mãe do Falcão, eu sempre soube disso, mas não é algo que conversamos muito. Foram poucas as vezes que ela falou dele comigo. E agora pensando sobre isso, ela nem mesmo comentou sobre o neto, oque é estranho, já que ela é uma fofoqueira nata.
- O Brian não morava com você, né? - se passaram alguns minutos desde que eu comecei a comer a quietinha, Falcão ficou na dele, fumando e me olhando em alguns momentos
- Não, faz dois meses que eu peguei ele - disse, em seguida tragando o cigarro que já estava no final - por isso ele não tá muito acostumado com as pessoas daqui
- Entendi..- concordei
Os próximos minutos foram em total silêncio, no início eu estava me sentindo desconfortável, mas deixei isso de lado e foquei na minha comida - come a outra também - Falcão disse, assim que eu terminei de comer
- Quer me matar? - brinquei - já tô satisfeita, valeu mesmo - tentei ser o mais educada possível
Eu tava com fome mesmo, não tive tempo de comer nada, e isso não me fez pensar duas vezes pra comer toda a quentinha, eu nem mesmo cogitei a ideia de poder estar sendo envenenada ou drogada. Nunca se sabe, né..
- Tranquilo, vou pedir pra te levarem em casa - concordo, me levantando e seguindo ele pra fora da casa - Amanhã tu volta? - assenti com a cabeça, em silêncio
Fiquei esperando no portão, enquanto ele ia até um dos homens armados que estavam pela rua
- Tauan vai te deixar em casa - ele retornou, acompanhado do homem, um moreno todo tatuado, com um fuzil atravessado no peito. Se eu não fosse tão medrosa..
- Valeu aí, até amanhã - me despedi formalmente dele
- Minha moto tá ali no final do rua - o tal Tauan disse, e eu o acompanhei
- Fica esperta, branca - ouvi Falcão dizer, já um pouco mais afastado
Ah pronto, antes era mina, agora é branca. Eu mereço..
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Crime Perfeito
Fantasy"𝐴 𝑣𝑖𝑏𝑒 𝑟𝑜𝑙𝑎 𝑛𝑜 𝑝𝑖𝑞𝑢𝑒 𝑑𝑎́ 𝐸𝑛𝑑𝑜𝑙𝑎, 𝑗𝑎́ 𝑡𝑒𝑛𝒉𝑜 𝑏𝑜𝑛𝑑𝑎𝑑𝑒 𝑒 𝑚𝑎𝑙𝑑𝑎𝑑𝑒 𝑑𝑒 𝑠𝑜𝑏𝑟𝑎 𝑀𝑎𝑠 𝑟𝑒𝑣𝑒𝑙 𝑛𝑎̃𝑜 𝑓𝑎𝑙𝒉𝑎, 𝑒𝑢 𝑣𝑖𝑣𝑜 𝑛𝑎 𝑜𝑛𝑑𝑎 𝑄𝑢𝑒 𝑎 𝐵𝑎𝑏𝑖𝑙𝑜̂𝑛𝑖𝑎 𝑛𝑎̃𝑜 𝑐𝑎𝑖𝑎, 𝑝𝑜𝑟𝑞𝑢�...