Intrigas

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Falcão

Tava cheio de assunto pra resolver na boca, carregamento, contabilidade, questões da favela. Só dor de cabeça pro sujeito.

Sexta feira já, a favela tava no fervo, geral animado pro baile que vai rolar mais tarde. Três dias seguido de baile, só coisa boa.

Dois dias que não vejo nem o rastro da branca. Garota tomou um chá de sumiço, nem Pedrin sabe onde ela se meteu. Mas tá suave, vou ficar na cola dela não. Hoje é dia dela brotar lá em casa pra dar aula pro Brian, quero só ver a cara de pau dela.

Depois daquele episódio lá que o Brian teve a reação alérgica, ele ficou todo carente, até pediu pra chamar a branca, mas eu disse que a mina tinha a vida dela, e não poderia vir ver ele não, moleque ficou bolado. Cabeça dura demais.

Mas esse episódio aí me fez refletir, e eu tenho que passar mais tempo com o meu moleque. Por isso deixei os bagulho da boca de lado por um tempo, e fui dar um role com o Brian.

Dei umas voltas de moto com ele, o moleque se amarra em dar grau, é foda.

Avistei os cara no barzinho lá que a branca trabalha, e parei pra trocar uma ideia com eles.

Assim que a gente botou o pé lá, Brian já avistou a branca e correu pra falar com ela. Sei nem como, mas ele gostou pra caralho dela.

Ela pegou ele no colo, e eu fiquei só de longe avistando. Sentei na mesa com os cara que tava ensebando pra caralho. Trabalhar que é bom vagabundo não quer.

- Qual foi da mina com o teu cria lá, Falcão? - rato, um menor que trabalha na boca, perguntou - Tá no teu nome?

- Tá não pô - neguei, tirando um maço de cigarro do bolso

- Já era então, vou botar pra sentar - ele riu, mostrando os dentes quebrado. Moleque feio do caralho

- Respeita a mina cara - BG se intrometeu - Papo torto esse aí

Fiquei só palmeando. Sou emocionado não, tenho nada com a branca, então não vou dar uma de maluco. Mas duvido muito que ela vá querer algo com essa ratazana do caralho.

Depois de um tempo o Brian veio pro meu lado, com um pacote de biscoito na mão, e uma lata de refrigerante na outra. Disse que a "Isa" deu pra ele.

Fiquei marolando ali com os cara até entardecer, tava tranquilo. Brian tava sentado no meu colo, jogando no celular, moleque já tava com a barriga enorme de tanto comer.

Vi quando o rato levantou sem dizer nada, e foi pro balcão, onde a Isabella tava mexendo no celular.

- Esse cara é sem noção pra caralho - BG que tava do meu lado, disse, encarando a cena de cara fechada

- Qual foi da tua com ela? - perguntei, indiferente

- Tem nada não patrão, mas eu não gosto desses bagulho não, esse cara aí é escroto com muita mulher - ele negou

Vi quando o Rato tentou tocar o braço da Isabella, e ela se afastou. O cara nem disfarçava em como tava insistindo com ela

Eu podia ter ido lá e feito algo, mas fiquei na minha pra ver qual ia ser a dele, e se ela ia dar o braço a torcer. Mas o BG tomou a frente, levantou e foi até eles - Tá vendo que a mina não quer não porra? - escutei ele dizendo, alterado

- Qual foi, Marcola - chamei um dos vapores que estava na mesa - Leva o Brian e deixa ele lá na casa da minha mãe - desci o Brian do meu colo - avisa que eu busco ele lá mais tarde

Tô vendo que essa porra vai dar merda, e eu não quero meu filho presenciando essas paradas não.

Assim que o Marcola saiu com o Brian, eu levantei.

- Qual foi da tua porra, tá se metendo no bagulho que não é da tua conta - Rato rebateu

- Essa porra que tu tá fazendo aí é assédio caralho - BG alterou a voz

- Qual foi porra, as mariquinhas vão ficar batendo boca? - cruzei os braços, de cara fechada - Mete o pé rato, caça teu rumo - mandei - tu também, vai trabalhar caralho - encarei o BG

Os dois saíram, cada um pra um lado, e enquanto isso a outra ficou quietinha do outro lado do balcão.

- Da próxima vez que render pra vagabundo, não faz cu doce não, se quer dar, dá logo porra - encarei ela, boladão

- Tá maluco? Eu não tava rendendo pra ele - ela rebateu, fazendo cara feia - Esse cara é sem noção, veio mexer comigo do nada

- Tá certo Isabella, tu sabe da tua caminhada - neguei, tirei um bolo de dinheiro do bolso, e deixei duas notas de cem no balcão. Nem falei mais nada com ela, que ficou só me olhando. Meti meu pé.

[...]

Aproveitei que Brian tava com a minha coroa, e passei na boca pra resolver umas parada. Assim que terminei passei lá pra pegar ele, e levei pra casa. Botei ele pra tomar banho e fiz um pão com nutella pra ele comer. Bagulho ruim, mas ele gosta, fazer oque.

Já tava de noite, e já tinha passado da hora Isabella chegar, mas nem sinal da mandada.

Brian já tava cochilando no sofá, e já passava das oito da noite. Peguei o moleque e levei pro quarto dele, ajeitei ele na cama e sai de casa. Tava suave em deixar ele dormindo, dorme a noite toda, e mesmo se acordar, ele sabe como funciona, é só abrir a porta que vai ter alguém pra fazer os bagulho que ele precisar. Não gosto de sair assim e deixar ele só, mas as vezes é necessário.

Entrei no carro que tava estacionado na calçada, e parti pra casa da mandada lá. Tá achando que eu sou otario pô? Deixando sujeito homem esperando, bagulho nada haver.

Crime PerfeitoOnde histórias criam vida. Descubra agora