Corro da morte

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Depois de almoçar no restaurante da Dona Rosa, me apressei pra chegar logo no bar do seu Jerônimo, o único velho que quis me dar trabalho aqui no Morro, e com certeza não foi por ter um coração bom, pelo contrário..

- Atrasada de novo Isabella - o velho reclamou, assim que eu passei pelas portas do bar

- Foi mal, me enrolei na escola - minto, indo para a parte de trás do balcão

- Da próxima vez, eu vou descontar do seu salário garota - avisou, fazendo com que a minha vontade de quebrar uma garrafa de cerveja é fatiar ele todinho só aumentasse. Se eu não precisasse muito desse dinheiro, já teria metido o pé

O movimento nas terças-feiras é sempre calmo, apesar disso irritar o velho, eu fico feliz. Não tenho que lidar com um bando de traficantes abusados ou então velhos bêbados que acham que tem o direito de dar em cima de mim.

Por volta das três da tarde eu avistei um grupo de traficantes armados entrando no bar. Já é comum, eles jogam partidas de futebol todas as terças e sábados, e quando acabam sempre veem beber - Aí morena, descola uma gelada pra nós aí - João Pedro se escorou no balcão, enquanto os outros juntavam algumas mesas

- Meu nome é Isabella, você sabe, João Pedro - rebati, indo até o freezer

- E o meu vulgo é Pedrin, você sabe, Isabella - debochou. Esse garoto me tira do sério

- Idiota - reviro os olhos

- Eai Pedrin, vai ficar de papo ou vai trazer a gelada? - um dos caras chamou a atenção dele

- Não tenho culpa se a bonita aqui é lenta, irmão - João Pedro riu

- Vai se fuder - pus duas garrafas de cerveja no balcão - e a minha gorjeta? - brinquei

- Vou te dar tiro, palhaça - revirou os olhos, pegando as garrafas e voltando pra mesa

João e eu nos conhecemos desde a infância, fomos muito próximos até os doze anos, que foi quando ele começou a se envolver com o movimento, e consequentemente se afastou de mim, no início por ser bobinha eu não entendia o porquê. Ele era meu único amigo, levei tempo até aceitar que não teria mais a companhia constante dele, mas com o passar dos anos eu percebi que ele fez pelo meu bem, apesar de ser novo ele sabia bem onde estava se metendo, achava que se me mantivesse por perto acabaria me afetando. Ainda nos falamos, quando ele vem no bar, ou quando me vê na rua, mas nunca passa disso.

O falatório era alto no bar, com o passar das horas foram chegando mais homens e logo o bar já se assemelhava à boca de fumo, de tanto traficante.

- Caralho, tu é foda - me assustei quando Beatriz surgiu do outro lado do balcão. Eu nem a vi chegar - te mandei várias mensagens pô - reclamou

- Foi mal, meu celular descarregou - expliquei, sem deixar de passar pano no balcão

- Seu turno já devia ter acabado, bora tomar um açaí - ela disse

- Nem rola, o velho do Jerônimo saiu e disse pra eu fechar o bar, mas tenho que esperar eles irem embora - encarei aquele bando de homens que falavam ao som de uma JBL no último volume, sobre algum assunto que eu não me interessei

- Ah, qual foi - ela resmungou - só homem gostoso nessa porra - suspirou

- Toma jeito cara - alertei - você não era assim não

- Sempre fui, você que nunca percebeu - deu de ombros - caralho, olha quem tá chegando - ela chacoalhou meu braço, apontando pra calçada

Era o Falcão, estava entrando no bar acompanhado por uma garota loira - não sabia que ele tinha fiel - comentei

Crime PerfeitoOnde histórias criam vida. Descubra agora