07 - ELA PERDEU O TESÃO POR COCAÍNA E COMBATE AO CRIME

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Um show no High Tower Bar, era pra ser blues. Mona estava aguardando o resto da banda chegar, sentada num banquinho com seu baixo apoiado na coxa. Eram oito da noite, mais ou menos, e ela estava um pouco alta de cerveja e vermute, alegre, por assim dizer. Piscava constantemente e ficava de olho na porta. A banda era pequena, só havia mais um banquinho, devia ser do violonista ou do guitarrista, ou o que fosse.

A noite subia tons rápidos. A plateia estava bem cheia, pelo menos umas 200 pessoas, era um bar pequeno então 200 parecia o estádio do Maracanã, lembrava de ter visitado o Maracanã em 2045 numa turnê com sua banda pelo Brasil, e a sensação de densidade demográfica daquele estádio era parecida com a sensação que tinha naquele bar. Afinava seu baixo e testava o tom, iria tocar blues, o que seria muito difícil, pois era o gênero que menos tocava, mas seus poderes facilitariam para que nunca errasse uma única nota.

O anúncio era simples, mas chamou a atenção de muitos moradores próximos, amantes de blues e de jazz e outras pessoas mais. Estava num ambiente calmo, diferente do que estava acostumada, iria tocar músicas mais suaves e menos agitadas. Chegou finalmente o músico principal, e todos começaram a gritar e a abrir espaço para ele, um homem acendeu um cigarro para ele enquanto ele caminhava, parecia uma lenda ambulante.

Ele subiu no palco com um violão preto com manchas marrons em forma de "bife" nas laterais, o braço era de um branco forte e as cordas praticamente piscavam naquelas luzes firmes e avermelhadas do bar. Era um homem negro de pelo menos 1,75m, magro, usava um terno preto com aspecto de grafite, camisa branca plissada com uma gravata marrom com textura abrasiva e um chapéu feltro preto com bordas vermelhas. Os olhos escuros e o rosto sem barba ou bigode. Uma face de estímulo, parecia uma versão jovem e magra do ator Keith David, de Eles Vivem (1988).

Ele se sentou no banco e pegou seu violão. Puxou algumas notas suaves das cordas, uma daquelas aberturas de músicas curtas mas com uma letra que promete ser dolorida. Mona acompanha ele dando alguns toques leves, seguindo as notas conforme o som ia se espalhando, ele começou a mexer as cordas de uma certa maneira e então começou a cantar.

Meu bem! As coisas vão... vão ficar bem... por favor, não chore mais...

Uma nota entra, outra sai. Uma ideia começa, outra termina.

Meu amor! Já te disseram... os ventos sopram fora nossa dor...

Mona improvisa uma nota entre outras da linha, se destaca e percebe que isso distrai o cantor e violonista. Ela repete e solta um riso, ele pulsa um pouco mas continua a tocar, volta para o riff primário e vai puxando a voz para entrar na hora certa.

Caminhemos em passos rasos pelos rios da grande flor...

Ela puxou outra nota diferente, dessa vez, ele ficou irritado mesmo, sentia uma energia negativa enquanto ele soltava o som. Soltou um riso leve, o público olhava aquilo com desdém, percebiam ela sabotando o blues, sabotando a lenda do blues, era o que ela pensava. Quem era diabos essa lenda do blues a qual estava tocando junto?

Não beberemos essa noite... como não beberemos em outras. Pureza das almas...

Enquanto ele tocava, Mona deixou escapar um arroto de vermute que viajou pelo palco e alcançou o violonista, ele ficou severamente bravo, perdeu um pouco da postura e uma nota saiu errada, nesse instante, alguém da plateia fez uma vaia de "aaahhh" e logo as pessoas começaram a se dispersar. Se pudesse dar um exemplo do heavy metal, seria o dia em que o Kiko Loureiro tocou em andamento diferente do David Mustaine num show ao vivo do Megadeth.

CAPITÃ PUNKOnde histórias criam vida. Descubra agora