Love Only

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Priscila Caliari

Já se passava dos oito meses que eu visitava aquele quarto diariamente. Era destruidor entrar naquele lá todos os dias e me deparar com Carolyna naquele estado, imóvel, deitada naquela cama, sem reação alguma. Me aproximei da cama e me sentei em uma cadeira ao lado. Segurei a mão de Carolyna reparando nas unhas pintadas de azul claro, aquilo com certeza era coisa da Sofi.

Olhei para o rosto da mulher deitada a minha frente, os olhos fechados, o rosto sereno, completamente mergulhada em um sono profundo. A boca levemente roxa, a pele mais pálida, mas a mão dela ainda era a mão dela. Não segurava a minha com a mesma força de antes, mas eu podia entrelaça-la e ficar ali por horas esperando por uma reação da minha pequena Lyna. Era ela ali, sem reação alguma, mas ainda era ela.

A oito meses atrás nós estávamos em um dia comum como todos os outros. Hotéis, aviões, arenas, shows. Carolyna estava em turnê e eu a estava acompanhando junto com nossos três filhos, Sofia, Gabriel, e o pequeno Lucca. Lucca era o mais novo membro da familia. Na época ele estava com um pouco mais de um mês.

Eu amava apoia-la no que fazia, era o que
Carolyna amava fazer e eu estava lá no camarote junto com minha família e a dela quando tudo aconteceu. O dia estava chuvoso e o palco levemente molhado.
Carolyna estava performando quando simplesmente escorregou e caiu para fora do palco. Indiscutivelmente o pior momento da minha vida. Ela bateu a cabeça muito forte, se machucou. Só me lembro de querer chegar perto dela e não poder.

Eu achei que tudo acabaria ali, mas Carolyna ainda respirava. Eu sentia dor, achei que fosse morrer antes de saber se ela ficaria bem ou não. Era como se estivessem tirando todos os meus órgãos com as mãos, eu sentia náusea, sentia que meus olhos fossem explodir de tantas lágrimas.

Não conseguia ficar parada. Eu queria ficar perto dela. Eu não estava perto dela quando aconteceu, não pude protege-la.
Percebi que a vida nem sempre é romântica. Às vezes é realista. Às vezes as coisas não dão certo do jeito que gostaríamos.

Algumas pessoas disseram que Carolyna passou uns cinco minutos acordada depois que caiu, mas ela não conseguia falar, apenas procurava algo com o olhar. Eu não estava lá, não consegui chegar perto dela a tempo. Logo a tiraram de la e levaram para um hospital. O resultado foi um traumatismo craniano seguido de um coma profundo. A oito meses que não ouço a voz dela, que não a beijo, que não vejo os olhos dela. Eu sentia tanta saudade. Era horrível ficar perto dela sem poder agarra-la como antes, sem poder brincar e correr com nossos filhos como fazíamos antes. Sentia saudades de ficar acordada com ela de madrugada enquanto ela amamentava Lucca. Ele estava com nove meses e ela não estava vendo ele crescer. Era tudo que Carolyna tanto queria. Não havia um único dia em que eu não chorasse e pedia a
Deus para que Carolyna tivesse uma reação. Já perdi as contas de quantas vezes os médicos me disseram para desistir dela, mas eu não conseguia, eu sentia que ela estava ali, sentia que de alguma forma Carolyna precisava que eu estivesse ao lado dela.

Eu sentia que se desistisse eu estaria a matando, e eu ainda tinha esperança de que ela voltasse. E eu não desistiria dela.
Não existia coisa pior do que esperar.
Nada apertava mais do que a ansiedade abraçando todos os centímetros do meu corpo e me fazendo prever o minuto seguinte, que de curto não tem nada. O tempo pesa para quem espera, e sendo assim eu estava sofrendo, com essa sensação ridícula de não sei fazer outra coisa, apenas esperar por ela.

- Ei... - Olhei para a porta do quarto e sorri vendo minha filha entrar com seu irmãozinho no colo. Estava linda. Se parecia tanto comigo na adolescência.
Sofia estava com 20 anos, estava entrando em sua fase adulta. Como ela resolveu que queria ser atriz, foi obrigada a crescer rápido demais. Como eu também fui quando era mais nova, e isso foi o que fez eu ter uma vida difícil. Mas Sofia tinha Carolyna e eu, e nós sempre lembrávamos a ela das decisões erradas que tomei na adolescência, para que ela não fizesse o mesmo. Sofia era um anjo na minha vida. Me dava todo apoio do mundo. Também sofria por ver a mãe dela naquele estado, mas fazia de tudo para se manter firme perto de mim. - Você ja se alimentou? - Perguntou e eu me levantei para abraca-la.

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