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JAMES GRIFFIN

— Sabe qual é o motivo de você viver deprimido? — Beatriz se colocou ao meu lado de repente, quase fazendo-me cuspir o café fumegante que eu havia acabado de bebericar.

Olhei-a depois que coloquei a caneca de vidro de porcelana na mesinha ao lado da minha cadeira, e arqueei uma das sobrancelhas não entendendo o porquê da sua interrupção ao meu momento precioso de silêncio.

— Eu não sou deprimido.

Voltei a olhar para o mar à minha frente quando minha querida irmã não falou nada a respeito da minha resposta e apenas me fitou de volta com aquele seu olhar de escanteio cheio de sarcasmo e deboche que sempre me fazia bufar por saber que, naquela cabecinha oca, continha muitas coisas idiotas das quais era doida para me falar só que não achava que valia a pena.

Eu até gostava que não falasse mesmo. Sempre que Beatriz inventava de soltar alguma das bobagens que rondavam a sua cabeça, me fazia envelhecer cada vez mais rápido, deixando-me de cabelos brancos e marcas de expressões antes da hora.

Ela tinha a brilhante mania de querer se meter na minha vida e dar alguma lição de moral da qual nem ela mesmo sabia o significado.

— O que foi, Sombra? Diz de uma vez o que você quer — perguntei sem rodeios, sabendo que estava louca para me enfezar.

— Não respondeu a minha pergunta — sentou-se na grama bem ao lado das minhas pernas, puxando as suas de encontro ao seu tórax para rodeá-las com seus braços.

— Respondi sim — retruquei não querendo prolongar muito aquele assunto.

— Não seja um idiota, James. Não dessa vez.

Cocei a nuca já me sentindo incomodado com o cabelo meio grande, peguei minha xícara novamente, sorvendo um pouco do líquido para ganhar algum tempo.

— Qual era a pergunta mesmo? — Cerrei a testa como se estivesse mesmo esquecido ou sequer escutado o que falou.

Deu um chute fraco na minha canela.
— Não se faça de desentendido, Pernalonga.

— Tá, beleza — murmurei a contragosto — Então... qual é o motivo de eu sempre estar deprimido?

Demorou a falar, olhando-me até roubar a caneca de minhas mãos e dar um gole lento.

Respirou fundo antes de voltar a falar:

— Porque está sempre afastando as pessoas que se importam com você da sua vida. Tem medo do amor e de amar as pessoas à sua volta porque não sabe lidar com a sua dor. Mas sabe de uma coisa, James? — Não respondi, fiquei encarando o horizonte apenas esperando que continuasse. Apontou para a porta da nossa casa. Mia dormia tranquilamente na rede da varanda, com John Paul, o urso que Valerim deu a ela há alguns anos, agarrado nos seus braços. — Ela também perdeu alguém importante, alguém essencial na sua vida e ela só tem quatro anos! Aquela garotinha precisa de você. Nós precisamos. Está deixando o tempo passar bem diante dos seus olhos questionando como deveria seguir os próximos passos ao invés de vivê-lo de verdade.

Pude notar os seus olhos marejados quando voltei a fitá-la, o nariz avermelhado por conta do esforço que fazia para não sucumbir às lágrimas.

ℰ𝓈𝒸𝑜𝓁𝒽𝒶 𝒞𝑒𝓇𝓉𝒶Onde histórias criam vida. Descubra agora