11 - UMA CAVIDADE NA BOCA DO CÉREBRO FODIDO

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2050

Era começo do ano, o primeiro de janeiro. O ano novo, finalmente.

O apartamento estava estranhamente limpo, nenhuma sujeira, nenhuma bituca de cigarro, nenhum aroma de maconha, nenhuma caixa de pizza e de comida chinesa, nenhuma garrafa de bebida espalhada, nenhuma mancha de porra no tapete, nenhuma comida estragada pelos cantos, nenhuma louça na pia, e nenhum objeto fora do lugar.

Horas de limpeza, e mesmo assim, Mona estava ajoelhada no chão de short azul e camisa branca do Pink Floyd, torcendo um pano que escorria seu líquido num balde, um dos muitos baldes que estava usando para higienizar a casa. Estava tocando Sabbra Cadabra do Black Sabbath nas caixas de som, ligadas pela IA central da casa. As janelas estavam brilhando e os livros do Prey estavam ajeitados por ordem alfabética na estante próxima do quarto deles.

Uma euforia misturada com angústia tomava conta da mente e do coração dela. Seu baixo estava guardado em seu quarto, onde ninguém pudesse ver. Ela não era baixista de lugar nenhum, nunca foi baixista, ela era uma simples e normal atendente de mercado. Qual mercado? Qualquer um, era uma mentira válida, mesmo que colocando em risco sua postura constante de poder e autonomia apropriada.

Mudou a música para Hangar 18 do Megadeth, sentiu vontade de acompanhar o ritmo dela com o baixo, mas não podia haver evidências de sua vida como baixista por aquela casa, tanto que pediu para Ronin guardar por um dia só seus amplificadores e pedais. Pensava em guardar no cabelo, mas já estava ocupado com todos os seus diversos álbuns LP das mais diversas bandas possíveis dela e de Prey. Ela não podia saber também que tocou baixo com ele na antiga banda deles, se bem que haviam grandes chances dela ter os visto na TV no passado.

Não importava, o que contava no momento era a mentira. A mentira antes de tudo, a mentira meramente feita para dar a impressão de uma perfeição distinta. Limpou sobre o hack da TV e ajeitou seu "Playstation 7" e seu "XBOX XXX" de volta aos seus lugares. Ajeitou a coluna e pôs tênis que poderiam soar decentes. Seu telefone estava tocando... a música mudou para Nervous Breakdown do Black Flag.

- Alô? -

- Oi, é a Boca Suja! Cê me ajuda com um probleminha? É que uns ciborgues roubaram meu carro. Me ajuda! Me ajuda! Me ajuda! -

- Tá! Tá... tenho tempo ainda... -

- Ebaahhh!! -

Duas horas e meia depois, Mona estava voltando para casa carregando o dorso sem cabeça cheio de fios e peças biônicas soltas do que antes era um ciberpsicopata como poucos. Estava tocando nos seus fones automáticos Static Age do Misfits. Subiu sua rua com o corpo todo dolorido e as mãos cheias de calos. Passou na frente de casa e viu uma picape vermelha estacionada... só podia ser ela. A música mudou para Shimmy do System of a Down.

Subiu as escadas com louvor, aquele dorso deixou de ser pesado após alguns vários minutos caminhando com ele em seus braços. Foi difícil enfrentar os ciborgues sem seu baixo, foi cada movimento e estratégia em pleno ar que nem vale a pena descrever muito. Estava chegando em sua porta e ouviu a música Break on Through do The Doors. Entrando finalmente, depositou o dorso ao lado da porta e se virou para a pessoa sentada no sofá. Respirou, o nervosismo subiu, talvez devesse ter fumado unzinho para aliviar a tensão, mas não fez. Queria estar limpa.

Abriu seus olhos agitados e avistou ela ao lado de Prey, ele estava estragando tudo. Olhou nos olhos um pouco sarcásticos daquela mulher e no sorriso sem espantos, então olhou em volta, e por todo o lado, seus pôsteres de punk rock e heavy metal, os seus discos de punk rock na frente do hack da sala, o toca-discos rodando suas músicas no aleatório baseado nas faixas gravadas, agora era Police Truck do Dead Kennedys.

CAPITÃ PUNKOnde histórias criam vida. Descubra agora